(A coluna chama-se Tempestade em copo d'água e é mensalmente publicada na revista Surf Portugal, desde 96, com intervalos que justificam-se ora por atraso, ora por por falta de afinação.
Percebam que esse texto fala direto para o irmão lusitano mas transborda um bocado para o amigo ao lado.
Podem achar que bato demais na imprensa especializada nacional, mas tenho um respeito enorme por, poucas, pessoas envolvidas, apesar de não nutrir muita admiração profissional.
Na última edição da pequenina Venice, Adrian, editor chefe da Fluir, comete um senhor texto sobre o filme Step into the liquid. Quisera ele sentir-se livre e feroz assim o tempo todo em que exerce sua função na mais mais, porem isso é assunto pra outra oportunidade.
Voltando ao textinho abaixo, durante uma de suas edições a Surf Portugal debateu abertamente o que deveria ser feito do WCT realizado em Figueira da Foz, antes da rasteira da ASP.
De um lado, o sempre entusiasmado João Valente, defendendo com unhas e dentes o evento.
Do outro, Gonçalo Cadilhe, cardeal pontífice da nossa literatura salgada, argumentando que o governo deveria ter prioridades na Figueira e que o maldito WCT não trazia nenhum benefício para a comunidade.
Esse tipo de confronto, amistoso, faz uma falta tremenda aqui na nossa praia.
Um debate sobre a mudança do WCT do Rio para Floripa foi ignorado.
Os colunistas, comprometidos, fizeram silêncio - ninguem sabe, ninguem viu...
Em Portugal, ao menos, foi às claras.)
Tenho o hábito de ler toda semana os cadernos de cultura de dois grandes jornais Portugueses, o Mais, do Diário de notícias e o Y do Público.
A razão principal é o aprofundamento que os articulistas, os críticos, mergulham nos seus temas, seja música, seja cinema, pra ficar nos dois que mais me interessam ali. Sinto falta disso aqui no Brasil, o tratamento é parecido, mas fica um gosto de pedantismo, quando não de recurso comum na imprensa actual, o preguiçoso ‘Copy & Paste’.
Temos tambem excelentes jornalistas, evidentemente, mas prefiro ler os irmãos de além Mar - embora ninguem supere o nosso Sérgio Augusto.
A revista que voce tem nas mãos agora comete essa perversão de se aprofundar demais no assunto e reinventa nossa rotina mensalmente com formas, ás vezes poéticas, ás vezes duras com os compatriotas, de vez em quando excessivamente agressiva e competitiva, porem sempre honesta – que é o nos interessa no fim das contas.
O debate entre vosso editor, JV e GC sobre o WCT em Figueira é prova disso.
Transparência.
Discutimos sim, e daí ? não discutimos todos em casa por motivos muito menores ?
A formação de leitores surfistas, ou surfistas leitores é fundamental para a evolução do Surfe Português, ao inverso do que acontece com outras praias, que investem mais no culto ao surfista, marionete do mercado, sem identidade, sem opinião.
A limpeza gráfica da capa, espaço de excelência de revista, o primeiro contato do leitor com seu objeto de fantasia mensal, a detalhada candura em esconder manchetes baratas e expor surfistas e logotipos ao ridículo da falsa propaganda, fazendo-nos de patetas – a riqueza do sútil, do inesperado, a estética pela estética, uma textura de água e pronto!
Essa maturidade, de leitores e anunciantes, que apesar de tudo – e talvez, por não terem outra alternativa a altura -, participam ativamente, mês após mês, silenciosamente contribuindo para a evolução do Surfe em Portugal.
E eles não sabem disso!
Porque a vil imprensa, sempre quando tem a oportunidade nos faz crer que a evolução está em vender mais pranchas, mais roupas, mais revistas.
A verdadeira evolução do desporto não reside aí.
Como prega Wayne Lynch, com a licença perniciosa da palavra, nosso guru, guia espiritual, se é que existe coisa como tal, enfim, como ele bem gosta de dizer: “Toda experiência do surfe sempre esteve em dividir. Esta é, era e sempre será a verdadeira essência do surfe”.
Ficou claro ?
Dividir, companheiros!
Dividir ondas, dividir parafinas, dividir fotos, dividir boléias, dividir o medo, dividir a diversão, dividir a cerveja, dividir impressões.
Nesse apsecto, precioso, o surfe português vai anos luz à frente do brasileiro, onde a imprensa especializada é infantil e rancorosa.
Se me perguntassem para onde aponta o futuro do surfe em Portugal, gostaria de responder: Para dentro…e pro-fundo.
O uso correcto do idioma além de cativar, esclarece.........!
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