[Texto começado logo em seguida ao triunfo do Ítalo.
Pensei em Luiz Gonzaga, na mesma hora veio aquela canção maravilhosa, Vida de Viajante.
Parei pra escutar a música uma vez mais e encontrei um verso que parecia ter traduzido esse momento bonito do Brasil na WSL,
Dizia assim,
Mar e terra
Inverno e verão
Mostre o sorriso
Mostre a alegria
Mas eu mesmo não
E a saudade no coração
Aquilo bateu forte, deixei o texto de lado e só voltei 4 dias depois.
Ainda tinha muita coisa pra ser dita.]
Era ainda a 7ª bateria da quarta fase e o Panda tinha Italo encurralado durante quase toda bateria.
Os locutores Ron Blakey e Peter Mel recebiam o bicampeão mundial Tom Carroll como convidado, todos chocados com a possibilidade de derrota do surfista que o próprio Carroll apontava favorito.
Ronnie, empolgado com a informação que trazia, afirmou que todos concordavam que Italo Ferreira podia ser considerado campeão mundial das redes sociais se dependesse das postagens durante as férias.
Eles queriam dizer que ninguém foi mais surfista no intervalo entre as duas temporadas do que Italo - e isso diz bem mais do aparenta.
Faltando 14 dos 40 minutos, Ferreira pega duas ondas seguidas em menos de 5 minutos e resolve o problema.
Fora d’água, Willian e Italo conversam amigavelmente, como se nada tivesse acontecido, Ferreira ainda quica de excitação,
Botei muita força na cavada e quebrei a quilha véio…Nooooossa!
A parte do vídeo
Alguém pensou alto sobre as diferenças principais entre brasileiros e o resto.
A primeira impressão é que a expectativa criada pelos vídeos sempre bem produzidos do John Florence, Julian Wilson, Kolohe, Jordy, Conner e cia, deixa pouco espaço para descoberta.
Explico,
durante o período estabelecido para produzir um vídeo, seja inverno, verão, outono, os gringos entregam tudo, de todos ângulos, em camera lenta, revelando mais do que entregam quando começa o Tour.
A brasileirada, com exceção do Filipe, que tem o Bruno Baroni registrando tudo e editando com rapidez insuperável, e Yago, com seu pai Leandro, criando clipe atrás de clipe para nossa alegria, a brasileirada, dizia eu, começado o circuito, ou campeonato, não vem tão cercada da mesma tensão e espera nascida com a divulgação dos esperados vídeos.
Nosso conterrâneo chega disposto a mostrar ao vivo e a cores do que é feito.
Quando, ainda na terceira fase, Medina faz 19.13 ou Ítalo exibe o que a revista/saite Stab classifica como, Melhor desempenho em ondas pequenas da história do surfe profissional (https://stabmag.com/news/today-we-saw-the-best-small-wave-performances-in-the-history-of-competitive-surfing-quik-pro-2019-dbah-italo-ferreira/), toda imprensa estrangeira fica em estado de choque e assombro.
Juntando os melhores momentos da competição de piruetas da Red Bull com o Quik Pro, os brasileiros fazem sozinhos uma parte inteira do vídeo novo de qualquer diretor badalado, seja americano, australiano ou o caralho com asas.
Ou seja, sobra pouco.
O pequeno livro preto do Dog Marsh
Richard Marsh tem a alcunha de Dog. Segundo a revista Surfer de 1991."Dog é seu apelido e seu temperamento. Bom, caloroso, feliz, honesto, fiel. Também cascudo e perigoso”.
Dog foi 8º do mundo em 1992, natural de Cronulla, sul de Sydney, estado de New South Wales, Austalia.
Por que perder tanto tempo com essas informações inúteis, Julio, pergunta o afobado atento leitor…
Marsh é hoje um reconhecido tecnico, ajudou Frederico Morais, Leo Fioravanti e Ryan Callinan a entrar nos 32, treina parte da equipe da Billabong na Europa e trabalha com uma equipe de profissionais, Jason Patchell, especialista em psicologia esportiva da Surfing Australia e Adam Trypas, preparador físico.
Essas informações estão todas disponíveis para quem tiver disposição de pesquisar.
O que não está disponível em nenhum lugar, é o livrinho preto onde Marsh anota estratégias, erros, detalhes e toda sorte de dados que julga importante guardar.
No Quik Pro de 2019 Dog deve ter coberto algumas dezenas de páginas com as possibilidades no formato magnífico das baterias simultâneas.
Para nós, espectadores, foi um enorme alívio e ainda maior prazer acompanhar baterias nesse formato desde o princípio.
Quase nos faz pensar em baterias de 4 até as quartas - ou oitavas.
Pouparia-nos imenso tempo e paciência.
Se houve uma bola dentro da WSL nesse início de temporada é a possibilidade das baterias simultâneas.
Segundo fontes, nesse exato momento, Dog Marsh anota freneticamente alternativas para competição avançada em baterias simultâneas - já vamos na pagina 37!
Perdido na Goldie
O amigo leitor já percebeu faz tempo (precisamente 32 anos e uns quebrados) que uso o surfe profissional como desculpa para tratar de outros assuntos menos importantes.
Mesmo diante do risco severo de ser acusado de cabotino (mascarado na literatura do futebol), insisto em apostar na inteligência do camarada que investe seu tempo lendo esse gênero desclassificado, crônicas com pé sujo de areia.
Dito isso, voltemos ao que interessa, soco, tapa, banda e pontapé, que foi o Quik Pro.
Passada a euforia da vitória brasileira, me abate a angústia da pergunta fatal,
Como seria o dia final se a WSL não tivesse jogado na vaso sanitário a chance de terminar o evento no domingo (cancelado) com Duranbah clássico ?
Depois de perder, era mais que evidente a desolação do Medina na entrevista da radiante Rosy.
É duro competir quando não há oportunidade…
Mudez absoluta…
Ontem surfei DBah e tinha altas ondas, mas…dane-se…
Seria a deixa perfeita para os locutores, eloquentes e palavrosos, explicarem que existe um acordo entre a WSL (empresa privada) e o Governo de Queensland (patrocinador principal) para realizar pelo menos um dia de campeonato (não confirmado se é apenas um dia…) em frente ao palanque principal que fica em Snapper Rocks.
Os atenciosos comentaristas poderiam enfim esclarecer que Duranbah, apesar da impressionante proximidade com Snapper, menos de 1 Km!, pasmem, Duranbah fica no estado vizinho de New South Wales, Nova Gales do Sul como o pessoal gosta de traduzir na Globo.
Ainda segundo a Stab, a multa de fazer um dia do evento em DBah era de AUS$ 30.000.00 mais custos operacionais, tendas na praia, palanque para juízes e competidores e a novidade mais cara (atenção com o trocadilho!) da WSL, A Experiência VIP.
Um exemplo que me foi dado por alguém que estava na areia de Duranbah foi o seguinte, um dos finalistas, encerrada a protocolar entrevista depois da bateria, foi imediatamente agarrado por um representante da WSL e levado para dar autógrafo para quem de fato desembolsara uma grana firme pela malfadada Experiência VIP.
O felicíssimo VIP, depois de ter o seu autógrafo garantido pela WSL, viu com aqueles olhos que a terra há de comer o mesmo surfista que exclusivamente acabara de lhe atender, distribuindo alegremente assinaturas para o faminto povo que o cercava - sem gastar um centavo.
Agora, diante de uma previsão mequetrefe para Bells na próxima semana (vejam aqui https://www.swellnet.com/news/swellnet-analysis/2019/04/10/rip-curl-pro-early-forecast), fica o incômodo ponto de interrogação, se numa distancia ínfima de menos de 1 km a WSL ficou numa saia justa, como será no sul da Austrália com marolas em Bells e Johanna fumando (quase 200 Kms!) ?
Uma das minhas críticas de cinema prediletas, Pauline kael, escrevia sobre a função dos críticos,
[É parte da função de um crítico de cinema saber e indicar a diferença entre um filme ruim que não importa muito, porque é muito parecido com outros filmes ruins e um filme ruim que importa. . . porque afeta fortemente as pessoas de maneiras novas e diferentes.]
O Quik Pro 2019, parecendo um clássico do surfe moderno, terminou por ser uma comédia de quinta, com um roteiro promissor que se perde no meio, termina sem o menor sentido e só quem ri é quem mete a mão na bufunfa.
Grande análise em tempos de mudanças e novas visões...
ResponderExcluirBoa Marreco , tenta colocar sempre as colunas e o Boia aqui ...facilita pra esse homem das cavernas .abs
ResponderExcluirVou passar a fazer isso, Dinho!
ResponderExcluirCaro Júlio;
ResponderExcluirUm texto a cada ano já deixava-me contente, um a cada dez dias faz lembrar-me que há alguma saída no meio desse mar revolto... O texto como sempre... como sempre... Gosto muito da tonalidade encontrada entre a crítica ácida e o reconhecimento de que algo ainda há... Não sei se você pensou nisso, mas vejo uma evolução sensível na escrita... menos colorida, embora mais clara em seus objetivos...
Desejo força e fê em seus leitores...