As fábulas de Esopo traziam animais que representavam a alma humana, com toda sua sujeira e toda sua grandeza - a vida de escravo deve ter servido bem à isso.
Coube ao poeta Francês Jean de La Fontaine recuperar e reunir os textos de Esopo, isso lá pelos idos do século XVII, num livro chamado 'Fábulas escolhidas'.
A moral no final de cada uma das estórias é a grande sacada de Esopo/Fontaine - onde adultos e crianças param e pensam onde se encaixam na sociedade.
Todos calhordas e heróis estão nas fábulas.
La Fontaine é considerado o pai da fábula pela pesquisa que fez sobre a forma e por resgatar estórias esquecidas pelo tempo.
Uma das fábulas mais famosas de Esopo, O Asno, a Raposa e o Leão vai mais ou menos assim:
Um Asno (voces podem trocar por imprensa), uma Raposa (optem, talvez, por ASP) e um Leão (Neco, sabem que ele é leonino, pois não ?) aliaram-se para sair atrás de alimento (grana).
A Raposa, mais astuta, arquitetou o plano, o Asno, mais burro, fazia muito barulho galopando ia na frente pela selva para alertar os animais da presença do Leão.
O Leão, sendo mais forte, capturava os animais, mesmo fugidios.
Ao fim da caçada, o Leão pediu à Raposa que dividisse a caça em tres partes iguais. Feita e partilha, o Leão voou no Asno e devorou-o, depois disse sonso para Raposa: A primeira parte é minha, por ser o rei da selva. A segunda parte é minha por ser teu sócio e a terceira parte é minha se voce não quiser que aconteça contigo o mesmo que fiz ao Asno.
Moral da História:
Cuidado com quem voce se associa, os mais fortes sempre ganham no final.

Usado descaradamente para dar exemplo num surto de hipocrisia da ASP e imprensa, Neco mostrou mais uma vez quem manda.
Essa vitória do Neco representa bem mais para mitologia do esporte do que a volta triunfal de Fanning em 2005.
Aqui vence o mais forte.
Atentem que Newcastle não fica na América do sul, a torcida não era catarinense nem carioca, o júri internacional louco para deixar o caneco em casa.
Foram 12 baterias, pelo caminho ficou o gigante Occy, favorito da torcida e recem chegado duma vitória controversa em Margareth River. Occy estava engasgado desde uma derrota esquisita no Japão, naquele ano fatídico onde tudo conspirou para o título redentor do queixudo.
Nenhum outro atleta foi punido pela ASP desde o afastamento de Neco.
Ninguem foi tão espezinhado pela imprensa quanto Neco pelo seu trauma em Teahupoo - talvez exceto pela maldade feita com Vitinho quando saiu duma bateria em Pipe sem surfar uma onda.
De contrato novo com a Mormaii, que finalmente parece disposta a abrir o cofre para pagar decentemente um atleta, Neco peita seus detratores mostrando que a raça é ainda maior que seu talento.
Completa 30 anos dia 11 de agosto, provavelmente comemorará em Lacanau, dentes trincados esperando pela sua bateria no seis estrelas.
Arrisco dizer que nessa altura já estará matematicamente classificado para o 'CT 2007 - metade do ano, digo eu.
A história é rica em personagens malditos e geniais: George Best e Romário, Gainsbourg e Tom Zé, Brando e Penn, Ali e Tyson.
Antes de Mineirinho, Neco era a grande sensação.
Com menos de 13 anos de idade era apontado por Derek Hynd como 'futuro do surfe' numa viagem que fez pela Europa com seu 'mentor' Avelino competindo apenas nas 'expression sessions' e fazendo o mundo inteiro parar e prestar atenção na novidade.
Ainda sem completar 15 anos venceu etapas do circuito profissional catarinense e causava espanto pela diminuta estatura.
Ninguem mais lembra de nada, pelo menos não se publica o que poderia ser lembrado.
Rob Machado acha que foi sacaneado pela ASP e só faz chorar pelos cantos o quanto o circuito perde sem um surfista como ele - incapaz de um retorno desses, como do Neco.
Um retorno de quem vai catar migalhas no chão, uma a uma, até conseguir o que quer.
Machado queria um convite, Neco quer uma chance.
A caça começou.