Dane vs Joel - The Director's Cut from STAB on Vimeo.
De toda turma de novatos que fez seu debut no World Tour, ninguem conseguiu sobreviver ao terceiro round.
Isso é uma noticia seríssima, porque parte da graça dos campeonatos é assistir novatos destruir reputações.
Era o que se esperava de Owen, Adam, Jadson, Dusty, Brett e Matt.
Vejamos como foram na primeira fase.
Dos 11 debutantes, apenas 3 venceram suas baterias, Dusty, Brett (meio por acaso) e Jadson que ja começou com o pé direito.
Todo resto perdeu na repescagem, que é a segunda fase, exceto por Pat Gudauskas - um verdadeiro massacre.
Marco Polo teve atenção especial. Na sua primeira bateria como integrante do WT, teve logo Kelly Slater pela frente, parecia genuinamente empolgado com a possibilidade de enfrentar o cara que mais atrai publico em qualquer evento de surfe no mundo inteiro.
Na bateria seguinte, Polo teve uma falta de sorte fora do comum, melhor dizendo, Jordy Smith.
Jordy fez a maior media até então justo contra Marco Polo, mas nada foi tão humilhante e embaraçoso quanto a bateria anterior.
Pausa para um milagre
Escrevi acima que Brett Simpsom tinha ganho a primeira bateria meio sem querer e ja explico: Simpsom não caiu da prancha numa disputa morna e sem graça, pior media de toda primeira fase.
Atras de Simpsom estava Dane Reynolds, aquele mesmo dos DVDs, dos anuncios, das capas.
Algo estranho se passava com Reynolds desde o inicio.
‘Exprimentei muitas pranchas, nenhuma parece muito adequada pra essa onda’, disse ele.
Foi quando, para completo desespero de alguns, puto com seu desempenho na primeira fase, Reynolds sacou uma prancha shapeada para o Andy Irons pelo Al Merrick, 6’1’’, 18 1/2, 2 e 5/16.
Ou seja, uma prancha convencional completamente diferente das tampinhas de privada que ele vinha surfando nos videos publicados no seu sensacional blogue (http://www.marinelayerproductions.com/).
Dei toda essa volta pra chegar até a bateria que precedeu do Jordy X Polo, um nocaute limpo, sem sangue, nem olho roxo, certeiro no queixo.
Dane surfava em outra velocidade, outra onda, outro seculo, do seu oponente, o australiano Blake Thorton.
Blake fez o que podia, surfou as melhores ondas, manobrou sem parar, esticou ao maximo, tudo certinho não fosse Dane Reynolds seu adversario.
Dane fez de Blake um senhor prestes a se aposentar, lento, antiquado e ultrapassado.
Foi constrangedor.
Ainda na segunda fase, respirem fundo, Neco enfrentou seu mais duro adversario nesse 2010, o julgamento.
Não que Damien Hobgood não ganharia de qualquer maneira, provavelmente sim, mas o jeito que foi conduzido o negócio embrulhou o estomago de muita gente aqui do outro lado do mundo.
A ASP estava querendo dizer alguma coisa e só no dia seguinte é que iríamos entender...
3 + 3 são 16
Adriano de Souza, do alto dos seus 23 anos, já compete como um veterano, que é uma grande virtude. Dominou sua bateria na primeira fase sem problema, mantendo Michel Bourez sempre bem marcado e sem medo de cara feia - Bourez é um dos sujeitos mais parrudos do Tour.
E de todos os 31 surfistas que Mineiro podia pegar na terceira fase, logo quem foi cair com ele ?
Sim, Jadson, seu companheiro de equipe e unico outro brasileiro na competição.
Shea Lopes, ex top 45, escreveu no blogue da revista Surfer sobre Jadson, ‘Adriano ainda é o melhor brasileiro, mas talvez não por muito tempo’.
Um exagero do Shea ? Jadson precisa parar com esse vicio terrivel de bater a prancha para conseguir velocidade- pura ansiedade.
No World Tour, como disse Shea sobre Owen Wright, menos é mais.
Matar barata não ajuda em nada a aceleração da prancha e não ajuda no quesito fluidez.
Dane Reynolds at the Quik Pro Rd2 from Steve Shearer on Vimeo.
Telegrama para o senhor
No Quiksilver Pro, a ASP mandou duas mensagens distintas aos surfistas.
Uma delas ficou clara em disputas pontuais, Jeremy x Dane, Neco x Damien, Jordy x Saca, Damien x Stedman.
É como se o sistema dissesse assim: Nós não queremos mais voces aqui.
Preparem suas malinhas porque no meio do ano teremos um belo corte no contingente e se voces ficarem no nosso caminho não pouparemos eforços...
Dane e Jordy estão oficialmente imaculados - alguem me explica por que diabos (opa! Perdão...) Damien Hobgood entrou nesse time ?
O problema é que Neco e Saca são dois dos sujeitos mais obstinados que já estiveram no circuito mundial e se livrar deles não será tarefa facil.
Apesar de tudo que acabo de escrever acima, achei os resultados justos, embora mais distantes do que merecido, mas justos - o que não ameniza o desatino do julgamento.
A segunda mensagem, mais sutil, aponta para cima, mais precisamente para o topo.
Escuta Taj, diz a voz bem baixinho, não precisa arriscar tanto, nem fazer curvas tão perigosas e violentas, basta um feijão com arroz bem temperado, um lombo de porco, carne seca, linguiça de qualidade e ta feito.
Isso tambem serve pra voce Jordy.
A magia do retorno
Andy Irons reestreiou no circuito de maneira melancolica.
Senti nauseas, tricampeão dando de bordas como se fosse um coroa fora de forma que recebeu wild card por piedade. Andy parecia acreditar que a qualquer momento seu surfe implacavel e conciso de 2004 ia voltar como num passe de magica.
Terá chance de entrar no ritmo em Bells (onde ja fez cinco finais, ganhou tres), Brasil e Jeffreys ou dará adeus ao circuito definitivamente.
Day one Quik Pro. from Steve Shearer on Vimeo.
Mick, Joel e Kelly
Nos ultimos cinco anos, a primeira etapa ficou entre um desses tres e foi entre eles a disputa ao titulo.
Um bom começo de ano denuncia uma boa preparação fisica e psicologica, Slater em 2006/08, Fanning em 2007, Joel em 2009.
Mick e Joel atropelaram dois promissores novatos como se fossem baratas. Brett Simpsom e Dusty Payne, tão temidos e celebrados, foram totalmente aniquilados pelo numero um e dois de 2009 - bem vindos ao World Tour.
Kelly começou irresistivel, ‘que tamanho Kelly ?’ perguntou Steve Shearer do saite Swell.net. 5’7’’, respondeu Slater.
Pequena sim, mas nada de estranho como aquela prancha usada em 2009. Na verdade uma copia duma prancha que ele tinha usado e vencido ali em 2006.
Cheyne Horan o chamou num canto, ‘Usa pranchas normais’. O conselho vinha do cara que mais sofreu com sua escolha de pranchas em toda historia do surfe profissional.
Cheyne Horan foi quatro vezes vice campeão e nunca abriu mão de usar suas Lazor Zaps ou Star Fin, isso custou-lhe pelo menos dois titulos, ele melhor do que ninguem sabe disso, ‘deixa pra fazer os experimentos fora da competição. Esse foi o erro que eu cometi...’ disse Cheyne e Slater ouviu atento.
Nas oitavas, Fanning deixou-se perder para Kai Otton caindo numa onda fundamental e Slater esteve fora de sintonia contra um bem centrado Jordy.
Joel sobreviveu apenas para...
Parko V Dane QF from Steve Shearer on Vimeo.
A carnificina
O texto acaba aqui, nesse paragrafo e em todo paragrafo escreverei sobre Dane Reynolds. Ele virou a medida para todo e qualquer surfe apresentado daqui pra frente no surfe profissional.
A terceira bateria da quarta de final foi uma exibição de gala do melhor surfista do mundo nesse inicio de 2010.
Essas coisas mudam rapido, por isso é bom deixar registrado.
Joel x Dane, duas forças opostas do surfe moderno.
Joel surfou o que podia, digamos 80 % do seu potencial, escolheu ondas boas do inicio ao fim, com toda sua classe e seus arcos tão bem desenhados.
Parko estava em casa, a torcida ao seu lado vibrava a cada manobra do idolo local.
A 6’1’’ do Dane fazia agora parte do seu corpo, uma arma, como um desses ninjas em filme de porrada rodando aquelas lanças e objetos pontiagudos.
‘Me sinto agressivo na onda’ confessa Reynolds.
Aquele sujeito de rosto perplexo e sereno (como pode estar sereno e perplexo ao mesmo tempo ?) transforma-se num selvagem em cima do artefato correto.
Dane Surra Parko na frente da sua casa, na frente dos seus amigos - num determinado momento, a torcida passa a vibrar tanto com o oponente quanto com o heroi local.
E de repente não há mais herói local.
Mineiro foi duma bravura indomita, como já é habitual e tanto nos orgulha.
Taj venceu Jordy numa final absolutamente sem graça, onde dois dos surfistas mais habilidosos de todo planeta surfaram de maneira conservadora.
Dane perdeu pro Jordy no duelo mais esperado de todo evento.
Jordy foi mais uma vez contido, ele finalmente aprendeu que não precisa fazer um monte de firulas para avançar num campeonato.
Eu tinha vontade de gritar pro Dane, ‘feijão com arroz...feijão com arroz...’, Trekinho no twitter avisava, ‘feijão com arroz pro Dane não funciona...’
Nas outras 3 vezes que Dane enfrentou Jordy, Tahiti e França 08 e J. Bay 09, não restou duvida de quem era o animal do circuito - Jordy foi totalmente arrasado nas tres vezes.
Essa foi a vez do Jordy se vingar.
Eu acho que uma grande rivalidade ta nascendo e conto os dias pra ver o pau comendo solto dentro d’água em 2010.
Que ano teremos, leitores.
Que ano!
Excelente como sempre Júlio!
ResponderExcluirMuito obrigado.
Diogo Alpendre
www.linhadeonda.blogspot.com
L´implacable. Cest magnifique, tres juste ... et tout en finesse. Bonne continuation et a bientot
ResponderExcluirDane e Jordy estão sobrando nessa turma de novatos.
ResponderExcluirAo Dane só lhe resta alcançar um pouco mais de eficácia nos scores...
ResponderExcluirO surf de backside dele em imbituba foi um prenúncio
Excelentes observacoes como sempre.
ResponderExcluirEstou rindo ate a agora com essa parte:
"Escuta Taj, diz a voz bem baixinho, não precisa arriscar tanto, nem fazer curvas tão perigosas e violentas, basta um feijão com arroz... "
Marcelo Bolao ( Huntington Beach )
eu nao tenho mais paciencia para ler o que vc escreve. tchau.
ResponderExcluirAgora que tive tempo para ler este post. Como sempre muito bom. Só queria deixar o link de um vídeo que editei faz um tempo, com as melhores ondas de Dane e Jordy no Quik Pro, se estiver com vontade de assistir, aqui vai o link: http://www.youtube.com/watch?v=d_5BIUTwiBE
ResponderExcluirAbraço