quarta-feira, novembro 09, 2005

Crônica de uma derrota Anunciada



Pouco se falou sobre a derrota do Victor Ribas para Damião.
Fácil de entender que o sétimo título do Rei Slator ofusca até o brilho do sol, difícil engolir a mão grande que usurpou o caneco do nosso Gambázinho.
O histórico do Vitinho já apontava uma certa má vontade dos juízes para soltarem notas, principalmente os juízes brasileiros, por mais absurdo que possa parecer.
Foi o caso do Kaiser Summer surf de 1997, quando Greg Emslie virou uma bateria ganha em cima do Vitinho e deixou a praia inteira frustrada.
Vitinho é baixinho, calado e moreno demais para detonar o ufanismo que a malta da ASP gostaria de defender.
As pedras que ele atirou (e que não construíram castelo algum) na etapa de Maldivas depois de mais um julgamento equivocado não ajudou muito sua reputação.
Cordial na maioria das vezes, Victor nem reclamou de perder para Róbinhúdi Esquerdo e saiu de fininho junto da galera para comemorar o sétimo do Rei Slator.
Imaginemos o Michael Schumacher ganhando o sétimo dele aqui no Bananão e o Rubinho chegando injustamente em segundo no GP.
Galvão, incendiário, tomaria as dores da nação, sem sombra de dúvida, bradando suas impropriedades sem pensar.
Nenhuma fotinho do Rubinho nos jornais no dia seguinte ?
Difícil crer...
Importante é encher linguiça com informações requentadas, diz o manual.
Brasileiros são apenas necessários quando estórias tristes de superação e Vitinho fala pouco.
No jantar que vai oferecer ao Hog Hedge, R.K.S poderia convidar Ribas para um brinde, afinal foi em 1990, logo após o mundial amador do Japão que o menino de ouro da Praia do Forte entregou ao menino de ouro de Cocoa, de mão beijada, uma bateria fundamental na carreira do maior surfista de todos tempos.



Crime do século

Lacanau, França, Curren fazendo mágica por todo canto com sua Maurice Cole meia-zero de isopor.
Era pré-WQS/WCT, quem quisesse entrar no campeonato, entrava.
Até eu entrei, vejam voces - levei dez pranchas para pagar a viagem.
Tinha tanta gente no primeiro evento da maravilhosa perna européia que a ASP decidiu fazer uma pré-triagem.
Slater, Peterson com 15 anos!, Renan e Jake Paterson estavam na tal da pré-triagem, suando a camiseta pra chegar, 2 fases depois, na triagem - e daí mais umas 5 até o 'main-event'.
Em Lacanau naquele ano as duas sensações do campeonato eram Slater e Curren.
Slater ainda não tinha fechado seu primeiro contrato milionário com a Quiksilver e deixara escapar o tão anunciado título mundial amador para um Tahitiano desconhecido, Tahutini Heifara, que, segundo reza a lenda, jogava uma bola redondinha e abandonara o futebol pouco antes do certame.
As pranchas, de Curren e Slater, faziam toda diferença - uma, a antítese da outra.
Kelly surfava com uma prancha que mal parecia aguentar seu peso de tão estreita e fina, Curren por outro lado, surfava com um tarugo que sustentaria fácil ele e Slater juntos.
Pois, passando pela pré-triagem, Slater enfrentou um trialista faminto por escalpes: o não menos fenomenal brasileiro Flávio 'Teco' Padaratz, que despontava como um sucessor do Occy, veloz e explosivo.
Foi um-dois, Teco em primeiro e Slater em segundo - resultado que se repetiria 4 anos depois em Hossegor, numa final inesquecível para ambos.
Na segunda fase, Vitinho enfrentaria mais uma vez Slater (já conheciam um ao outro do Japão), numa bateria que tinha ainda Paulo Kid e um goofyzinho magrelo de Cronulla, Adam Brown.
Victor trucidou as ondinhas de Lacanau, maré vazia, Brown vinha em segundo, Slater perdido em terceiro.
Faltando um minuto, o locutor anuncia que Victor já atingiu sua cota de dez ondas e pode sair d'água.
Slater precisava de uma boa nota para virar em cima do magrinho, que por sua vez precisava de combinação pra alcançar Vitinho.
Poucos segundos do apito, o cabofriense rema e surfa sua décima-primeira onda - interferiencia, menos uma nota das tres que contavam.
Slater passa em segundo, faz miséria: baterias épicas contra Pottz, Wood e Carrol.
Semi contra Curren, o mito cresce.
A partir daquele vacilo do Vitinho nasceu uma carreira promissora, apesar das falhas que a imprensa americana não perdoara em Slater, como não conseguir repetir os mesmos passos de Curren nos mundiais amadores.
Naquele campeonato foi tudo perdoado.
Slater passou a ser apontado novamente como futuro do esporte e voltou tranquilamente para terminar seus estudos na Florida.
Não pensem, pelamordoCurren, que estou dizendo que Slater deve seus louros ao Victor, mas um erro, desta vez, justifica o outro.

E que Deus ajude

Sim, fui injusto com Heitor Alves, que muito nos orgulhou com sua retumbante vitória no 6 estrelas.
Na etapa Ilha-da-magia do 'CT, o matuto pulador Kirk Flintoff com seu surfe sem borda foi muito mais irritante, ou Luke Stedman, ansioso por alguma coisa que ainda não sabemos o que é, estejam certos que manobras não são.
Cory Lopez permanece como o rei do estilo, seguido de perto por Odirlei e Guga.