
Enquanto seu Lobo não vem com o swell, a turma sai como pode do labirinto de (des)informação.
O sonho de miss de todo jornalista aprisionado na Ilha da magia é dar de cara com Elslator e La Bundchen, com trema, dividindo uma bela garrafa de vinho de segunda em restaurante de terceira.
Alguns, aflitos com falta de pauta, superam-se criando a pauta da falta de pauta.
Enviado de grande representante da imprensa carioca, mais cego que perdido em novela de faroeste da platinada, bosteja sem medo do dia de amanhã - ninguem dá bola mesmo pra surfe no jornal onde trabalha.
'Escreve qualquer merda', orienta o chefe de redação de periódico esportivo, surfista não sabe ler e os que sabem, leêm revista de surfe, dá no mesmo.
Aqui, no parágrafo acima, a porca torce o rabo.
O surfe não tem uma cobertura decente na imprensa impressa porque está sempre aborrecido ou está sempre aborrecido porque não tem cobertura decente ?
Quer dizer que falta de ondas é manchete ?
Temos 48 surfistas disponíveis para um papinho furado, assessor de imprensa e tudo, fotógrafos, empresários, gatchinhas, organizadores, mudelo e manequim atravessando a rua pra lá e pra cá, os incasáveis baba-ovo(s) da A.B.O.G., os sempre solícitos aviõezinhos, toda sorte de gente que orbita um Dabliúcetê e nada de assunto.
'Como tem sido seu ano, fulaninho ?' Pergunta circunspecto o repórter de testa franzida.
'Dei essa resposta para o cara de boné, tatoo gigante no braço e camisa da Hinano nem faz 5 minutos.' Responde entediado o tope 36 sem alterar o tom de voz.
'Suas expectativas pro futuro?', sorri vitorioso o pobrezinho...
'Pergunta pro baixinho de óculos Chips e costeletas ou pro magrelo de cavanhaque e piercing que eles acabaram de fazer a mesmíssima inquisição...' replica o gringo sem olhar pro malandro e emenda, 'Se quiser saber mais alguma coisa, passa no quarto com uma mutuca de fumo ou poeira e depois a gente vai pra noite', pelo menos o cara arranha um inglês, pensa cá com seus botões o camarada de nome difícil.
O rosto do repórter ilumina-se.
Enquanto o próprio surfe não se levar a sério e exigir cobertura decente dos grandes veículos, o esporte não sobe o degrauzinho de um tênis ou volêi.
Nem o saite exclusivo do campeonato se dá ao trabalho de realizar uma única entrevista fora do protocolar bê-a-bá do jardim de infância.
Não há, repito, não há imprensa séria envolvida com o surfe no Bananão.
Ficamos na periferia dos deslumbrados.
Estamos tão bêbados de gratidão pelos idolatrados 44 estarem aqui, sim aqui, na nossa imensa e humilde choça, que nos basta.
Pronto.
Somos puro regozijo pela enorme gentileza que nos concede a ASP em permitir que nós, singelos terceiro-mundistas, possamos desfrutar da companhia de vossas altezas do reino do WCT.
Não os trataremos, portanto, como humanos, devemos nos portar com submissa reverência e jamais parar de sorrir enquanto na presença de alguem que fale idioma distinto do nosso - o que exclui os portugueses de tal comportamento, evidentemente.
Jamais contrariar ou discordar de um surfista ranqueado nos 120 primeiros lugares dos rankings combinados WQS e WCT, contanto que não fale português.
Evitar emitir opiniões.
Escrever sempre idade, local de nascimento e colocação atual, usar Google, perguntar ao colega da cadeira ao lado.