[Coluna Sopa de Tamanco, Abril 2016]
Havai, 2011 Era pré ataques virtuais |
Hoje tive saudade do tempo anterior ao nosso.
Um tempo onde os amigos se encontravam sem querer, dois ou três anos sem se ver, sem se falar, e ficavam verdadeiramente felizes de se encontrar novamente.
Eu sinto falta dessa sensação.
Acho que não fomos feitos para acompanhar todo e qualquer movimento que um amigo faz ou deixa de fazer.
Deveria haver um mistério em cada pessoa e uma surpresa em cada encontro.
Pode parecer papo de velho, e é papo de velho, mas acreditem, havia menos atrito.
Tenho um grande amigo, desses que voce faz festa quando esbarra e passa duas horas conversando sem perceber que o tempo passou.
Na vida toda, devo ter o encontrado umas tantas vezes, nada que justifique uma amizade profunda e celebrada, mas sempre tive grande alegria em ve-lo.
Graças as redes sociais, passei a ter contato quase diário com o camarada.
No inicio, um grande alivio poder reduzir as distancias, finalmente acompanhar o que passava por aquela cabeça arguta e atenta, primeiro pelo seu blogue, depois através de outras ferramentas.
Era bacana ter a sensação de estar mais uma vez no banco do carona, voltando do Hang Loose pro em Imbituba, discordando de quase tudo e concordando com o que restava.
Aos poucos percebi que sua participação, postagens, era bem acima do média dos outros contatos, ou seja, tínhamos ali quase uma narração em tempo real do que passava, ou não passava, pela cabeça do camarada.
Não preciso disso, pensei.
O que era antes um conforto, tornou-se fardo e voce imediatamente passa a se incomodar com aquilo.
Mesmo quando voce ainda é adolescente e mora em casa com seus pais e irmãos, não é necessário saber tanto assim o que se passa na cabeça deles, existe um filtro natural pra isso, chama-se bom senso e serve pra quem fala e pra quem escuta - substitua por quem escreve e quem le.
Por mais que voce tente se esquivar, acaba por julgar tanta informação derramada ali na sua frente, nem que seja apenas um ralo certo e errado.
A armadilha é essa, a falsa proximidade que estas situações criam e suas possíveis consequências.
De repente, voce se dá conta que talvez no proximo encontro real não se repita a festa dos últimos três ou quatro e tudo que havia pra ser dito já foi virtualmente dito, ou escrito, e os dois são atingidos por enorme enfado…
Exceto se no meio disso tudo entrar uma escapadela pra pegar onda em algum lugar remoto, sem a multidão faminta, sem os gritos, sem as disputas.
Nesse caso específico e improvável, os dois velhos amigos serão apenas isso,
dois velhos amigos.
O surfe seria apenas uma desculpa para deixar tudo de lado e ir pro mar lavar a alma - sim, eu também uso essa palavrinha tão maltratada pelos surfistas…
Dentro d’água voltamos ao que há de mais primitivo nas relações e nas reações.
E ao final de uma boa onda surfada, esquecemos tudo (os mecanismos de agressão, de defesa, as posições hierárquicas no grupo e a delimitação de território) e ao ver o amigo, estamos prontos para o abraço.
Esse é, apenas, um dos motivos que eu surfo.
Que bom te ler nessa forma tão arcaica chamada blogue!!
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