quinta-feira, outubro 27, 2005

Novidade (texto publicado na revsita Alma Surf)

[A novidade veio dar à praia.
A novidade (Bi Ribeiro - João Barone - Gilberto Gil - Herbert Vianna) do disco Selvagem de 1986.]


foto do blog Surfers Rule

‘Prefiro a versão do Gil’ discordou saborosamente o mais velho.
‘Pô, a do Paralamas, original, aê, é mar manera’, disse o mais novo com a testa franzida como uma cortina de teatro em final de peça.
A discussão tinha começado umas duas horas antes quando o moleque foi contar as mil maravilhas da sua prancha nova: uma Fish.
Diz que os olhos brilhavam! Foi um tal de tres-meia-zero pra tudo quanto é lado.
‘Mas que anda, mas que é soltinha, mas que é isso e mais aquilo’.
‘Essas tampas de privada são frouxas, falta pivô. Eu dava 360 quando tinha 15 anos de idade com uma duas quilhas muito mais firmes do que essas merdas.’
‘Pôrra, eu tenho 19…’
‘ Com a tua idade eu queria era pegar tubo… vê se ia ficar atrás de rodopiar feito pião ?’
‘Isso voa na marola, 21.5 de meio, 15.5 de rabeta e 17.25 de bico, Tio…’
O garoto era muito bem informado, tinha morado na Califa e viu nem sei quantos shows do Jack Johnson, foi ver a pré-estréia do ‘Broke down melody’ e sua vida nunca mais foi a mesma.
Gostava mesmo dos filmes da ‘Lost’, porrada pura comendo solta, rapaziada enchendo os cornos, umas ninfetas de bobeira… viu mais de 100 vezes.
Era Chris Ward no céu e Léo Neves na terra.
Toda vez que encontrava seu tio, curtia bater um papo, mais para ouvir as histórias do que falar.
‘ Teve aquela vez em Saquarema…já contei essa ? mar enorme, água gelada, só nós tres lá fora, sem cordinha…isso sem falar na dura que a gente levou…’
As lendas aumentavam conforme o tio bebia sua cerveja e dava demorados tapas nos baseados, segurando a fumaça sem tossir, manha de coroa do alto dos seus 34 anos.
O passado encantava e o futuro aborrecia – os dois.
‘Tio, que voce achou do ‘Broke down’ ?’
‘Esse negócio de neguinho ficar pegando onda de peito me deixa maluco.
Tem um amigo que viu e disse que era filme de viado, muita artezinha, fotografiazinha, conversinha fiada pra boi dormir.
Pediu pra tirar e colocar o ‘Nine lives’.
Assisti mais duas vezes, uma delas dormi.’
‘Caraca, eu acho esse filme muito foda, cara. Tem um ‘feeling’ bem das antigas, astral, aê.’
E tome de papo, desta vez o tema versava sobre som:
‘ Jack Johnson, né ? o cara arrebenta, diz aí?’
‘Acho uma chatice. Sou mais nosso ministro, o Gil. Dá de dez no habaiano.
Mas, olhe!, o cara apareceu pegando pra cacete no Pipe Masters em noventa e pouco. Tinha só dezessete anos… Tá lá no 110/240. Já viu ?’
‘???’
‘E Ben Harper ? Vai dizer que num gosta ?’
‘Aquilo é um chorão, lembra no ‘Shelter’ ? Falando da paz mundial…faça-me o favor!’
‘Tu é rabugento, hein tio ?’
‘Mas voce se amarra, né mané ?’

[A novidade era o máximo
Do paradoxo estendido na areia,]

Novo hoje é samplear bossa-nova, vide Thievery Corporation.
Novo é surfar em porta, ripa e tocos (de madeira crua e poliuretano laminado), vide irmãos Malloy.
Novo é Curren, Occy, ultrapassando a barreira dos 40.
Novo é Skip Frye e suas fishes de 30 anos atrás.
Novo é coleção de bermudas com desenho dos 80.
Novo é o filme de surfe voltando para os cinemas (poder ao digital!).
O novo nunca foi tão velho.

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