[Tempestade # 175 - Surf Portugal - Junho 2007]
Óia véio, os caras quebram a cabeça pra escrever as legendas, cheias de sacanagem- quem se importa ?
Quando o estimado leitor estiver confortavelmente sentado na sua poltrona predileta deleitando-se com esta nova revista, Mick Fanning terá aberto uma bela vantagem na corrida pelo caneco em 2007.
O macaco albino tem levado esse ano a sério – ou vai ou racha.
Indo, não fez mais que sua obrigação, rachando, adia a data tão almejada pela turma da Rip Curl para comemorar o título que lhe foge desde 91.
A briga, diga-se de passagem, foi sendo reduzida aos poucos para duas marcas: Billabong e Quiksilver.
O resto espreita e nada mais.
Desde 92 as duas revezam no topo do ranking, fora Derek, Sunny e C.J., dois deles acidentes de percurso.
Mas não era de surfe corporativo que esse texto deveria falar, versava sobre o camarada que tem um primeiro, um segundo e um terceiro nas tres primeiras etapas do ‘CT desse ano.
Me apresso em pedir desculpas ao leitor mais afoito, antes de tecer loas ao Fanning preciso desabafar sobre a entrevista do vice campeão em Teahupoo, ainda molhado, logo em seguida a final.
Aqui entra o Fanning, sobre seu fabuloso ano de resultados ainda mais fabulosos e estratégias de competição: Sim (toda entrevista começa com um inevitável ‘yeah’), estou mais relaxado esse ano, me divertindo mais e tudo está dando certo.
Mentira, mentira e mentira.
O sujeito chegou no Tahiti quase um mês antes de todo mundo para treinar e aperfeiçoar seu ponto fraco que todos sabem, esquerdas como Teahupoo.
Até aqui nada demais, até um tablete de parafina usado sabia disso, assim como sabe que Slater chega sempre em cima da hora, de preferência sem ter surfado nas últimas semanas, sem prancha, com rumores de novas e famosíssimas namoradas.
Com Slater e Andy bufando no cangote, relaxar é uma situação pouco provável – e nada confortável- para nosso amigo Eugene e suas múltiplas personalidades.
Mira, usted quieres o no quieres el autografo del macaco albino de la tierra del Oz ? no lo creo en brujas, pero que las hay...
Quem para tudo, trabalho, estudo, até mesmo sai d’água num mar perfeito para assistir, nariz colado no monitor, ao WCTs e o rosto resoluto do Fanning the Fire antes e depois de cada bateria, em nenhum segundo houve espaço para brincadeira.
Em algum momento da história do surfe competitivo, provavelmente no final dos abomináveis 80 (aqui, e sempre, ironizo a turma que amargamente deplora os 80, na sua maioria malandros que viveram ali seu inferninho particular e culpam a década por tudo que não conseguiram entender), iniciou-se um discurso que seria o mantra do surfe profissional dali por diante: Estou me divertindo como nunca, tenho meus amigos aqui ao lado e sou o camarada mais feliz do mundo.
Jack McCoy, o mais astuto e talentoso diretor de filmes de surfe de todos tempos, percebeu o jogo de palavras da garotada e lançou um filme, fundamental (vide resenha – McCoy box-SP…), chamado ‘Sons of fun’, expondo pela primeira vez a tão bem resolvida nova geração às trevas da frustração, documentando Ross Willians e Shane Dorian, sempre tão sorridentes nos vídeos pop do Taylor Steele, na mais absoluta miséria quando perdiam uma mera bateria do WQS e pior! Disputando migalhas para ver quem ficava em terceiro e quarto numa disputa que os dois já tinham perdido definitivamente.
Enquanto o segundo pelotão versava sobre diversão e felicidade, Slater botava todo mundo no bolso com o mesmo olhar do Fanning em 2007: concentrado.
Slater não aturava perder nem no par ou ímpar mas dissimulava bem sua ansiedade sorrindo seu sorriso milionário e limpando os campeonatos da ASP de cabo a rabo.
Andy não engoliu essa de amizade e diversão, meteu o pé na porta, fingiu ser feliz tambem e ganhou 3 títulos mundiais.
No caminho dos tri, posso apostar minha swallow seis canaletas que se houve algum momento de verdadeira diversão na vida de Andy Irons (não vamos confundir aqui com alívio), foi quando ele saiu de mãos para cima daquele tubo no backdoor com toda certeza do mundo que tinha virado a bateria mais empolgante de toda história do surfe.
Andy se divertiu.
Fanning, por outro lado, deve ter pesadelos com retomadas avassaladoras dos dois animas competitivos que são Slater e Andy, que tambem não estão achando graça nenhuma nos seus terceiros, segundos e quintos.
Oo Taylor, voce não disse que hoje tava uns 3 ou 4 pézinhos ?
O surfe profissional ganharia muito se houvesse um pouco mais de honestidade no discurso dos surfistas.
Sabemos por terceiros que Mick Fanning torce descarademente pelo seu amigo Andy e contra Slater quando não tem chances de vencer coisa nenhuma.
Sabemos que Parko acha todo mundo pior que ele e que, mais dia menos dia, o caneco será seu.
Sabemos que Chris Ward se acha infinitamente superior aos outros 40 da lista mas é psicologicamente incapaz de transformar seu talento em resultado.
Sabemos que Bruce sequer considera os outros a altura de compara-los ao seu enorme talento.
Ora bolas, até Josh Kerr acha isso.
A ASP, na ânsia de ter o surfe aceito como esporte de massa doutrina seus competidores com um discurso políticamente correto irritante e repetitivo aproximando o surfe de uma brincadeira infanto juvenil ao invés de incentivar a velha e boa rivalidade ‘pega pra capar’ dos anos 80.
Mick Fanning, se não abrir seus olhos e assumir que em 20007 é o ano da sua vida e que não há folga para quem quiser destronar os dois homens que tem juntos 11 anos de domínio será atropelado pelo seu próprio discurso.
Seja qual o esporte for, quando o dinheiro está envolvido, e as chamas da vaidade acessas, não há escapatória: o espírito fica embotado pelas vicissitudes que o mundo material acarreta. Pense e dance!!!!
ResponderExcluirSe Fanning chegar na perna havaiana, pouco a frente, empatado ou atrás de Kelly e Andy, ou um dos dois, pode esquecer e se preocupar com o ano que vêm.
ResponderExcluirDurante a etapa em Sunset ano passado na bateria da semifinal de Andy, se não me engano, Shaun Tomson disse textualmente na transmissão, eu ouvi palavra por palavra:
"O surfista que quiser ser campeão mundial não pode chegar abaixo de 5 lugar nas etapas..."
Aí está o handicap de Fanning. E se acreditar neste discurso medíocre de diversão (prato principal da australianada sempre sorridente...) perde isto...
RELAXE E GOZE MICK ...
ResponderExcluirASS: Marta Suplicy
aê, podes crer, anos 80 foram de muita fosflorecência e muita viadagem mas também, como disse o autor, era um pega pra capar geral nas baterias, não tinha frescura apesar de alguns frescos e coloridos surfistas(!)e suas frasqueiras(...)reluzentes...Pense mas não dance!
ResponderExcluirFlorival Ortigão
Certa vez vi uma entrevista com o manager da Rip curl, falando especificamente sobre o Raoni e seus resultados crescentes pre-contusao. Eles realmente fazem uma preparação profissional com os atletas e almejam sim voltar ao posto mais alto do surfe profissional.
ResponderExcluirIsso se reflete nessa preparação que Eugene tem feito em cada etapa e é traduzido em resultados.
Ou vai ou Racha -como disse o Goiaba mor.
Se pegarmos os ultimos 12 meses de resultados, o macaco albino seria o campeão mundial com performance digna do cramulho . Umas tres ou quatro vitorias, mais umas outras tres finais, e semi-finais completando o quadro.
Resultado iria ser comemorado pelos Ozzies como final de copa do mundo, atraves de seu combatente mais aplicado.
Merecido.
Surf é pegar onda e mais nada.
ResponderExcluirQualquer dia, a ASP vira FIFA e será (já é) um negócio.
Pode ser o mais concentrado e mesmo o mais merecedor ("surfisticamente" falando), mas para mim um Campeão nunca pode ser alguem que empurra e diz "Fuck off" a dois miudos de 8 anos quando eles apenas pedem para ver a sua prancha... Nem pode ser alguém que rouba ondas como eu nunca vi ninguém roubar e que depois ainda goza, mesmo que seja na sua Snapper Rocks... Eu vi ambas as situações, a segunda então dezenas de vezes...
ResponderExcluirPara mim um Campeão, seja de que desporto for, tem que ser mais do que ser o melhor. Deve ser um exemplo e um embaixador.
O Fanning até pode ganhar o caneco mas para mim nunca será o Campeão...
Infelizmente o talento não anda de mãos dadas com sabedoria, civilidade, bom comportamento; talvez, seja justamente o oposto, pelo temperamento e desprezo das regras de convivência humana. O fora-de-série - elevado a categoria de semideus, reage à vida, diferentemente dos pobres mortais. Se o Slater consegue esconder a sua "sombra", mais que os outros, realmente o torna mais humano, embora esteja ainda muito distante de se tornar uma pessoa "perfeita" ; Afinal: "tudo que é humano, não me é estranho"
ResponderExcluirComo se enrola a língua e se entorta as letras por essas bandas, heim?
ResponderExcluirO negócio é simples... Ninguém entre os tops se diverte, concordo. Mas que o cara é favorito, isso é... não tenha dúvida...
Abs
Mick Red neck
ResponderExcluircabeça white hat
vai levar o caneco lek
Parko ta a passeio
surfa bonito, compete feio
se acha que leva é devaneio.
Andy quer se casar
double grab na Lindie e foi p/ altar
depois da lua de mel volta a esmerilhar
Na baía de Jeferson Taj fez arte
dando aéreo é um show a parte
mas p/ levar esse ano se complica no descarte.
com carlos não me engano
esse não é pé de pano
se esse ano entrar pelo cano
ainda assim fica no foamball.
Grande Julinho... Exato como sempre!!! Se o Fanning quiser levantar esse caneco, acho bom ele fazer isso no máximo até o WCT do Brasil...
ResponderExcluirSe ele depender de resultado melhor do que os do kelly e do Andy, aí a coisa pode ficar meio difícil... Surf ele tem, mas a pressão dos havaianos convidados, dos havaianos espectadores, somados ao conhecimento dos seus oponentes, pode tornar a tarefa enjoada. É bem mais fácil garantir o título em águas brasileiras... Vamos torcer para rolarem boas ondas e pouco vento... O local certo seria Guarda do Embaú vc concorda???
forte abraço,
R.O.
Apesar de menos constantes, para a tristeza de seus ávidos fãs, os sinais de fumaça na terra de Goiabada continuam sendo um oásis na mídia opinativa do surfe tupiniquim (se isto existisse, lógico). Numa votação de melhores posts, este "Aterciopelado" estaria entre os finalistas, até os comentários se superaram..
ResponderExcluirUma contradição dessa estória de surfe competitivo, é que agora que o público é maior, as ondas do circuito melhores, a evolução tecnológica e as mídias alternativas permitiram escapar da ditadura das grandes empresas de comunicação, mais países estão representados no circuito, eles ficam com essa hipocrisia de "having fun", misturando publicidade corporativa com discursos politicamente corretos, enquanto que a explicitação da competitividade sincera e autêntica, sem exageros, poderia causar uma verdadeira comoção nos apreciadores do salgado esporte dos reis polinésios.. pior para todos...
Esse discurso de que esta mais relaxado este ano e que tem tudo dado certo é do proprio cramulho, so que com ele deu certo mesmo. Oito vezes.
ResponderExcluirAgora os juízes tem replay instantaneo das ondas surfadas. Nao é a toa que o julgamento me pareceu mais justo que de costume. Dean preto morison pagou de palhaço ao nao aceitar sua justa derrota para o careca. Agora quero ver o Hickel multa-lo.
O macaco albino deu uma peidada na farofa na bateria com o Taj, até acho que o surf do mick se encaixa melhor nas ondas de jbay com seus longos arcos de spray, mas o Taj levou facil a bateria. O albino passou tempo demais com a mamae no chile, deve sofrer de edipo. Dificil mesmo foi a bateria contra o parko...
O fandangos nao tem postura de um verdadeiro campeão, esta longe de ser um gentleman como o kelly, que é malandro, mas nao creio que seja mal-educado. Nao acho que o slater nem ninguém conseguiria "esconder" um lado sombra durante decadas de competições profissionais. O andy nao fica nem 5 minutos sem uma demonstração de arrogancia, algumas vezes é até engraçado, como a do caso do vitinho em arica tamanha a superioridade de prancha no pé, mas sempre com seus ataques chiliquentos quando perde uma bateria. Pelo menos tem personalidade e nao fica no discursinho de bons amigos. Parko também solta o verbo sobre rivalidade, no blue horizon isso fica bem claro. Bruce parece só conseguir surfar bem quando o mar ta clássico, apeser de ser talvez o que mais saca de tubo no tour, sempre descola alguma cortina, nem que seja um chapeuzinho numa onda gorda. O surf do chris ward é lento pra chuchu. Mas é um dos melhores canudeiros dis costa pra onda, consegue ate acelerar com a borda na mão.
Local certo pro ct seria o Rio de Janeiro, melhor ainda na Prainha do indio fura-olho:
http://waves.terra.com.br/novo/layout4.asp?id=26655&sessao=novidade
Um viva para o surf carioca e a terra de ninguém que é grumari com seu salva-vidas surfista que tem porte de arma e discute com malandros em opalão de vidro escuro sobre quem encarou quem primeiro! Fui embora antes de sobrar azeitona pro meu lado e ser notícia no rjtv...
Poesia e tudo por aqui. Legal.
ResponderExcluirConcordo com o profeta e a turma ai de cima.
Aprendi com tio Juio a apreciar a atitude mais raçuda e "politicamente incorreta" (arg!) que os caras que querem realmente vencer tem. Fera que é fera e quer ganha nãõ tem como ficar sorrindo o tempo todo pra todo mundo.
Hoje acho legal ver Andy e cia trincando os dentes (de raiva, não de...deixa pra lá) nas baterias. Isso é sinal de competitividade, não faz mal a ninguém. Mas continuo achando o cara um babaca.
E "escondendo a sombra" melhor que os outros, ou não, sou mais o Carlos - como competidor, ser humano e surfista. Hoje, antes e sempre.
abs!
Cuidado com a prepote
ResponderExcluirência
Prepotente — Sujeito cheio de conversa mas que, na hora H...
ResponderExcluirMe referi a Guarda do Embaú, como local certo para o WCT Brasil, tem em vista que os organizadores são do sul...patatí-patatá...
ResponderExcluirPor certo, seguindo-se o conceito de Dream Tour, aí Saquarema em Maio/junho é o nome do Pico.
Quem perde é o surf.
R.O.
Sombra? Todos nós carregamos: a grande diferença é saber conter os excessos, e evitar que os arquétipos irracionais que residem dentro de nós, saiam para passear, sem se importar com as conseqüências...Ser High Voltage e Sereno, ao mesmo tempo, é para poucos. Se citarem Tom Curren, p. ex., lembrem do passeio ao Inferno abraçado com a Dona Cachaça...É preciso ter cuidado com a contrapartida.
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