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Fotos do Felipe Casteja emprestadas do Facebook do seu grande amigo Jacques Nery |
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Lendaria equipe Wrangler. Felipe era companheiro de outro surfista excepcional, André Pitzalis |
(Coluna Tempestade em Copo d'água, Revista Surf Portugal e Sopa de Tamanco na Revista Hardcore, Janeiro 2011)
Andy chegou meio desconfiado naquele ambiente celestial demais pro que esperava.
Movendo-se rapidamente, Dora apareceu na sua frente, sobretudo em cima da bermuda, bigode ralo e barba por fazer.
O que posso fazer por voce garoto ?
Andy não sabia o que dizer.
Dora estava acostumado com quem chegava antes da hora, sempre indecisos e confusos, pouco desenvoltura para o que ele chama de ‘supremo momento de liberdade’.
Relogio, jóias, 50 % duma mina de diamantes na Namibia que comprei em 1984, um livro autografado pelo Heminghway, maços de marlboro, bebida forte. O que voce quiser, eu consigo garoto. Qual sua droga ?
Andy sentiu vergonha, achou por escolher a mina na Namibia e um paco de cigarro.
Dora piscou para Butch, logo atras, sorrindo e fazendo sinais de aprovação com a cabeça, abraçado com uma garrafa de uísque - volta em meia hora Butchie, disse ele.
Petit e Gironso rondavam por ali, atentos com a malandragem dos coroas, nunca era tarde para aprender um novo truque.
Simmons, sempre emburrado, bolava um jeito genial de sair dali, Jose Angel acendia um charuto a sacaneava o matuto sem pena- agora fudeu russo! Tem mais jeito não, relaxa, pô!
Foi quando tocaram as trombetas.
E as trombetas soavam apenas em ocasiões especiais.
Chegava um principe, um verdadeiro principe.
Pelos reis, muitas vezes as trombetas nem tocavam. Reis morriam velhos, tinham tempo demais para estragar sua reputação.
Reis traziam muita morte, cobiça, traição - Reis eram gordos e feios.
Principes eram jovens, muitas vezes ainda bem apessoados, quase sempre elegantes.
Ouviu-se uma salva de palmas, discretos gritos, entrou Phelipe de casteja.
Dora sabia que não podia com ele, afinal de contas era carioca da gema, criado na praia, malandro.
Pepe e Andre Pitzlalis o receberam com o entusiasmo de sempre, Meu camarada!
Paulo Tendas, lepido e fagueiro, apressou-se para reunir-se ao pequeno grupo que se formava.
Nilton Barbosa apareceu do nada com uns cromos na mão, Felipe, ja viu essas daqui ?
Muitos ali se perguntavam o porque das regalias daquele sujeito tão simples e sorridente.
Andy não teve uma chegada destas.
Philipe é dum tempo diferente.
Australianos tinham Mark Richards, Cheyne Horan, Richard Cram.
Nós tínhamos Felipe Casteja.
Para o garoto de 13 anos, Felipe era MR, Horan e Crammy, tudo ao mesmo tempo.
As poucas vezes que aparecia no Quebra-mar era pra dar seu show de back-side, uma aula pratica de como atacar a onda com o maximo de velocidade e pressão - com um estilo de deitar na areia e chorar de inveja.
A equipe Wrangler na quebrada dos anos 80 era puro estilo, Casteja e Pitzalis.
Pranchas azuis, novíssimas triquilhas shapeadas com maestria pelo Dardal voavam...
Arpoador, Joaquina ou Saquarema.
Ubatuba, Buzios, Cabo-frio...
No primeiro Festival Olimpikus de surfe, 1982, Casteja ficou em 4º, aquilo era uma verdadeira guerra.
Fosse com as biquilhas do Victor Vasconcelos, stingers do Henrich ou as triquilhas da cartinha no bico, Felipe era o cara que achavamos com surfe pra fazer frente ao gringos, como Fred e Picuruta.
O surfe do Felipe era vistoso, dava gosto de ver.
E ao contrário da maioria das estrelas do surfe nos anos 80, Felipe era simpatico, alegre. Tínhamos a nitida impressão que aquele monstro do surfe poderia aceitar facilmente um convite para almoçar na sua casa sem causar maiores danos.
Era como convidar um principe.
Fosse Casteja australiano, americano ou sul-africano, existiria um culto silencioso e devotado ao personagem que seria cantado e contado sempre que gente boa se reunisse para falar de surfe.
Olimpo
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Felipe foi um dos surfistas mais influentes da sua geração |
Mark Foo, Todd Cheeser, Malik e Donnie Salomon curvavam-se diante da fugura tão honrada.
Dale Velzy correu para apertar-lhe a mão e dar boas vindas.
Ronnie Burns e Marvin Foster colocaram, cada um, um colar de leis em volta do pescoço do Phelipe - Rell Sun, a deusa maior do surfe, lhe coroou com Pua Kalaunu e beijou-lhe a testa respeitosamente.
Lá por baixo, no Arpoador, seus amigos e admiradores o homenageavam numa bela cerimonia de até logo.
No exato momento do minuto de silencio no calçadão, um menino perguntou ao pai, Pai, cade o Felipe ?
Sem olhar pro mar, sorrindo um sorriso candido que temos somente para as crianças, apontei pro horizonte.