[Texto publicado no extinto promissor jornalzinho chamado Nuts, carinhosamente editado pelo Edinho, Zózi e cia ilimitada. O nome da coluna era 'Morou ou boiou'. A ilustração do Captain Goodvibes foi gentilmente afanada do saite http://members.ozemail.com.au/~xbum/]
Acordei cedinho e saltei da cama meio assustado com o esporro do Mar.
O hotel ficava dois quarteirões da praia, a turma toda da favela hospedada lá, economizando…
Nem esperei o elevador e desci de escadas, correndo, chegando no térreo, me emputeci quando vi que o Sol já tinha nascido.
Nicky Wood chegava da noitada, totalmente estragado, vomitado, olhos roxos, deu um esboço de sorriso no canto da boca mole e seguiu pro seu quarto.
Um saindo para a dura estrada de aspirante a surfista profissional e outro, pneu no chão, voltava com a faca e sem o queijo.
- Merda de vida…pensei.
Isso foi no final do ano de 1991, 5 anos depois do ‘Fantasma’ ganhar notoriedade quando com apenas 15 aninhos arrastou o Bell’s, batendo no Curren e no Carrol, inventando o floater funcional em um grande evento e fazendo a gente acreditar em futuros brilhantes e bolos de dinheiro.
Se não me engano ele ainda era ligeiramente mais novo que eu – a humilhação crescia.
Wood tinha o apelido de ‘Fantasma’ porque não gostava de aparecer em público, poucos amigos, tímido feito um avestruz.
Então, para aguentar a dureza do circuito mundial, Nick cheirava pó sem parar durante todo tempo que passava no Brasil.
Sobrava companhia para o rapaz. A A.B.O.G nunca deixou um gringo na mão em canto nenhum do país, principalmente em Sampa, no Guarujá, onde os poderosos vangloriavam-se de suas conexões excusas como se mérito houvesse. Mulheres espetaculares rondavam os Vips na esperança de uma carreira em duplo sentido.
Sim, malandragem, este é o surfe profissional.
Bem vindo ao seu pesadelo, diria Matt Warshaw.
Cheguei no cantinho das Pitangueiras (por que o plural ?) e as séries lambiam a ilha desde lá de fora.
- Fudeu…
Como de hábito, eu já tinha perdido, mas ninguem me tirava da praia até que o campeonato terminasse, queria ver como cada um dos feladasputas que me ganharam saíriam-se naquelas condições.
O plano era voltar pro hotel, esperar eles servirem o café, a partir das sete, e fazer um surfe nas esquerdinhas que me esperavam em frente a casa do Dragonfly.
A corrida pelos primeiros lugares no ranking da ASP estava entre o sempre consistente e nada animador Damien Hardam, Brad Gerlach, o artista, Barton ‘Fink’ Lynch, Rob Bain e Sunny, quase da idade de Wood, um ano mais velho.
Durante o Alternativa, aqui no Rio, Sunny tinha tudo para iniciar um ‘Tour de force’, prestes a chegar no Havaí, o circuito pegaria fogo, mas uma infelicidade o roubou o título, torcendo o joelho, deixando o caminho livre pro Teco sacudir o troféu por cima dos cachinhos loiros – o primeiro de sua carreira, aqui com um único sentido.
Entra a final do Hang Loose n’água, mar esquisito, fechando, pesadinho, dentro do que é possível ser pesado para as ondas do Guarujá, Richard ‘Dog’ Marsh, Luke Egan, Fábio Gouvêia e o goiaba do Nicky Wood.
Sem aparentar muito esforço, Wood passeia pelas ondinhas de dois metrinhos, uma bomba de backside pra lá, um floater de front pra cá…
E voilá!
Poucas horas depois ainda no hotel, Wood tinha 10.000 Doletas em dinheiro vivo no seu bolso e estava pronto para a auto-destruição que começaria em 15 segundos…ou algumas horas quando chegasse no Rio para curtir cada centavo e depois seguir para o arquipélago dos Reis.
Matt Hoy, Luke Egan e Shane Powell o convenceram de voar direto para o Havaí e tentar se manter nos top 16.
E eu, sem um puto no bolso, ia para a segunda caída, planejava uma semana de favor na casa do Dragão e fazia as contas pra ver se dava pra correr um campeonatinho em Torres em Dezembro….
Moral da História – quem tudo quer é sempre melhor do dois voando.
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