[texto da revista Surf Portugal, Outubro 2005, Nº153]
Curren
Se alguem ousasse dizer, no arder dos findos anos 90, que o um surfista de 41 anos de idade seria o destaque da etapa do WCT em Trestles, onde o surfe respira cifrões como num quadrinho do Tio Patinhas, arriscaria a ouvir uma sonora gargalhada acompanhada dos maiores desaforos e deboche para mais de mês.
Tom Curren passou pela triagem de 16 estrelas, que incluía Bob Machado, levou cano na primeira fase e bomba na repescagem, mesmo assim só se falava dele de Imperial Beach até Steamer Lane.
Curvou-se Andy Irons, derramando elogios ao tambem Tri-campeão mundial depois da bateria que competiram juntos na primeira fase: ‘O cara é uma inspiração! Olhando sério pra mim e encarando como fazia nos anos 80… e as suas famosas rasgadas, na minha frente, jogando água no meu rosto…o cara é sensacional…ainda ebm que tive uma ajuda dos juízes’ – faltou agradecer ao TC por ter espirrado água santa e pedir autógrafo.
Exageros à parte, a inversão do culto ao teen é mais uma obra do Santo Curren, coisa que Occy, mesmo com sua fantástica recuperação e título mundial combinados com vídeo biografia, não conseguiu.
O mais impressionante dessa história é que nem foi preciso um resultado fabuloso, fogos de artifício, modelos bizarros de prancha, tragédias pessoais, revoluções no sistema de julgamento, nada disso.
Curren apenas continuou na dele, fazendo o que sempre fez, competindo aqui e ali, tentando verdadeiramente se reclassificar, ou classificar desde que nunca fez parte do WCT, embora sem sucesso, mas sem sair atirando no sistema da ASP, como Gerlach, Beschen e Machado. O homem quieto de Santa Barbara acredita no que faz e sabe que tudo é questão de tempo – e ele é dono do seu.
Curren voltou às capas de todas revistas como nada tivesse acontecido
Tempo que é generoso com ele, fixando bem que trata-se de 41 anos, um senhor com dois casamentos e 3 filhos, tempo que passa por baixo de sua prancha em cada onda que surfa com seu posicionamento mágico – o surfista mais copiado de todos tempos(olha ele aí de novo!) e jamais imitado.
Slater foi um dos que bebeu na fonte, dividindo ainda no princípio da carreira os mesmos patrocinadores, OP e Al Merrick, com o maior ídolo da América- o surfista que encerrou de vez o domínio australiano em 10 anos de circuito mundial, com excessão do título em 77 do Sul-africano Shaun Thomsom - logo em seguida ao mundial amador do Japão em 90, Slater foi mandado para uma ‘clínica’ com Curren na França, para ‘polir’ seu estilo com o ‘mestre’.
Em 85 ele era apontado como imbatível, sobrenatural, exemplo a ser seguido dentro e for a d’água, todo aspirante a competidor rodava o braço e virava a cabeça quando batia na junção, em 95 suas viagens na campanha criada por Derek Hynd para Rip Curl, The Search, mudaram o comportamento da nova geração, impondo silenciosamente uma democracia de equipamento, com fishes e afins em qualquer condição de surfe que originou uma onda retrô que enche os bolsos da indústria a uma década.
Chega 2005 e o brilho não diminui.
Foto gentilmente afanada do saite do fotógrafo Sean Davey
A própria Rip Curl o recontrata e lança produtos com seu nome, aparece nas capas das principais revistas de surfe do planeta e é apontado como destaque da temporada Havaiana, segue o WQS atrás de pontos e atrái cada vez mais devotos, como no episódio em Maldivas, onde dividiu um barco com a nata da nova geração de brasileiros durante uma semana e deixou Jihad, Trekinho, Bruninho, Junior , Pedrinho e o diretor Rafael Mellin boquiabertos em sessão exclusiva.
Os garotos sequer quiseram surfar, preferindo admirar a linha do pontífice do estilo, aplaudindo cada onda como apreciadores de música barroca ao assistir um concerto.
O carisma desse sujeito é uma coisa irrestível.
Passa geração, entra geração e Curren permanece como mito, vide a reverência quase religiosa que se faz à ele em Trestles, ou na etapa de Reunião, quando os top 45 se acotovelam para assistir as exibições de classe ímpar.
A indústria, tão voltada para a juventude consumidora maciça, esquece por alguns momentos dos seus vícios e tambem se curva, deixa de lado Andy, Bruce e Kelly, volta os holofotes para o semi-Deus e avisa que por trás daquele circo, dos milhões de Dólares, das mega-lojas, das ações em Wall Street, por trás disso tudo, temos história.
Curren resiste ao tempo, o tempo por sua vez não resiste à Curren.
O maior enigma que o surfe ousou ter.
"como no episódio em Maldivas, onde dividiu um barco com a nata da nova geração de brasileiros durante uma semana e deixou Jihad, Trekinho, Bruninho, Junior , Pedrinho e o diretor Rafael Mellin boquiabertos em sessão exclusiva."
ResponderExcluirSó faltou o Super Herói: Zé Empáfia (vulgo Mineirinho), para assistir ao mestre. Se bem que ele declara piada o Mestre ser convidado para WCT. Portanto, perde e continuará perdendo a oportunidade de melhorar sua base SAPO.
Isso tudo endossado pelos megalomaníacos daquela revista ( a Mad do Surf): Grandão Bobão e Alex Antarctica (se bem que está mais para Tubaína). Os mesmos não são capazes de chegar perto de um editorial do calibre do Julio Adler. Deixo apenas o Boca, fora do peleguismo que impera em tal publicação.
E aproveitando, o sítio paulistano (essa palavra me da náuseas): www.ondas.com.br (WAVES), deveria parar de publicar matérias enaltecendo free surfers totalmente desconhecidos como do tipo: Fulano arrepia no Hawaii. Cara tá cheio de Pró lá realmente arrebentando que precisa do espaço na mídia e os paneleiros (sinônimo de paulistano) lançam os amiguinhos. Também o que se esperar de veículo que abre mão do nosso melhor colunista. Para tudo, colunista não! Melhor e único crítico independente do Surf Brasileiro: Sr. Julio Adler. Por alguns míseros tostões solicitados de aumento.
Julio,
Uma pergunta que não quer calar: Porque será que os maiores destaques no Hawaii vem Do Rio de Janeiro ?????
Peço seu auxílio para desvendar esse dilema tostines.
Deixando bairrismos de lado - que não é do que o texto trata - mais uma vez parabéns. Acertou na mosca. Já senti algo parecido quando Mr. MR era o homem. Mas Curren realmente marcou fundo. E apesar do careca aparecer bem mais - ele adora a mídia (e vice-versa) - Curren consegue o seu espaço sem fazer o menor esforço.
ResponderExcluirDefinitivamente merece estátuas por onde passa.
Que blz de texto!
ResponderExcluirPena que só sai numa revista lá do outro lado do oceano...
Abs,
Brunin.
as ondas mais fortes e tubulares da costa brasileira, estão bem aqui no rj e, nem adianta algum engraçadinho vir falar que fernando de noronha que é o bicho....aquilo lá é lenadfa apesar de tr uma beleza natural exuberante, as ondas são reLMENTE BURACO MAS FECHAM SEMPRE E SÓ HÁ PRATICAMENTE 2 ONDAS COM CARACTERÍSTICAS DE TUBO O RESTO É MITO E MITO POR MITO, AQUI NO RJ AINDA TEM MUITO MAIS "MITOS" QUE NORONHA E O RESTO DO PAÍS INTEIRO JUNTOS DAÍ, OS MELHORES OU OS QUE SE DESTACAM MAIS, SEREM CARIOCAS OU OS QUE DE OUTRO ESTADO, ACABAM POR FIXAR RESIDENCIA POR AQUI...
ResponderExcluirgostaria de acreditar que o Curren voltou as revistas só pelo sua magistral categoria ! Pena .... pensar que ele ficou longe esse tempo todo só por falta de um patrocinio forte ... se o mestre do estilo fica afastado da midia por falta de empurrãozinho das marcas donas do surf o que esperar dos nossos brasileirinhos sem patrocinio !
ResponderExcluirCurren passou vários anos meio confuso, fato normal na vida de muitos de nós. Não foi a falta de patrocinadores, como alguém falou. O próprio Curren já falou sobre isso. Por esse período, seu surfe sem dúvida enferrujou. Isso uma causa de dificuldade de conseguir vaga no WCT; a outra o critério de julgamento, que mudou MUITO. Quem acompanha assiduamente sua tentativa de volta nota indícios sutis de estar voltando à uma excelente forma. Se mantiver a pegada, podemos ver algo interessante em 2006. Não que precise. Acho que voltou a surfar e competir por prazer, o que é inspirador. Como seu surfe, mesmo que não consiga se reclassificar. Vamos ver o que os deuses do surf têm a nos oferecer ...
ResponderExcluirCurren, mestre simplificador das complexidades do surf (mas nem tanto da vida), sem esforço, sem "forçação" de barra... Certíssimo. Mas o que é Occy e sua selvageria classuda em J-Bay? Desculpem o desabafo, não muito próprio neste tópico, mas o cara está dando linha e desde já deixando saudades... É a adolescência do surf, a pureza, a descoberta... Muitos foram os finais de tarde inspirados pelo Tosco na Terra mas Ogro no Mar, no Postinho, Pepino, CCB... Occy é reticências!!
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