[Coluna Tempestade em copo d'água>Revista Surf Portugal 171]
A mais famosa de todas, de Hokusai.
“No início pareceu-me que um blogue sobre surf seria uma estupidez”, escreveu o Pedro em Novembro de 2003. Escreveu mas cometeu a tal estupidez, talvez por duvidar um pouco da própria sentença. Dessa frase simples nasceu o coletivo/blogue Ondas um jeito completamente diferente de olhar para o surfe da forma mais antiga que existe: com encantamento.
No início era o Pedro, ou melhor, dois Pedros – Adão e Silva e Arruda – dividindo textos com o desconhecido mundo virtual que chega ora no Japão, ora na casa ao lado, sem jamais sabermos quando, onde ou porquê. A liberdade da grande rede permitia tudo, dicas de discos, frases, fotografias ‘roubadas’ de outros saites, pensamentos soltos, crônicas, experiências, qualquer coisa que nos remetesse ao mar. Foi lá que descobri, sem nem reparar, que Jacques Brel tinha fascinação pelo mar, escrevia letras belíssimas sobre o tema e de alguma forma falava diretamente comigo, que não tinha nada de ver com a história – não entendia picas de francês e achava aquilo tudo, do Brel, coisa de gente que usa pouco desodorante.
Entrou o Hugo Valente, em seguida o Manuel Castro e o Vasco Mendonça e as coisas esquentaram pra valer. Fui aos poucos me viciando naquilo, visitando diariamente, para começar, e quando me dei conta já dava uma meia-dúzia de olhadelas diárias para checar as atualizações.
A grande diferença e marca do coletivo Ondas é justamente jamais tentar explicar ou sintetizar a experiência pessoal de cada um, desastre comum em blogues e revistas especializadas mundo afora. As fotografias, cuidadosamente escolhidas, têm apenas um singelo título: Mundo Perfeito. Ninguém ali está afoito por explicar como é maravilhoso surfar, ou fazer confissões infantis dignas da maioria dos blogues que abundam pela rede. Pelo contrário, ali estão sutilezas de quem entende que meia palavra basta. Poemas da Sophia, frases do Henry Miller, discos para ouvir antes e depois de surfar, Miles, dEUS, Ride, Pixies… tudo misturado, para todos gostos. Como as ondas, ora bolas! Adicionaram o Miguel Bordalo, que tem uma voracidade invejável para escrever sobre os campeonatos e o faz com opinião e autoridade, qualidades que andam meio brigadas ultimamente.
Em Março de 2004 resolvi imitar descaradamente o Ondas e lancei-me de coração em direção à rede, sozinho, decidido. Ainda não sabemos direito para que serve um blogue efetivamente, se é que serventia há para essa estranha e sedutora ferramenta de comunicação. Nos serve para saciar a curiosidade que temos de saber o que o amigo ao lado ouve antes de entrar na água, o que ele leu para escrever aquelas coisas bonitas que nos parecem tão óbvias mas que, no entanto, nunca nos ocorreu escrever. Serve, nesse caso específico do Ondas, como um estacionamento em frente ao lugar onde temos a melhor condição do dia – todos dias – e onde nos detemos para conversar sobre a expectativa que antecede a completa inutilidade de ir buscar ondas lá fora, e que ficará apenas na nossa memória, talvez nem isso. Serve para dizer, alto e bom som, por escrito, que aquilo que você tem, por mais especial que seja, também temos todos nós, igualzinho.
No ano passado fui convidado para fazer parte do Ondas e me senti um pouco desconfortável. Justo eu, um imitador barato, ter meu nome associado aos camaradas que me inspiraram, parecia-me de alguma maneira errado. Aceitei. Desde então não escrevi um único texto exclusivo para o Ondas e tampouco fui cobrado. Pedro Adão e Silva é hoje colunista da SURFPortugal graças aos seus textos elegantes e precisos no Ondas e o Manuel Castro ocupa a cadeira de editor na revista e doou sangue novo à publicação. Os dois fizeram o ciclo completo, do real (impresso) ao virtual.
Arrisco dizer que não há, em nenhum idioma, tanta gente talentosa, produtiva e generosa, oferecendo ao leitor textos, compartilhando considerações sobre CDs, DVDs e livros, poemas, citações sobre nosso universo grandiosamente pequenino, como o coletivo Ondas, que o faz meramente pelo prazer de dividir, gratuitamente. Os camaradas dão-nos Ondas sem pedir nada em troca. Se alguma vez houve um ato que resume bem a essência da ociosidade que é estar na praia, estejam certos que o caminho é esse mesmo.
Gosto muito do "Ondas" , e admiro tudo que é escrito por lá, mas prefiro a "cópia barata " .... sério.
ResponderExcluirJuan Tamarindo
Yo no se de cual gusto mas. Ambos son optimos!!!
ResponderExcluirNiegà
Meu Caro Julio
ResponderExcluireste texto é manifestamente exagerado, mas a gente agradece, elogio vindo de quem a gente admira é mais saboroso
:)
aloha