Ataque nunca foi meu forte, tenho péssima pontaria.
A turma não engole a ironia porque não sabe mastigar e a engole como insulto.
Voce discorda das idéias, da exposição que elas ganham nesse mundo de aflitos, mas pode, e deve, separar o homem da obra.
Gosto de lembrar sempre do Borges, detestado pelas idéias (vade retro) e idolatrado pela literatura (amen).
Querem outro ?
Jabor, sujeitinho duma vaidade desmedida, dono de um texto afetadérrimo e previsível como uma casca de banana, provavelmente deve ser um bom papo - pra quem tem bolas de ouro e saco de amianto.
Mas vejam o exemplo do Jabor: foi um péssimo diretor de cinema, mas em contrapartida é ainda um pior escritor.
A horda de assustados saboreia. Fiquemos com Borges, apenas.
De volta ao nosso mínimo universo do surfe, incomoda ver gente de fora cantar de galo nesse terreiro.
Somos desprezados pela grande e pequena imprensa que coloca gente completamente despreparada para coberturas dos campeonatos, roupas são vendidas aqui com toda aura de sol e mar, sempre com um surfista imponente enquanto o surfe carioca afunda em areia movediça.
O Rio, o surfe do Rio, nunca esteve tão desamparado.
Por outro lado, deixamos as novelas mais 'bonitas' com bonecos de inflar simulando situação de praia. Nesse mesmo lado, o Rio de janeiro virou conceito de marca, que quer ser 'carioca' sem sujar os pés de areia, nem as mãos de graxa.
Bacana ser malandro sem precisar se envolver com a malandragem.
Frequentar butiquim limpinho.
Ainda assim, aparece um Pedrinho daqui, um Trekinho dali, os irmãos Vargas, que mesmo sem a efervescência dos 80 (Company/Cyclone/Redley/Visual/Realce) conseguem com sua própria força de vontade o destaque merecido.
Tudo que peço é um pouco, só um tiquinho, de moderação quando se referirem ao passatempo do Duke, como fez a Tim, que gastou dinheiro e fez uma bela campanha onde surfistas sentem-se honrados, fato raro, vindo do meio empresarial.
O texto abaixo foi encomendado pelo Tucano, que entre centenas de empreendimentos, apoiou o primeiro livro de poesias do Pepê, sem no entanto cobrar 'retorno'.]
Texto para revista ‘Star-point’ - Maio de 2005
‘Quero ver o sorriso estampado
Pela cara dessa gente
Quero ver quem vai, quem fica
Ou quem chega de repente’
Tudo está no seu lugar, música de Benito de Paula, pelos idos de 76.

De Paula, momentos antes do desfile da coleção inverno 2007 da Griffe 'Meu amigo Charles'.
A grande contradição é entre o egoísmo e a abnegação.
Uma dúvida dolorida que nos atormenta da hora em que colocamos a cabeça pra fora do ventre materno até o grandioso momento de abotoar o paletó de madeira: dividir ou esconder ?
Sem pensar duas vezes, um guarda o conhecimento como o personagem da trilogia ‘Senhor dos anéis’: Precious, precious…
Enquanto o outro, logo ao lado, mostra sorridente à todos sua preciosidade.
Tal tesouro pode ser o disco do Coltrane com Johnny Hartman ou uma praia no litoral norte de Zampa.
O ano, 1960, John Severson ouve Laurindo de Almeida no rádio enquanto pensa em publicar um programa mais elaborado com fotos, para divulgar seu terceiro filme, Surf Fever, que chamaria de The Surfer.
Shirley Mac Laine deslumbrante fazia dupla histórica no cinema com Jack Lemmon em ‘Se meu apartamento falasse’, do diretor colecionador de Oscars, Billy Wilder, enquanto o mestre dos sustos, Hitchcock, lançava seu clássico ‘Psicose’.
Severson se surpreende com a popularidade da sua publicação e nasce ali uma periodicidade sem interrupções de 45 anos.
A fotografia clássica do jovem empreendedor sentado numa cadeirinha na praia catando milho na sua Remington enquanto ondas podem ser vistas ao fundo, talvez um dos momentos mais influentes de toda história desde Duke elegante em Waikiki.
Trabalhar na praia.
As cores da turma do sal-e-sol eram tão variadas quanto permitia a emergente psicodelia.
Mickey Dora estabelece ordem hierárquica na Meca do estilo, Malibu, enquanto Phil Edwards começa a se aborrecer com toda pompa que sua antiga rotina parece atrair.
Dividir ou não ?
A cultura de praia do jeito que conhecemos hoje começa ali.
Os principais articuladores terminam como anarquistas, artistas reclusos, rebeldes ou solitários convictos.
A lista é grande: Brian Wilson enoluquece, Dora foge, Edwards some, Leary vai em cana, Severson vende tudo, Bunker morre e Hendrix avisa: voce nunca ouvirá surf-music novamente.
Lojas brotam como erva daninha, revistas engrossam, pranchas diminuem, cabelos crescem, mentes se expandem…
Tudo isso, embrulhadinho, vende que é uma beleza.
Os sessenta, os setenta e agora os oitenta (em breve os noventa), são produtos, deixaram de ser décadas.
O seu esporte predileto, ou o meu, passa agora pela caixa registradora e vem com nota fiscal.
A legitimidade é um certificado lavrado por designers descolados.
As sentenças são repetidas como mantras, curtas e definitivas – e mentirosas, como acima.
Recebo em casa um catálogo da H. Stern com nova coleção de relógios, um papel caríssimo, bela diagramação, inspirado no Arpoador anos 60, surfistas, calçadão tradicional com pedras portuguesas, belas mulheres.
Tenho ânsia de vômito.
O texto nos comunica que o autor é surfista.
Dois anos antes uma revista semanal de diário carioca informa que o surfista da frase anterior é ex-surfista, como se fosse uma fase, um mero período de transição para um estado superior de, imagino, escala social.
Sou ex-croto, temo afirmar, copiando descaradamente meu oráculo, Fausto Wolff.
Não sei ainda quem vai nem quem fica, mas reconheço na mesma hora quem chega de repente.