quinta-feira, março 08, 2012

Ousar sempre




Nuuhiwa fumando seu cigarrinho antes da bateria no mundial de 72


Ousar sempre
Não é porque certas coisas são dificeis que nós não ousamos. É justamente porque não ousamos que tais coisas são dificeis
Sêneca - 4 a.c. - 65 d.c. - Filosofo romano
Nat Young tinha 19 anos quando chegou em San Diego pra competir contra os deuses do surfe.
Quase dois metros de altura muito bem equilibrados em dois gigantescos pés e um rosto de pedra.
O mundo do surfe era uma ervilha (hoje é uma azeitona) e todo voltado para California e Havai.
David Nuuhiwa comandava o jogo sem fazer esforço. O título do mundial de 1966 ja tava no papo.
Diga David, como voce se sente com todo mundo que surfa te seguindo agora ? Perguntou o reporter Bill Cleary numa Surfer da epoca.
Voce ta de sacanagem ? respondeu Nuuhiwa.
Nuuhiwa era um lorde com direito a séquito e tudo, Nat Young era Atila, o Huno.
Enquanto David subia e descia nas paredes das ondas com graça e suavidade e caminhava na sua prancha como se estivesse num baile de formatura, Nat era um barbaro, destroçando qualquer coisa que aparecesse na sua frente sem dó nem piedade.


Nat vai acabar com Nuuhiwa e fazer Bigler (Steve Bigler, finalista em 66)parecer uma mocinha, esbravejou Bob Cooper num dos artigos mais mencionados da historia das revistas de surfe, We’re Tops Now (Surfer Volume 8, numero 2), do australiano John Witzig.
Graças ao surfe revolucionario do Nat Young em 1966, pranchas começaram a encolher drasticamente e até terminar a decada de 60 cortamos quase dois pés do tamanho padrão das pranchas.
O texto do Witzig acabava com uma provocação,
O que é o futuro ?...Precisamos colocar um fim nessa monotonia. O vigor vai prevalecer sobre a preguiça, agressividade vai substituir obediência mansa... Dinamismo vai superar o trivial. Power vai ser a palavra de ordem e surfe será surfe.
Estava inaugurada uma das maiores rivalidades da historia do nosso esporte.

Nat Young e sua maquina de destroçar ondas


O tempo tratou de mostrar que Nat foi mesmo um dos surfistas mais influentes de todos tempos, mas a leveza e o experimentalismo do Nuuhiva parece ter reacendido nas ultimas duas decadas.
Nuuhiwa com seu jeito zen, roupas extravagentes e pranchas esquisitissimas é uma das grandes influências do surfe moderno no seculo 21.
Em seguida ao mundial de 66, Nuuhiwa sumiu de cena por quase dois anos -
imaginem um dos maiores surfistas do mundo simplesmente desaparecer do radar...
Sua volta deu-se em grande estilo, Huuhiwa surgiu guiando um Porsche 911, casaco de pele, oculos de avidor e um quiver de pranchas ornamentadas com pinturas psicodelicas para o absoluto choque da comunidade.

Príncipe do pé no bico


As biquilhas que hoje são tão populares nos quatro cantos do planeta foram alguns dos tapetes magicos que Nuuhiwa gostava de desfilar antes de fechar a decada de 60, diante de olhares desconfiados.
David foi campeão americano em 68 e 71.
Nascido no Havai, filho de um dos beachboys originais de Waikiki, David foi morar na California e tornou-se um dos principais mitos do surfe nos anos 60 graças a sua enorme facilidade de andar no bico da prancha.
Naquele tempo a habilidade era medida pela quantidade de tempo que o surfista passava no bico e nesse quesito Nuuhiwa era imbativel.
Até Phil Edwards, o equivalente na epoca ao que Slater representa hoje, considerava Nuuhiwa um principe do noseriding (arte de andar no bico).
Depois do fracasso no mundial de 1966 e 68, Nuuhiwa abriu mão da sua vaga no time americano em 1970 e voltou como favorito quando o evento voltou para San Diego em 1972.
Sem os quatro ultimos campeões, Midget Farrelly, Felipe Pomar, Nat Young e Fred Hemmings, o caminho estava aberto para finalmente David triunfar em casa.
Nuuhiwa dominou as fases preliminares até que sua biquilha foi roubada.
No dia das finais, a prancha apareceu pendurada no pier de Ocean Beach, partida ao meio, escrito no fundo, Boa sorte Dave!
Jim Blears levou a final com uma 5’10’’ biquilha, escolhendo as melhores ondas, mas todos reconheceram que Nuuhiwa foi o surfista do campeonato.
Esse campeonato determinou a morte do mundial de surfe como conheciamos nos anos 60. Triste com seu segundo lugar, Nuuhiwa pegou seu trofeu e declarou que queria encher a cara e esquecer tudo e foi exatamente isso que ele fez.
Por quase uma decada Nuuhiwa sumiu novamente e tudo que se ouvia era que trocara o surfe pelas drogas.
Teve um breve retorno em 1977 , vencendo um evento em Nova Jersey e mais uma vez desapareceu.
Quando os pranchões voltaram à moda nos anos 80, todos queriam surfar como Nuuhiwa, Joel Tudor é um dos seus principais pupilos.

O tal DVD... a venda nas melhores casa do gênero


Toda essa historia me ocorreu porque encontrei uma coleção de DVDs chamados Grandes duelos do esporte (Arte-tv.com, França, 2001), rivalidades famosas como Ferrari x Mercedes, Boca x River, Fla x Flu, Barcelona x Real Madrid, McEnroe x Lendl,  entre eles, pra minha surpresa, David Nuuhiwa versus Nat Young.
Se hoje temos essa liberdade para usar 4 ou 5 pranchas diferentes num mesmo ano, ou nos dar ao luxo de experimentar todo tipo de rabeta e quantidade de quilhas, variando de 4’10’’ até 10’6’’, devemos parte disso ao ousado Huuhiwa.
Nos livros ensina-se que Nat Young levou a melhor, mas olhando com cuidado pro legado de Nuuhiwa, a impressão que tenho é que no final, pelo menos até aqui, quem riu por ultimo foi o japa.

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