terça-feira, junho 16, 2009

Clifford Everett "Bud" Shank Jnr, saxofonista e flautista - 27/05/1926 - 2/04/2009

Escrevi em abril de 2004 para o jornal O Globo assim -
[Bruce Brown, sempre lembrado pelo clássico “Endless summer”, conheceu o saxofonista e flautista Bud Shank e o convidou para gravar, pela primeira vez!, uma trilha para seu filme de 1958, “Slippery when wet”.
Como assim, ‘gravar pela primeira vez’ ?
Explico: antes de ‘Slippery…’ a trilha era composta de temas da predileção do diretor, retirados diretamente da coleção pessoal ou emprestado de um benfeitor.
Tudo combinado, Shank e seu quarteto encontraram com Brown no estúdio da Wolrd Pacific Jazz, deram um jeitinho de projetar o filme já editado na parede e mandaram brasa.
Sempre instrumental, afinal as trilhas precisavam respeitar a narração obrigatória, o gênero preferido naturalmente era o mais popular entre a moçada, portanto, o jazz.
]

Bud Shank se foi e eu soube apenas um mes depois, demorou mais dois para escrever sobre a perda.
Shank era um gigante, tocou com todo mundo e todo mundo tocou com ele.
A flautinha no classico Pop California Dreaming dos Mamas e Pappas é dele.
E como poderia deixar de ser ? Ele era o som da California desde o inicio, junto do Stan Kenton, Chet Baker, Dexter Gordon e até o malucão Ornete Coleman.
Gravou uma serie antologica de discos com Laurindo de Almeida, Braziliance 1, 2 e 3.
Amava a musica e o povo brasileiro, combinava com João Donato como goiabada e queijo, esteve aqui em 2004 pro Chivas Jazz e logo arrumou um jeito de entrar mais uma vez no estudio e registrar outro encontro com Donato (voltaria mais uma vez para um DVD).
Sua discografia é desconcertante, tocou até o ultimo dia, apesar do seu medico ter alertado do risco que corria, morreu tocando.
Tive o cuidado de selecionar para os meus 5 leitores 2 discos fundamentais na nossa fabulosa discoteca de trilhas de filmes de surfe.
Barefoot Adventure e Slippery When Wet são duas duas perolas do West Coast Jazz e a lenda por tras dos discos são tão boas quanto.
Como gosta de contar, Bruce Brown tinha ainda ainda uns trocados que sobraram do orçamento de 5.000 Dólares do Slippery when wet e desta vez ele queria uma trilha fora do comum.
Shank tocava toda semana num bar em Hermosa Beach e toda turma ja conhecia os Lighthouse All Stars e as interminaveis sessões de improviso que eram capazes de criar.
Bruce foi até o minusculo escritorio do World Pacific Records em Los Angeles e projetou o filme ali mesmo para a banda de Shank assistir e inventar uma trilha literalmente epica.
Barefoot Adventures teve numeros absurdos pra epoca: vendeu 10.000 copias.
Um numero tao improvavel que a gravadora não tinha dinheiro para pagar os royalties da banda e teve que comprar equipamentos a prazo para compensar.




3 comentários:

  1. excelente texto Julio. Cansei de ouvir esse som nos filmes do bruce brown...

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  2. Não sei o porquê coisas antigam me fascinam tanto. Será a pureza?
    é provável.

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  3. Anônimo2:34 PM

    Que perda ....
    E que espetáculo de artigo Júlio.
    Abs,

    Pedro Themudo

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