quarta-feira, abril 03, 2019

Esperando Ferlinghetti

Ferlinghetti (direita) e Ginsberg de olho no lance

Maldito seja quem espera perpetuamente e sempre
por um renascimento.
Voce, leitor caro, e eu também, mal conseguimos conter a euforia pelo início da temporada de 2019 - pela corrida ao título mundial.
O título sozinho, troféu e pontos, interessa somente ao campeão e patrocinadores, barganhas e aumentos.
Aos outros, público ávido por sangue, o que de fato importa é a narrativa dos fatos - como se desenrola o- agora sim- bendito título.
A tal história do quem, o quê, onde, como, quando e por quê.
Na WSL, todos esperam por alguma coisa.
O dono da porra toda, Dirk Ziff, espera que na nova simbólica fronteira ocidental floresçam banheiras com ondas por todo lado - principalmente do lado de lá, oriente-se, Japão 2020.
Slater, aos 47, almeja (sonha ?Paneja ?) com uma espécie de redenção cinematográfica, digna de ser filmada por Gus Van Sant, Oliver Stone ou Scorsese.
O título provável seria, O último herói americano.
Medina quer logo seu terceiro caneco, tão esperado desde 2016, para tirar rápido mais um recorde da frente e renegociar ordenados. Sabemos que ainda faltam 9 até chegar no careca - se embalar nessa temporada até 2023, Gabriel pode superar a corrida enlouquecida do Kelly quando venceu 5 seguidos de 1994 até 1998, deixando o recorde de Mark Richards pra trás.
Falta chão ainda.
Vontade não falta.
O que esperamos do Italo agora ?
E mais!
O que Italo espera e 2019 ?
Foram 3 vitórias acachapantes em 2018 e algumas barreiras derrubadas.
A primeira delas, deixar de ser promessa e virar ameaça.
Ao ser perguntado quem é seu surfista brasileiro preferido pela publicação francesa L’ Equipe, Gabriel Medina respira fundo, pensa, demora pra responder e evita mencionar Italo ou Filipe - prefere homenagear seu amigo Miguel Pupo.
Dado o retrospecto dos confrontos entre Medina e Italo, mesmo diante da suposta amizade compartilhada nas redes sociais, é plenamente compreensível a escolha.
De todos brasileiros na WSL, ninguém publicou mais ondas surfadas durante o período de férias do que Italo.
Ferreira, parece esperando pela Grande Divisa a ser ultrapassada.

Pode ser divertido, pode ser também doloroso.
Lawrence Ferlinghetti gostava muito do mar, adorava! Em 1958, escreveu um poema chamado, Estou esperando (Lawrence Ferlinghetti, “I Am Waiting” de A Coney Island of the Mind), poema que emprestei para colorir essa pretensiosa prévia do circuito mundial de surfe profissional.
Ferlinghetti era da geração Beat original, contemporâneo do Ginsberg e Kerouac, ficaram conhecidos como uma tempestade artística e aqui ligamos os pontos entre as duas tempestades e não encontraremos nenhuma outra similaridade entre surfe, WSL ou Gold Coast, exceto talvez pelo fato do Lawrence Ferlinghetti ter completado 100 aninhos em 2019, lépido e fagueiro, único remanescente vivo dos Beats.
Não posso deixar de mencionar que o coroa lutou na segunda guerra e foi em cana por publicar o livro de poemas Howl do Ginsberg - sem contar ainda, ser declarada influência na obra do nosso (meu e seu!) Nobel de literatura, Bob Dylan.
Encerrada a parte onde desviamos brutalmente do assunto, retornamos ao que interessa.
O que espera Filipe Toledo de 2019 ?
Ou, o que julgo Toledo esperar depois de um ano espetacular, ao sentir o título escapar por entre os dedos e amargar um terceiro lugar quando tudo parecia tão encaminhado para um doce e retumbante final de temporada…
Terminado o Surf Ranch Pro, Gabriel estava atrás do Filipe 4.000 pontos, com uma perna européia pela frente, quem (alem de Medina) poderia imaginar dois 13ºs - na verdade 3 13ºs adicionado o Pipe Masters.
Seria o que Ferlinghetti chamou de último longo êxtase descuidado ?
Ou será que pela Grande Divisa a ser ultrapassada ?
Esses inícios de temporada sempre inspiram mais interrogações do que exclamações.
Quando leio no poema,
estou esperando
que as tormentas da vida
passem além
e estou esperando
para navegar para o júbilo.
Lembro logo do JJF e me pergunto, qual dos Florence volta pro Tour ?
Aquele desinteressado, fingindo inocente (como na musica do Ataulfo Alves), ou alguém disposto a tudo pelo tri - como Medina!
O saite de sarcasmo salgado Beachgrit especula que Florence pode nem participar de todo circuito em 2019.
Para Medina, Toledo e Italo, ficaria a impressão que JJF fugiu da raia.
A WSL se sentiria traída e um pouco vendida por não conseguir despertar a fúria necessária no principal surfista/produto da America branca surfista (existe outra America surfista ?).
Julian Wilson, depois da exaustiva e alucinada corrida no final de 2018 terá combustível para cumprir seu destino e ver a Era da Ansiedade
se acabar ?
O que será do circuito feminino se Steph mantiver seu domínio inabalável ?
Quem reverterá todas previsões e confundirá ainda mais as bolas ?
Aposto no Yago, Freestone, Moniz, Caio, Wright e mantenho a ilusão de ver Jesse mais leve das cobranças que todos esses anos de luta no WQS ainda pesam nos seus ombros.
Como será a vida do Pat O’ nesse renovado circuito ?
O quanto a carga da classificação para as olimpíadas vai se fazer presente na temporada ?
E, finalmente, que diabos espero de 2019, alem de algum entretenimento com sofrimento alheio e esse eterno buscar por sentido nas horas perdidas atras da tela ?
Espero a luta do Mineiro (quando voltar!), a alegria e extroversão do Italo, o gesto inusitado do Filipe, a criatividade do Yago, a garra desmedida do Jadson.
Cada um dos brasileiros divide pelo menos duas virtudes citadas acima, não cairei na armadilha fácil de achar um adjetivo por surfista.
Espero o de sempre,
Paixão.

(O Poema, em itálico no texto, pode ser lido aqui nesse link
http://cronisias.blogspot.com/…/estou-esperando-lawrence-fe… )

5 comentários:

  1. Sim, eu ainda leio blogs!!! Mas, réu confesso, precisei ser alertado pelo seu stories...hhehe.. As usual, belo texto. Minhas fichas vão para uma briga boa entre Filipe e Ítalo. O Objetivo desses dois? Provar aos juizes que são melhores que Medina

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  2. Júlio;

    Faz tempo que esperava o retorno... a escrita é, em tempos sombrios, uma forma marginal de resistência... os textos escritos por você são uma importante dissonância quando somos submetidos a apresentadores engraçadinhos, imagens banalizadas e comentários saídos dos escritórios de marketing das grandes empresas... marginalidade torna possível ver as coisas pelas frestas, pelas franjas dos acontecimentos... a vida é dura, mas ela torna-se granítica com o silêncio de quem pode lançar alguma luz sobre a banalidade de sempre.
    Gabriel, midiático, meio bobo, algo desarticulado é, para mim, um fenômeno a ser decodificado... um surfista de triste figura; alvo de minhas fichas para qualquer disputa que aponte a necessidade de um vencedor...

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  3. Endosso os comentários do João e do Cássio, ainda existem leitores, e mais, ávidos pelos textos do Goiabada.
    Esse ano o cardápio de expectativas e possibilidade de contar histórias (leia-se vendê-las também) está farto. Tem para tudo que é gosto.
    Slater deve decidir a temporada nas duas ou três primeiras etapas, se não obtiver resultados satisfatórios deve correr o circuito como Federer, escolhendo etapas.
    Toledo e Italo, se tiverem regularidade, devem ameaçar Medina, mas precisam assistir muitos jogos do Corinthians e Palmeiras, nos títulos brasileiros recentes, para incorporar essa ideia. Também aprender com Mineiro seria uma boa alternativa. Estourar o champanhe logo no inicio dificilmente se converte em título, o circuito mundial é como coca cola de 3 litros, quem abre a tampa primeiro acaba o ano sem gás.
    Se John John tivesse o ego na mesma proporção do surf, seria páreo para disputar com Medina palmo a palmo o título durante uns 5 anos, mas o cara me parece ser mesmo muito blasé, além de que já está confortável dentro das suas ambições, é o que me parece.
    Gabriel, nem precisa falar, a fome de título em pessoa, além da habilidade e frieza fora do comum, com uma característica que falta a Neymar, não tem pretenção de ser unanimidade. Ele está pouco se lixando para o que acham dele estar em réveillon badalado ou sair em capa de revista de moda. O que dá na telha ele faz sem buscar aprovação alheia. Tem a entourage que o cerca, mas que não o deixa desviar o foco.
    Se Neymar, que parece andar tanto com ele, se espelhasse em Medina nessa característica, o PSG teria mais chances na Champions e o Brasil na copa passada e nas 2 próximas.
    Vida longa ao Goiabada!

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  4. Belo texto 🤙
    Aposto no Italo 2019🤘

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  5. BRUNO ROZENBAUM3:08 PM

    Cirúrgico como sempre nos textos.
    Continue assim, pelo menos um por etapa.

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