quinta-feira, agosto 10, 2006

Occy faz 40




[Texto da Revista Surf Portugal, Junho 2006]

40 – 10

Em 1996, aos trinta anos, Occy lutava no WQS para requalificar-se entre os melhores do mundo segundo a ASP.
Meu Deus, faz dez anos.
Parece ontem.
A história começa mais ou menos assim: Kelly Slater não tinha rivais, tanto que, dos 14 eventos venceu 7, metade. O mundo clamava por um anti-herói, ou melhor, um guerreiro ressurgido das trevas para combater, pelo menos ameaçar Slater.
Eis então que no meio desse atribulado ano de 1996, a Billabong convida Occy para o WCT de Jeffrey’s Bay.
Não era novidade o convite, desde que a marca alavancou Occy através da genial idéia do Jack McCoy de realizar um desafio entre os pesos pesados do surfe, o Billabong Chalenge.
Nesse desafio, a mente doentia do McCoy escolhia a dedo, Slater, Machado, Sunny, Egan, Johnny Boy (peso pesado, não ?), Dorian, Knox, Curren e outros excepcionais, para se enfrentarem nas melhores condições possíveis: Ondas perfeitas e perigosas, juízes exigentes e uma equipe de filmagem para registrar tudo.
Abro um parêntese aqui apenas para lembrar ao leitor que o impacto desses desafios foi tão grande que a ASP se quase obrigada a ‘inventar’ o circuito de sonhos como conhecemos hoje – apesar da Quiksilver já ter realizado um espetacular evento em G. Land, um ano antes, mas isso é outro papo.
Falava do Occy e sobre o Ogro continuo.
Num admirável ressurgimento comparado apenas ao de Mark Richards no Billabong Pro em Waimea/Sunset em 85 e 86, vencendo os dois, mesmo depois de abandonar o circuito (talvez Michael Peterson ganhando em Burleigh, março de 77, o evento inaugural do IPS) Mark Occhilupo deixou a comunidade do surfe estupefata com o nível do surfe que apresentou nas paredes de Jeffrey’s.



A frase acima não faz jus ao choque que Occy causou nos seus companheiros demolindo ondas com o mesmo surfe que quase uma década antes estabeleceu o que seria, e é, o melhor backside de todos tempos.
A sensação de quem assistia aquele WCT (e acreditem, ninguem, afirmo sem pestanejar, ninguem perdia as baterias do Oco, inclusive e principalmente Slats e cia) era que Occy não apenas merecia estar entre os top 44 como talvez fosse o único surfista capaz de ameaçar Slater.
O garoto de 30 anos estava exultante com a chance de brigar com os top 44 e ainda literalmente lutava com todo resto dos competidores do mundo tentando requalificar-se no WQS.
Curioso que escrevo isso ao mesmo tempo em que Occy surfa mais onda ridícula na disputa contra Jarrad Howse (12 anos mais novo) no WCT do México e os locutores vão a loucura.
Foi assim tambem em Bell’s, ainda nesse ano, quando o Ogro australiano surfou a melhor onda do campeonato no confronto com nada menos que Andy Irons, outro fã declarado e companheiro de equipe.
Naquele longínquo 1996, Occy termina o ano entre os 20 do WQS, classifica-se por pouco para o WCT e em 97, para voces verem que eu não estava brincando quando escrevi real ameaça, em 1997 Occy fica atrás somente do Slater no ranking do WCT.
Perceberam ?
Do WQS para vice-liderança, um feito assombroso para qualquer surfista do planeta de qualquer idade – Occy, tinha 31 anos.



No ano seguinte, depois da euforia do segundo que era quase como um primeiro, porque Slater dominava tudo com tanta autoridade que nos parecia sem rivais, o surfista com o maior queixo que jamais vimos vence em Bell’s com um desempenho que entra, esse tambem, para os livros de história – fecha o ano como sétimo do mundo.
Nesse exato momento, por coincidência, ouço Occy dar uma entrevista na cabine do locutores no Rip Curl Pro Search do Mexico e não sou capaz de entender uma palavra sequer.
E precisa ?
A razão desse texto quase didático sobre um dos 5 sufistas mais influentes da nossa história é o aniversário de 40 anos do Mark Luciano Occhilupo.
Desafio o leitor a se imaginar com 40 anos - isso, portanto, não vale para surfistas de mais de 39…
Nos nossos delírios mais desatinados não somos capazes de imaginar um futuro tão brilhante.
Ainda não falei de 1999, ano da redenção, quando Occy arrastou o primeiro WCT realizado em Teahupoo, o Gotcha Tahiti Pro, o Quiksilver Fiji Pro e o Billabong Pro em Mundaka, duma vez só.
O locutor agora implora para Occy nunca deixar o circuito.
Eu faço coro.
Que jornada extraordinária.



Occy fatos

Pipe Master em 85 num Pipe gigante, batendo o favorito Ronnie Burns na final.

22 finais na ASP

Chamou os americanos de punheteiros numa entrevista para a revista americana Surfer
‘I’m gonna stop these american wankers’

Bateu Curren em casa, Huntinghton Beach, na frente de 60.000 espectadores e passou a ser imitado em todas praias que tinham um surfista ao menos.

Em 84, com 17 anos, reinventou o surfe de costas pra onda e humilhou Hans Hedeman na final do Country Feeling em Jeffreys Bay.

Em 92, depois de tentar mais uma de suas voltas, tem uma crise e enterra suas pranchas nas areias de Hossegor

Seu nome de batismo é Marco Luciano Jay Occhilupo.