segunda-feira, julho 19, 2010

Diario de Gefersão 3 e 4




Julio, voce sabe que esta hospedado na casa do HOMEM de Jeffreys Bay ? Indagou o Caolho sempre com sua pitada de sarcasmo.
Bem… Não deu tempo de responder, Caolho saiu atropelando,
Ari Kraak é o principal homem do surfe aqui. Ele controlava o lineup antigamente. Era capaz de te encher de porrada com um sorriso nos labios. Foi o responsavel por trazer a Billabong para a Africa. Esse cara colocou Jeffreys no mapa. Fez os primeiros campeonatos, quando ainda era casado com Cheron, a mulher por tras dos eventos e das festas mais loucas de toda historia do surfe profissional.
Voce esta convidado para jantar na casa dele hoje a noite. Não se atrase.


Depois dum dia exaustivo assistindo baterias nem sempre interessantes, chegara a hora de conhecer melhor meu anfitrião.
Ari é um brutamontes estilo Fausto Wolff, fala pausadamente e gosta de repetir determinadas sentenças por puro divertimento.
A fama do sujeito é de Original Enforcer do pico entre outras coisas.
No dia que cheguei, ele tinha acabado de chegar da pescaria, seu principal hobby hoje em dia, desde que surfe tornou-se inviavel diante das tres operações de disco que tivera.
Na garagem uma bonzer Campbell, vermelha, estalando de nova, 7'6'', Um amigo deixou-a aqui e nunca usei. Ele prometeu voltar e nunca mais apareceu…
A sala da casa tem uma enorme janela de vidro que derrama-se na onda de Supertubes como se a enquadrasse.
Durante tres horas ouvi historias que só vou conseguir lembrar em 10 anos talvez, dada a quantidade de vodka consumida.
Derek e Ari se conhecem desde sempre.
Foi Ari que bagunçou o coreto do surfe sul-africano quando chegou da Australia ainda nos anos 80 para ensinar a turma de Jeffreys como fazer pranchas.
Em 1984 fez o primeiro Country Feeling, aquele historico evento que ainda hoje choca pela modernidade que Occy surfava aqui.
Num canto qualquer, uma foto de surfe no meio de tantas fotos de enormes peixes e orgulhosos pescadores, Ari e seu filho.
A foto de surfe é obviamente em Jeffreys, uma onda nem grande nem pequena, o detalhe importante é a prancha, uma Brewer, 9'6'', mesma que Derek surfa com maestria no Litmus.
Que memorias essa prancha deve ter…

Jordy cumpriu sua sina.
Jadson levou no Brasa, Jordy aqui na casa dele e Bourez precisa agora mostrar que aquela gente bronzeada tahitiana tambem tem seu valor - Dane podia levar em Trestles, Jeremy na França e Saca em Peniche.
Voltemos a realidade.
Realidade dura para Dusty Payne, fabuloso surfista de video que nem sempre funciona ao vivo. Muita gente teve problema com quiver, outros com a imensidão que o onda oferece.
Vejam como muda o olhar conforme a nacionalidade, reporter da Surfer, Brendon Thomas viu nesse mesmo campeonato que Brett Simpsom mostrou que pertence ao World Tour.
No campeonato que vi, Simpo simplesmente (como perder essa ?) serviu como sparring para Dane espancar enquanto curava ressaca.
Brett Simpsom escolheu as melhores ondas, não caiu da prancha e surfou no seu limite enquanto Dane escolhia as piores ondas, caía seguidamente da prancha e surfava 60 % do seu potencial até aparecer uma bendita junção na sua frente.
Foi engraçado. Dane fez das suas, voces ja devem ter visto e revisto o tomanajunça que Daniel Reinaldo meteu na pobre junção.
Foi brutal.
Usando todo seu corpo pra atacar o lipe, veloz, compacto, violento.
Na onda de trás, Simpo arriscou algo que pode lembrar uma manobra arriscada, virou piada.
Contra Taj, Dane esqueceu de competir, insistiu no espetacular quando tudo que precisava fazer era costurar uma ondinha que fosse.
Taj tremia na base diante duma humilhação iminente.
Alias, bom falar sobre isso, Taj não parece nada confiante nesse momento em comparação ao inicio do ano, Jordy sim.
A unica bateria que Taj surfou com o abandono que lhe faz diferente do resto foi contra Tiago Pires, num erro crucial cometido pelo Saca na primeira onda, como bem atentou Zé Seabra. Na chance que teve para brilhar, Taj fez a melhor media do evento, mas não foi o surfista ameaçador que começou 2010.
Jordy por outro lado, ou melhor, pelo lado de cima, tem seu grande momento, duas vitorias em casa seguidas, igualzinho Taj, e lidera o ranking indo para o Tahiti, um campeonato que nunca lhe foi generoso.
Slater sumiu do mapa. A derrota, injusta, pro Sean Holmes pode ter afetado a corrida pelo titulo de maneira mais contundente do que previsto.
Na verdade ninguem prevê essas merdas.
Os wild cards em Teahupoo serão fundamentais na decisão do titulo mundial caso tenhamos ondas de verdade.
De volta ao campeonato, Jordy fez chover.
Na semi final contra Bede, tive o prazer de testemunhar a maior virada desde Curren x Garcia no Arena surfmasters em Biarritz 1990.
Leiam por favor a cobertura la na pagina da Hardcore.




Coronas, Jordy, Adam Melling, Owen, Jay Bottle e uma presa facil.

Encerrado o campeonato, Jordy tomava sua merecida cervejinha com Adam Melling e Owen Wright na frente do palanque enquanto fui tentar surfar mais uma vez, desta vez com botinhas.
Escolhi usar o mesmo long-john que usei na ultima vez que estive aqui em 2001, as mesmas botinhas, por afeição e alguma, vamos lá, supertição.
Ja não sei mais disputar ondas, desaprendi surfando sozinho em Ipanema.
Em Jeffreys não há a menor chance de não disputar cada onda.
Fiz o que melhor faço quando vou surfar, esperei.
E esperei.
Nas longas calmarias voce faz amizades, surfista fissurado o pai do Owen Wright puxou papo. Robert é originalmente de Uladulla mas mudou-se para uma cidade perto de Byron Bay, pelo calor. Daqui ele vai direto para o US Open e acompanha a filha nos Açores. Pergunto se sente saudades de casa e da familia, ele dia que sente falta do filho dele de 13 anos.
Surfa bem como os irmãos ?
Sim, é bom surfista e ja tem patrocinio da Rusty.
Magro e alto como o(s) filho(s), Robert pega uma onda atras da outra. Esta deslumbrado com as ondas, é sua primeira vez em J. Bay.
Mais no outside, outro sujeito grisalho apresenta-se, pai do comentador (ou comentarista) Ronnie Blakey, veio acompanhar o filho nessa dura jornada.
Mal posso esperar pra viajar com meu filho pelo mundo afora.
Espero ter metade do garra do Robert pra surfar.
Peguei duas ou tres ondas e raspei as quilhas nas pedras ao sair do mar, o mais genuino dos souvenires de Jeffreys, se querem saber.

Mais uma vez filei uma bóia na casa do Ari, mais vodka.
Voce ja conheceu o Steve ?
Não…
Vamos lá. Ele é chefe de cozinha e bluesman, voce vai gostar dele.
Espera um pouco, vou pegar uma garrafa de Uisque…


Na casa do Steve estava tambem Paul Botha, camarada que ja conhecia de outros carnavais, ou campeonatos, desde que Botha é a ASP sul africana desde os anos 80.
Recebi uma breve lição sobre diferentes tipos de azeitonas do Steve e discutimos por mais de uma hora os novos critérios de julgamento da ASP.
Paul Botha e Steve tem um envolvimento profundo com o circuito mundial, nada escapa aos olhos atentos dos dois.
Ambos beiram os 60.
Dali fomos para a festa de comemoração do inedito titulo do Jordy.
Todos enchendo os cornos, como deve ser feito. Jordy subiu no palco e dançou sozinho por alguns minutos, depois Ari foi la dar um abraço no garoto que ele patrocinava quando ainda era uma promessa desconhecida.
Abraçaram-se longamente, os dois bebados, talvez tenham derramado uma lagrima.
Dois minutos depois o caos estava restabelecido.
A previsão é de nada de ondas pros proximos dias, devo antecipar minha volta, saudades de casa, do Amor que fica la guardado e deixa tudo mais sem importancia.
Quem sabe volto no ano que vem e tenho mais sorte dentro d'água ?



Jordy deve ter quase um metro e noventa, Ari tem um palmo a mais.

7 comentários:

  1. Anônimo10:13 AM

    Bravo!
    Obrigado Julio, por dividir esses momentos conosco.
    Daz Bomb

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  2. vai juntando pro livro! bela crônica

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  3. "Ja não sei mais disputar ondas, desaprendi surfando sozinho"...
    Entrou pro clube!
    ***
    Jordy tá na ponta, mas ainda tem Tpoo e Pipe, o kareca tá no páreo e é osso duro.
    ***
    O fausto wolff de Jeffreys deve ser tão cascudo quanto o original...
    ***
    Aproveita a guarida e encarna na água c/ esse longjohn véio, Marreco!
    ***
    5 estrelas.
    abx @

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  4. sempre excelente, julio.

    Discordo por determinada sensação que pairou, em minha opinião, sobre as performances do jordy, sempre recebendo empurrões dos juizes pra aumentar a altura dos aéreos que ele aplicava forçando a barra.

    Ao brincar de juiz, o que vi, especialmente contra o mineirinho (sem qualquer clamor nacionalista) foi um 9 e la vai pedrada excessivamente alto e algumas outras médias questionáveis durante o campeonato.

    mas enfim, seu amigo chef apimentou o tour com essa vitorio do bebe jordy. teremos agora um 10 com emoção.

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  5. Anônimo7:07 PM

    Que crônica Tio Julio. Das melhores! abs, Maxximus

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  6. Fazedor de Filmes da Esquina1:17 AM

    belezura de report da semana,Tio Juio.

    mas ó: não chei aquela manobra do Simpson fraca, não. pelo menos no ângulo que filmaram...

    é que perto do Dane, fica difícil mesmo.

    mas ainda tenho a sensação que Dane vai demorar mais um bocado pra (se é que jamais vai) ser tudo que pode ser.

    abs!

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  7. Júlio no local, património mundial!

    ps: provavelmente bem pago por americanos, Brendon Thomas é no entanto sul-africano (creio). e que é que isso interessa?

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