sábado, novembro 25, 2006

Atacado

A merda de envelhecer é assistir camaradas que admira morrerem de atacado.
Puskas, Palance, Altman e Noiret passaram dessa pra melhor.


Um canhoto formidável

Ferenc Puskas era o Phil Edwards do futebol, o jogador que nem todo mundo viu jogar mas considerado um dos 5 maiores da história.
Meu Pai gostava de dizer que Puskas era baixinho e gordinho (todo baixinho e gordinho era genial pro papai), conduzia a bola com o pé justinho nela, encostadinho, ninguem tirava a bola dele, dizia - e como chutava!
A seleção Húngara bi-campeã olimpíca e vice na Copa do Mundo de 1954 é quase uma alucinação coletiva e Puskas era o jogador que todos sonhavam em ser.


Mestre da sétima arte - e oitava, de costurar histórias.

Robert Altman tinha a mesma elegância do húngaro, artes diferentes, paixões semelhantes.
Altman brincava com cinema como Puskas com a bola, driblava os roteiros e deixava os atores jogarem por música, o que nem sempre os agradava, burocráticos e adestrados como nosso meio de campo atual.
A primeira cena do 'O Jogador' (The Player, 1992, EUA) é formidável e define bem o estilo que eternizou Altman, disperso, mordaz, preciso.
Altman, no nosso meio, seria um Chris Brystron, idolatrado pela turma que se aprofunda no papo e deixado de lado pelos arautos dos incautos (uma rimazinha barata pra demonstrar veia poética medíocre).


O homem que todos amavam odiar

Palance, Jack Palance, foi o melhor homem mau que o cinema já teve.
Atuando em 'Os Brutos tambem amam' (Shane, 1953), Palance nos fez cerrar os punhos com raiva e no hilariante 'Amigos, sempre amigos' (City Slickers, 1991, EUA), mostrou que o segredo é nunca se levar a sério demais.
Palance deve ser o nosso Ian Cairns, com desvantagem para o australiano no quesito distinção.


O fino do humor

Por último, outra perda inestimável (como estimar uma perda?), Philippe Noiret , um monstro de ator, que jogou nas onze posições do campo.
Meu predileto dele não é nem 'O Carteiro e o Poeta', nem 'Cinema Paradiso', dois filmaços que merecem ser vistos de dois em dois anos para nos certificarmos que ainda não perdemos completamente a humanidade.
Escolho 'Meus caros amigos' (Amici Mei, 1975, Italia), do Mario Manicelli, com sua antológica e esporrante cena de abertura.
Dale Velzy seria um personagem parecido com Noiret.
Queiram desculpar a série de analogias, é o calor embaralhando os miolos.