quinta-feira, abril 15, 2010

Pottz



The Wild One

[Quem acompanhou o Diario dos Sinos, reparou numa figura insistente.
Quando estive em Portugal para o The Search em 2009, João Valente logo me comunicou, Sabe quem vamos homenagear nesse ano na festa de fim de ano da Surf Portugal ? Potter.
Aquilo pedia um texto, escrito em seguida para as colunas na Surf Portugal e Hardcore.]


O inicio do texto era impecavel, te pegava pelo colarinho na primeira frase.
Deus chegou no Brasil - e ele usa dreadlocks.
O jornalista escrevia sobre Pottz, Martin Potter, o selvagem do circuito mundial, já não lembro mais se o autor era Derek Hynd, Nick Carroll ou Matt Warshaw, isso pouco importa agora.
O que interessa é que, antes de terminar esse ano devemos celebrar os 20 anos da conquista do título mundial pelo desvairado sul-africano Martin Potter.
E por que deveriámos fazer isso, pergunta um leitor mais afoito.
Porque, meu chapa, Pottz era o Dane Reynolds da epoca dele.
E era tambem o Jordy Smith e o Kolohe Andino, Mineirinho, Jadson, tudo junto num cara só.
Nunca houve um surfista no circuito mundial que tivesse um impacto tão grande no seu primeiro ano competindo quanto Potter.
Com apenas 15 anos, o garoto Martin Potter surgiu do nada para bagunçar o coreto do topo do ranking em 1981.
Fez a final no tradicionalíssimo Gunston 500, derrotando o camarada que mais tinha ganho esse mesmo evento, Shaun Thomsom, maior ídolo de toda Africa do sul, Pottz tinha tambem deixado pelo caminho o grande Dane Kealoha, uma especie de Sunny Garcia do inicio dos anos 80, ligeiramente mais agressivo com a prancha.
No campeonato seguinte, tambem em Durban, Potter continuou sua blitz na ASP e novamente bateu Shaun e Dane, provando que aquilo não era apenas sorte de principiante, mas talento grosso e ilimitado.
Os dois que ganharam de Potter nas finais foram Mark Richards, voces sabem, o tetra campeão MR, e Cheyne Horan, podemos dizer com alguma maldade que era o Joel Parko do seu tempo (apesar d’eu acreditar que Parko leva o dele em 2010, ou 11, 12...), não era pouca coisa prum menino que tinha até algum futuro como peladeiro mas preferiu o surfe - como Rob Machado.
Depois disso, preciso repetir isso porque sempre me impressiono com a idade, com 15 anos, Potter começou a seguir o Tour, veio ao Brasil (perdeu pro Fred), foi ao Japão (ganhou do Carroll e perdeu pro Rabbit, campeão do evento), fez mais uma semi na California e terminou seu primeiro ano em oitavo lugar.
Acho que aqui cabe uma bela exclamação, terminou o ano em 8º!
Com somente 5 etapas computadas - na frente dele todos tinham pelo menos o dobro das etapas.
Nos 7 anos seguintes, Martin Potter ficou entre o 12º e 5º lugar no circuito mas não foram os resultados que fizeram dele uma lenda no seu tempo.



Foi a velocidade, a audácia e a inovação que transformouaram Pottz num dos surfistas mais influentes de sempre.
Ninguem era estupido de perder suas baterias.
Tudo podia acontecer quando Potter entrava n’água.
A empolgação era a mesma que temos hoje com a turma citada no inicio do texto, Dane, Jordy e cia.
Matt Archbold confessa na edição especial de 50 anos da revista Surfer que a primeira vez que viu Potter surfar foi um choque.
A partir dali Archy sabia que se ele queria algo mais do surfe teria que surfar com a velocidade que aquele gorila de ombros largos e cabeludos imprimia na sua biquilha.
Os anos 80 tiveram 5 surfistas que fizeram a diferença: Curren, Carroll, Occy, Kong e Pottz.
Curren por toda maestria, Carroll pela violência dos seus ataques, Occy pelo talento sem fim, Kong pela brutalidade.
O resto era coadjuvante.
Com Potter era tudo ou nada.
Falava-se que era o maior surfista do mundo mas nunca seria campeão mundial.
Derek Hynd sentenciou: Título mundial - sem chance.
Em 1989, cansado de ouvir a velha lenga-lenga, Potter resolveu que treinaria serio para ganhar duma vez o seu caneco e foi então que o veterano surfista de 23 anos começou o circuito ganhando 4 das cinco etapas e partindo sem pena para cima dos adversarios.
Não foi tão facil quanto parecia, afinal de contas o circuito tinha 25 etapas e até o Pipe Masters, ultima volta do ponteiro, Dave Mcauley ainda tinha uma ínfima chance de ganhar.
João Valente, editor da revista Surf Portugal foi quem lembrou do feito e resolver homenagear Pottz durante o The Search Portugal.



Potter estava fazendo o webcast e ficou surpreso com a lembrança.
No dia da festa, a grande festa do campeonato, o Martin Potter que subiu pra pegar seu troféu não era mais aquela figura que intimidava surfistas com seu olhar furioso por tras das mexas revoltas.
Quem subiu para ser aplaudido por milhares de pessoas que ali estavam por outros motivos foi um camarada com cabelos curtos, quase calvo, ostentando uma serenidade incomum.
Me apressei para pegar um copo de cerveja e o esperei num canto.
Quando ele passou, lembrei do cara que passou por tres gerações de surfistas destruindo tudo que se movia. Lembrei do psicopata que enfrentava Slater, MR, Curren, Carroll, ou quem quer que aparecesse com a mesma furia.
Lembrei das noites ensandecidas e das hordas que Pottz atraia com seu carisma sem igual.
Lembrei dos primeiros aéreos e floaters into fakie que ele inventava na hora quando competia.
Lembrei dos posters, capas, das pranchas coloridas copiadas e esperei o momento certo.
Potter se aproximou, levantei meu copo na sua direção e ataquei:
Esse é pra voce Pottz!
Ele brindou e cada um foi prum lado, os dois sorrindo satisfeitos e orgulhosos pelo brinde.

26 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Um dos meus ídolos do surf, ainda tenho um poster dele guardado a desfazer uma onda com um grande rasgadão :)

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  3. Anônimo8:44 PM

    Deixei meu Strande Desires "original dos irmãos Lumbra" mofar há muitos anos atrás e me xingo até hoje...
    Abraço,
    Cezar

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  4. "Surfistas não são bons garotos..."
    Martin Potter

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  5. Anônimo12:21 AM

    "Nice boys don`t play rock`n roll..."

    Apesar disso, o CIRCO INSOSO e INFAME que se tornou o CT (já há muito tempo) esforça-se para VENDER formatos ideais de "atletas", na verdade, verdadeiras vitrines. Pobres desses "atletas". Parecem saídos d'uma letra de Roger Waters, d'um livro de Aldous Huxley, d`uma ironia de Saramago.

    CIRCO INSOSO e INFAME. O que são aquelas fotos dos surfistas nos videos de Bells? No que transformaram a Silvana Lima? O que são aquelas gringas com aqueles cabelos escovados, de maquiagem e sorrisos brancos? O que são aqueles gringos, cópias fiéis uns dos outros? E os nossos "guerreiros", num esforço absurdo e patético para serem...cópias de gringos? O Mineiro é o mais esperto, bem assessorado, tem um "manager" competente (!!), e mandou um boné estiloso na foto!

    Talvez todo esse lamento seja, na real, uma carência de "ídalos", como Potz, como Occy, como Peterson, como Fabinho foram (são)...

    CIRCUITO INSOSO e INFAME... e, por que não, racista? Que valor isso tem? Lembro-me do Gil, quando foi "agraciado" pelo Grammy em certo ano e nao foi buscar sua estatueta. Na oportunidade, disse que nem sabia direito o que significava "world music". Na real, CAGOU pr`aquela presepada toda. Nao precisava daquilo...

    Tudo bem, como brasileiro, gostaria de ver um brasileiro campeao daquela merda, rompendo essas barreiras todas, vencendo o preconceito etc. Algum significado, alguma simbologia, isso deve ter... Mas gostaria de ver um BRASILEIRO, nao um ensaio de "gringo-tupiniquim". Um BRASILEIRO.

    Gabiru

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  6. Anônimo1:11 AM

    E o cara ainda joga pingue pongue pacas!! ppu

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  7. Anônimo1:52 AM

    Caro Júlio

    Com imensa satisfação te reencontro depois de muitas idas e vindas, fraldas, mamadeiras e afins. E nada melhor que um texto teu sobre Pottz para marcar. É até difícil dimensionar o que esse sujeito representa para o surf. A força animalesca das curvas, o equilíbrio mágico entre vôos espetaculares e muita borda cravada com os shapes do Minami incendiando em labaredas. Sem contar o estilo. Pottz representou a mudança de paradigma. Se hoje em dia temos uma nova perspectiva do surf competição – e também da abertura de “mercado” para a turma soul surf - isto se deve a ele. Hoje vivemos uma lacuna de ídolos carismáticos no WT. Tá certo, Slater não entra nessa reflexão por motivos óbvios. Mas aquele ídolo que empolga, transgride, revolta (pergunte aos adversários que eram rodeados e estraçalhados pela fera babando), mas acima de tudo encanta – ah, isso está difícil. O esporte precisa de gente assim. Atualmente, vejo o circuito muito burocrático. Em certos momentos até artificial. Temos talentos incríveis, não se discute, mas o que falo é daquele tempero especial que todo o bom prato deve ter. Os tempos são outros, perfeito. Mas para quem pega onda (independente do nível técnico e da posição social) a rebeldia, adormecida ou não, é inerente. É dose pra leão, por exemplo, ver o Parko deixar escapar o título daquele jeito e se apresentar para a mídia com uma cara de seminarista numa manhã de primavera...

    O duro é encontrar no tour atual alguém que concentre numa única existência: a fúria, a intensidade, o talento e, acima de tudo, a autenticidade do ex-rasta.

    Grande abraço e estamos na área novamente...
    Sandro Waltrich
    Bal. Camboriú - SC

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  8. Abriu a cancela com Pottz, agora tem que dissertar sobre: Archie, Fletcher, Collins, Gerlach, Andino, Figueiredo.

    De quebra, manda uma playlist: TSOL, Hoodoo Gurus, Austalian Crawl, Lloyd Cole and the Commotions, Midnight Oil, INXS, Spy vs Spy, Big Audio Dynamite, Men at Work.

    (Ai, anos 80... Eu e minha quadriquilha da Energia, rosa choque com um raio no meio, que amarelou em 15 dias.)


    Obrigado Júlio,

    Angelo

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  9. Anônimo7:47 AM

    Que previlégio morar em Portugal e ter tido acesso a esse texto faz alguns meses! Brilhante, como sempre, sobretudo agora, depois de Bells, do Diário dos Sinos e de relido esse aí! ;)

    Aloha,

    MP

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  10. Henrique8:43 AM

    Estive em portugal e tive acesso a esta edição, bem bacana.

    Este link é o surf do Pottz
    http://www.youtube.com/watch?v=AFTEb_LM-hI


    Este aqui de títulos mundias da época:

    http://www.youtube.com/watch?v=kcnRcczVFr4

    Sei que esta amostra é tendenciosa...mas o que te empolgou mais de ver (interrogação)

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  11. Beach boi1:32 PM

    Gabiru
    infelizmente a marcha no mundo material impõe um comportamento wasp padrão
    se o Fábio Gouveia fosse a personificacao do ariano talvez multiplicasse $$$
    quem não e comunista ao 20 êh ruim do coração
    mas quem êh comunista aos 40 êh ruim da cabeça
    vc não tem escolha junte-se a nos
    não há escolha, seu bolha
    JA dizia a Patife Band
    pens e e dane

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  12. quem assistiu aquela final do alternativa de 89, na qual o pottz perdeu pro surf burocratico do macaulay, dando aéreo e rock in roll`, com aquela prancha com fogo e os cabelos rasta, não esquece nunca mais disso....até hj tenho aquele aéreo que ele mandou gravado na minha mente...sinistro!!!

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  13. como disse o angelo, falou do pottz agora tem que falar do archie, fletch, dadá...
    aquela final de 89 foi a parada mais anti-surf que eu já vi, desisti dos campeonatos ali...
    até hoje ninguém dá os rock'n'roll inventados pelo potter...
    deve ter a ver c/ aquela frase dele:
    "nice boys don't play rock'n'roll"...

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  14. brasa6:24 PM

    WCT = world cissy tour

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  15. Anônimo7:00 PM

    Archie,Fletcher,Dadá!!!!!!!!

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  16. Só para deixar o registro da bateria em que dei um WO de partir o coração. 13 Beach, Austrália. A segunda etapa do WT estava nas baterias finais daquele dia de ondas inríveis quando, no pico ao lado, vejo surfando, sozinhos, Nick Carrol e Martin Potter. Neco emprestou uma prancha para o Julin que foi feliz pro mar. Eu... fiquei na mão.
    Pottz entra numa esquerda pesada, cascuda mesmo, e manda uma curva de back pra lá de power que me levou de volta aos anos em que ele dominou o cenário... Não importa descrever o resto da "bateria" onde só houve um perdedor: eu. Trabalhar na praia é legal, mas, às vezes, dói.

    [ ]´s + (_ (__ (___ + PAZ > FUN
    EdiMilk

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  17. Anônimo9:05 PM

    Nostalgia da modernidade?

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  18. Anônimo9:49 PM

    lenda, mestre, guru, sei mais o que...a galera da nova geracao nao sabe o que perdeu...hehe

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  19. Anônimo1:22 PM

    E o cordão dos nostalsacos cada vez aumenta mais...
    B.

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  20. El Justicero1:48 PM

    Ah, vai tomar na b..., B.

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  21. Morley8:38 PM

    Grande Júlio! Tomando uma gelada, e ouvindo Iron Maiden, fico mais empolgado para escrever no seu blog. Não é que sóbrio não tenha o mesmo prazer...a primeira imagem que tenho de Pottz, é o cara saindo da água bem na minha frente durante o Alternativa em 89 - eu era um moleque fissurado por surf - e aquele troglodita, com ombros que valiam por dois caras, bufando de adrealina, me fita. Aquele olhar nunca mais esquecerei, parecia um animal depois da batalha. Até hoje, posso lembrar dos floaters voltando de rabeta na queda, inacreditável. Nunca vi aquilo, nem os surfistas do circuito da época. A não ser o americano louco Richie Collins. Visionário ao extremo, esse era Mr. Pottz!!

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  22. João Carlos Guedes da Fonseca7:51 PM

    Caro julio;

    belo texto, cuidadoso. Como já disse, gosto muito de seu texto, de sua procura por um estilo capaz de dar-lhe, no trato da língua, um certo contorno. Pois bem, assim o fez. Parabéns pelo trabalho. Sem parecer invasivo, creio que seus comentários não deveriam ser tão esparsos.

    abs João

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  23. João Carlos Guedes da Fonseca7:51 PM

    Caro julio;

    belo texto, cuidadoso. Como já disse, gosto muito de seu texto, de sua procura por um estilo capaz de dar-lhe, no trato da língua, um certo contorno. Pois bem, assim o fez. Parabéns pelo trabalho. Sem parecer invasivo, creio que seus comentários não deveriam ser tão esparsos.

    abs João

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  24. Este comentário foi removido pelo autor.

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  25. aquela final de 89 foi a parada mais anti-surf que eu já vi, desisti dos campeonatos ali...
    até hoje ninguém dá os rock'n'roll inventados pelo potter...
    deve ter a ver c/ aquela frase dele:
    "nice boys don't play rock'n'roll"...(2)

    GENIAL

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