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Deus das cavadas, Andre Pitzalis |
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Turma da pesada no Pier. Ratão de chapeu |
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Cauli vendo o futuro de perto |
Fotos do blogue Lendas do surfe
A memoria do surfe guarda historias impressionantes dos primeiros eventos cariocas do circuito mundial.
Tudo começou meio por acaso quando um punhado de surfistas que competiam aqui e ali na meia duzia de campeonatos que havia no mundo resolveu que talvez fosse boa ideia parar no Rio de Janeiro no intervalo entre a temporada africana e havaiana.
Naquela epoca, o tempo tinha outro peso, não havia Facebook e as pessoas tinham horas, dias e até meses pra fazer outras coisas alem de ficar na frente do computador.
O cara viajava pra um campeonato e ficava dois, tres meses rodando o país com os amigos que fazia pelo caminho.
Em 1975 o circuito ainda era apenas uma ideia de alguns delirantes entusiastas que nada tinham de melhor pra fazer do pegar onda.
O Pier tinha sido destruido recentemente e o Arpoador voltara a ser o centro das atenções da reduzida comunidade de surfistas cariocas.
Pepe, Daniel Friedman, Bocão, Rico e Otavio Pacheco eram as grandes estrelas dos festivais nacionais de surfe e não deviam muito aos grandes da epoca em condições corriqueiras.
Quase todo surfistas shapeavam suas proprias pranchas, usavam cabelos longos e parafinados e tinham por habito comer pencas e mais pencas de bananas.
O Brasil era, como ainda é, uma fronteira desconhecida a ser explorada pelos surfistas estrangeiros.
Hollywood e Walt Disney ja tinham colocado o Rio de Janeiro no mapa com Carmem Miranda e Zé Carioca, a Bossa nova ja tinha ganho um Grammy e o mundo com sua Garota cheia de graça e o carnaval, bem, o carnaval era nosso cartão de visita.
Voce falava Rio e o gringo reagia imediatamente, Carnaval!
Nas areias do Arpoador ou do Quebra-mar ninguem se surpreendia com as vitorias brasileiras em etapas do circuito mundial de surfe.
A coisa foi mudando aos poucos, como bem percebeu Fred D’Orey num texto antigo.
O modelo seguido pelo surfista brasileiro era o havaiano enquanto os australianos dobravam a historia com um jeito novo de encarar o surfe.
Um surfista se identificou com esse jeito agressivo e altamente competitivo, Cauli Rodrigues - isso é outra historia.
Falava das espetaculares historias - e estorias- que ouvia dos caras mais velhos sobre os primeiros eventos no Rio e volto ao assunto.
Chris ‘Critta’ Byrne foi apedrejado e posto pra fora d’água em plena bateria.
Pelo menos é assim que os australianos se recordam do fato.
Paulo Rato Proença abaixando seu short e mandando um barro no jardim dum predio da Vieira Souto antes de competir para aliviar a tensão.
A famosa propaganda do cigarro Hollywood protagonizada por Andre Pitzalis com o hit do Jimmy Cliff ao fundo.
Quilhas arrancadas pela furia dos locais, quiver inteiros afanados da varanda dos quartos do hotel Arpoador Inn.
O californiano Allen Sarlo dando dois 360 e indo parar na abertura do tradicional Jornal Hoje na TV Globo.
Cada campeonato deixava vestigios duradouros na surfistada.
Fosse uma batida do Dane Kealoha de backside, uma rasgada do Joey Buran, uma prancha do Cheyne Horan, a colocação do Michel Ho nos tubos do Castelinho, os 360 do Terry Richardson, uma roupa de borracha, o jeito de passar parafina, quilhas de encaixe, duas quilhas, tres quilhas...
Aquilo batia e ficava na cabeça da garotada.
E não era apenas o evento em si mas tudo que acontecia em torno dele.
Foi numa dessas ocasiões que o Jiu-jitsu apareceu pela primeira vez para a comunidade internacional do surfe.
O contingente havaiano trouxe ao Brasil um dos seus mais temidos e gigantescos black trunks para curtir todo pó e gatas que o Rio oferecia no final da decada de 70.
Numa boba discussão por ondas, o gorilla abusou da sorte e, acostumado a intimidar surfistas com seus musculos, fincou o bico da sua prancha no fundo da prancha de um garoto muito bem relacionado.
Rickson era um menino de 16 anos, amigo do rapaz atacado, e foi com seu irmão mais velho assistir o acerto de contas com o brutamontes.
Chegando lá, foi decidido que apesar do tamanho do samoa, bastava o caçula da turma pra desmontar a marra do sujeito.
O Havaiano não botou fé no moleque e poucos minutos depois babava no chão com seu corpanzil inerte abatido por um mata-leão.
Nascia a lenda.