domingo, julho 02, 2006

Vida que segue



[Comentário na Rádio Tupi, 5 de julho de 1982

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Bom. Como é agora, eu não sei, é... campeão moral? Esse troço de campeão moral eu já estou cheio. De qualquer forma, eu espero que o futebol brasileiro tenha dado uma demonstração ao seu público de que é um futebol de primeira qualidade. Faltou comando e faltou modéstia.
A Itália jogou um futebol trancado, jogando bola pro alto e fazendo cera. O tempo inteiro. Tentando passar, pudera. Recebeu dois gols de presente. Assim é muito fácil. Espero que sejam banidos do nosso futebol todos esses inventores que desafiam as leis lógicas, as leis mais simples da geometria. Estamos jogando num retângulo, de ângulos perfeitos. Como é que se entorta o jogo? Se a bandeirinha do corner fosse a baliza, então sim, junta o bolo, naquela direção, torta, enviesada. Mas não. A distribuição dos homens tem que ser em toda a dimensão do gramado. Nosso time pegava a bola e não tinha jogada pro lado direito. Tinha que esperar o Leandro vir lá de trás. Ora bolas. O macaco, macaquinho, deixou de namorar a girafa por causa disso. E' muito penoso ir lá em cima dar um beijo. Vir cá em baixo e pegar a mãozinha dela. Ir de novo. E cá. Não dá. O Leandro podia fazer duas ou três vezes, mas não fazer o ano inteiro.

Quer dizer, tantos crimes, tanta burrice, tanta teimosia, tanta empáfia, tanta falta de modéstia. Apesar da estrondosa habilidade. Apesar de podermos chamar o nosso time o "time-admiração". Apesar disso tudo, nós entregamos a rapadura. A burrice, a teimosia, a falta do menor discernimento do que é o jogo. A competição permanente entre jogadores, criando um ambiente que não é bom. Até hoje não se sabia quem era quem. "Todos jogam; todos são efetivos; todos são reservas". Isso são palavras vãs. Enfim, há o merecimento da justiça, da técnica moderna, que ocupa todos os espaços do campo, aproveita tudo, que a moderna preparação física dá aos jogadores uma vitalidade tamanha, que qualquer espaço tem que ser aproveitado. Nós jogamos sobrando em qualidade, mas dando vantagens táticas fabulosas. Assim não é possível.

Perdemos, paciência. Campeão moral? Pra mim não me serve. Campeões da burrice. É, campeões da burrice tática. Esse título me parece mais apropriado. Era o que eu tinha a dizer.]

Retirado do saite netvasco

Um comentário:

  1. Anônimo1:56 AM

    Contraditório. "Vida que segue" mas olhando para idos de mil novecentos e oitenta e dois, século passado e o escambau.
    Era melhor falar do Pan de 2007 ou o próximo dábliubucetê

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