sábado, abril 03, 2010

diario dos Sinos IV ou V


Neco ainda é uma dos surfistas mais queridos


Descendo a rampa


Cada um dos fãs que chegam na praia ganham um desses trecos que parece uma caixa de pizza e na verdade é uma cadeira muito bem bolada para sentar na areia.


Na tela de 42' tudo fica mais nitido, pena que a rapaziada aqui não curte muito banho


Despacho V

Trouxe 8 livros, uma velha mania que não consigo deixar, levar livros que nunca vou ler.
Vai que bate a vontade ?
Peguei então O Luar e Rainha (Companhia das letras, SP, 2005) e fui la conversar com Ivan Lessa, eu ouço, ele fala.
Determinadas relações que estabelecemos com nossos escritores preferidos é de papo furado, conversa de botequim, sem botequim.
Não funciona com Tchekov ou Joyce, apesar dos dois beberem muito mais que o Lessa.
Funciona bem com Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Tom Wolfe, Bukowski, Francis, Fausto Wolff e mais meia duzia.
Lessa é insuperavel e isso é uma das minhas arbitrariedades que não abro mão.
Nem discuto por absoluta falta de conhecimento de causa.
Deixo isso pra quem le tudo e todos e tem capacidade de analisar com isenção quem domina o que nesse tapete verde que é literatura.
Ivan Lessa é filho de dois grandes, Origenes Lessa que voce leu na escola e Elsie Lessa que escreveu sem parar por toda vida.
Enquanto leio as cronicas do Lessa vou conversando com ele e fazendo meus apartes, quase sempre congratulatorios, Pô Ivan, que frase duca! ou Sacanagem, essa eu queria ter escrito seu FDP!
Grandes escritores são inevitavelmente grandes frasistas e nessa arte Ivan é um mestre.
O Luar e a Rainha é uma coleção de crônicas que Ivan Lessa escreve para o saite da BBC semanalmente.
Uma delas, chama memoria.com e data de 07/02/2001.
Começa assim

A memoria é um musculo. Musculo a ser exercitado todos os dias. Com a mesma disciplina de quem dá tres voltas no parque correndo. Ou levanta peso, faz esteira, bicicleta de pernas pro ar.
Um bom exercicio de memoria é sentir saudade. Ao sentir saudade, voce tenta reconstituir o objeto ou situação causadora do - digamos assim- ataque de nostalgia. Então mergulha no tempo e vai reconstituindo o que se passou. Como se passou. O que havia em torno. Qual a cor, o cheiro, o gosto disso e aquilo outro.


Num dos lugares restritos a imprensa e competidores, uma escada proxima do palanque, me sentei pra assistir a final feminina e a primeira bateria do evento masculino.
Do meu lado direito, Occy, o surfista que mais nostalgia desperta (junto do Curren) num sujeito de 40 anos pela primeira vez em Bells. Do lado esquerdo, Maxime, o campeão mundial junior e Gabriel Medina, o futuro.
Todos ali para Andy e Dane que estariam juntos na primeira bateria.
Mas antes, um pouco de Steph.
Perguntei ao Peter Wilson enquanto ele fotografava, Nunca houve tamanho dominio no surfe feminino, né ?
Peter balançou a cabeça como quem buscasse nos seus arquivos algo que confrontasse a afirmação.
Lisa was…começou ele, eu o interrompi antes que fosse tarde. Lisa Anderson tinha a performance muito na frente das outras, mas seu dominio competitivo demorou demais pra acontecer e não durou tanto quanto merecia.
Performance e competitividade com essa distancia do resto, nem Margo Oberg, adiantei.
O que sei eu ?
Só queria uma frase de impacto e diante dos numeros da Happy Gilmore, 4 finais nos ultimos 4 anos, tres vitorias (exceto pela Silvana no ano passado) e nada indica que vai parar de ganhar tão cedo.
Sempre achei Sofia uma excepcional surfista, mas vendo agora ao vivo e comparando com Steph, ela e todo resto ficam pra tras, bem pra tras.
Muito bem.

Andy Irons.

Não fazia ideia de quanta gente adora o tri-campeão e como esse cara mexe com a surfistada.
A cada onda surfada, Maxime e Medina vibravam como garotos que são, enquanto Medina ensinava portugues ao atual campeão mundial pro junior, Viado, Pedê, viadinho, petit pedê...
Occy e um pequeno grupo de empolgados aussies, repetiam, Andy's back, Andy's back, Andy's back…
Dane estava completamente perdido com sua 5'8'' MTF, até uma onda oferecer espaço para um aereo tão alto e sob controle que subitamente tudo fazia sentido. Dane sumiu na espuma por um tempo que parecia uma eternidade e apareceu gloriosamente de pé por uma fração de segundo.
Andy, logo atras (e ele confessou ter visto o voo do Dane de rabo de olho), fez a manobra do campeonato até agora, vejam no heat on demand, por favor. A pequena torcida foi a loucura. Os amigos do Occy enviavam freneticamente mensagens de texto nos telefones.
Um deles, provavel um jornalista, sentenciou, Essa é a ressurreição. Vou chamar de bateria da ressurreição.
Stedman entro na agua na disputa seguinte e todos, sem exceção, viramos de costas para o mar num silencioso protesto.
Contei que Damien Hardman não queria colocar as baterias na água ontem ?
Pois sim, conto ja.
Damien e toda comissão tecnica ja tinha decidido que não haveria campeonato quando Andy e Dane chegaram e disseram, Bixo, queremos surfar.
Debateram por alguns minutos e a decisão foi tomada.
Renato Hickel falou que era uma pessíma decisão dos surfistas e que em breve eles teriam que interromper o evento porque a maré estava enchendo, as ondas ficariam uma merda e tal.
Fomos até a decima bateria.
Apenas os irmão Hobgoods não queriam surfar.
Os dois perderam.
Certas coisas não mudam jamais.
Slater, Fanning, Joel, Mineiro e AI mandaram no jogo.
Por que se preocupar com o resto ?