quarta-feira, setembro 21, 2005

Dois caras

‘Só espero ganhar dele na final’ disse meio assustado e bastante determinado o texano Morgan Faulkner antes da final amadora junior.
Falava de um garoto de apenas 15 anos, estrangeiro, que mal falava o inglês caipira de Virgínia, chamava-se Adriano Mineirinho, e ainda surfaria a final em outras duas categorias, Junior profissional e, sim senhores, aberta profissional.

Data de Nascimento: 13/ 02/ 87

Tem 13128 pontos na corrida do WQS 2005

Nunca houve tal domínio no WQS e desconfio que nunca mais haverá, o segundo tem 10085 pontos, um abismo insuperável por surfistas apenas esforçados diante desse dínamo.
Toda a fila que aguarda pelo tropeço do Mineirinho pode tirar o cavalinho da chuva, o garoto ainda tem munição e deve descartar um dos seus fenomenais 7 melhores resultados e aumentar seu açoite no ranking.
A confiança que ele ostenta faz tremer os cambitos dos adversários.
Aqui no Salvelindo, os fogos são semelhantes aos do Luciano do Vale quando surgia Maguila, uma salva de morteiros ao nosso jovem futuro campeão mundial – e que ande logo, pois não somos dados à esperar muito.
Foi a Surf Portugal que, mais uma vez, aprofundou-se um pouco mais no assunto, sede de saber, levantando as sobrancelhas ao perguntar ‘como é carregar a expectativa de um país nos ombros?’, numa reportagem que Valente conseguiu reunir o maior ídolo e promessa que quase se cumpre todo ano, Tiago Pires e a nossa atual maior esperança e futuro maior ídolo, Adriano de Souza, que respondeu num final de tarde em G.Land depois de 6 horas de surfe perfeito: É uma expectativa com dúvidas. É um ‘será ?’ e não um ‘vai ser!’. Tem que acreditar.’
Acreditando, Mineirinho ganhou tudo que podia: Campeão paulista iniciante e estreante com 12 anos, Campeão paulista mirim e brasileiro iniciante com 13.
Em 2002, do alto dos seus 15 anos demoliu o mundial Junior da ISA em Durban, mas cometeu interferência na final – e ainda assim, com menos uma onda, ficou em terceiro!
Sua passagem pela Costa Leste do Estados Unidos deixou estragos que dificilmente serão esquecidos. Jason Borte , ele mesmo um jovem promissor com uma magra vitória num WQS de 1 estrela em New Jersey - esse aqui que batuca as teclas estava lá, tentando repor o dinheiro da passagem de L.A. para N.Y.C., – hoje jornalista e autor do livro do Kelly Slater, Borte escreveu maravilhas sobre o moleque inzoneiro que apareceu de repente, um relâmpago!
O texano não foi feliz na final junior (apesar de ter levado o primeiro no pranchão), Faulkner viu Mineirinho passear na final amadora, ficar em terceiro no pro junior e perder pro Dino Andino (que tem um filho quase da idade do Mineiro!) na final profissional nos últimos minutos, depois do garoto do Guarujá liderar com folga toda bateria.
Falei sobre a vitória num pequeno evento aqui no Brasil que o tornou o surfista mais jovem a vencer uma competição profissional do circuito nacional ?
Sim, ainda estamos nos 15 anos…
Com 17 anos, consagra-se campeão mundial junior.
Agora, Setembro de 2005, Adriano tem 18 anos, antecipadamente, campeão mundial de surfe pelo WQS com mais de 5 etapas decisivas pela frente, ninguém em sã consciência afirmaria que a corrida não está liquidada – a memória viva ainda duma campanha estupenda em Haleiva, perdendo nas Oitavas pro Neco e Bruce ‘The Movie’ e deixando no rastro as cabeças do Bobby Martinez e Chris Ward como aperitivo.
Que máquina de competir.
Uma rodada de WCT, com o apetite que o rapaz tem para aprender, deve polir seu surfe para os padrões que seu desempenho merece nessa altura da sua eletrizante carreira.
Com Gouvêia deu certo. Uma volta ao mundo com os melhores ao lado e dois olhos muito atentos pode fazer maravilhas à evolução de um surfista.
Vejam Kelly Slater em 2005.

Robert Kelly Slater, como em ‘Bond’, James Bond.

Data de Nascimento: 11/ 02/ 1972

Tem 7574 pontos no WCT e o segundo, 6528, ganhou 4, vice num, quinto noutro, um nono e um décimo sétimo para descartar, por enquanto.

Perdoem a repetição, mas com diabos!, 15 anos mais velho do que Mineirinho.
Quando Slater se classiifcou para seu primeiro Campeonato Mundial amador em 1986 na Inglaterra, De Souza ainda nem tinha chegado aqui nessa bola azul e desorganizada.
Um texto sobre Slater precisa de fato histórico (ou histérico…) para mensurar o tamanho de cada uma das suas façanhas.
Slater já foi todo mundo: Tyson, Agassi, Borg, Senna, Pelé, Ronaldo, Curren, Nat, Nicklaus, Eastwood, Sinatra, um de cada vez até Ali, Muhammed Ali.
Nesse axato momento Slater é Ali na célebre luta contra Frazier considerada a melhor de todos tempos, conhecida e imortalizada pelo
filme ‘Thrilla in Manilla’




Uma coisa impressionante esse combate: 15 assaltos, pau comendo solto, Ali com 32 e Joe Frazier na ponta dos cascos, batendo como nunca e com a experência de ter testemunhado a total aniquilação do assustador Foreman e de ter imposto uma das mais surpreendentes derrotas da carreira de Ali.

‘Eu não quero nocautear ele. Eu quero machucar ele.’ Disse Frazier com toda raiva permitida num duelo desse porte.

Não lembra alguma coisa ?

‘Quero rasgar sua foto bonitinha em pedaços’, rosnou Andy em Blue Horizon (Jack MacCoy, 2004).

A rivalidade finalmente saiu do papel.

Slater derruba Irons na contagem regressiva em J. Bay, leva o troco no Japão e o surfe perde por muito pouco, culpa do Phil MacDonald, mais uma final seguida em Trestles.

Nos últimos 3 anos, Kelly vem tentando achar o ritmo que o levou a arrastar seis títulos mundiais, apanhando seguidamente do carrasco Irons, pouco enfrentando- o diretamente pelo caminho, exceto pela infeliz bateria em Pipe- ora, isso conta, pombas!
Como em parágrafo acima, duvido que exista alguem iludido suficiente para crer que Andy pode botar água no chope do sétimo, tão antecipado sétimo título do Slater.
Qualquer coisa melhor do que um quinto na frente do Andy ou do Fanning já dá 2005 embrulhadinho para presente ao Slater.
Seu retrospecto nos últimos tres eventos é tão fulminante como uma sequência de Ali no décimo quarto assalto, Slater venceu mais de uma vez cada um dos próximos campeonatos – em 92 e 97 triunfou na França e em Pipe na mesma temporada.
Temos sorte demais em assistir tudo isso, ao vivo, na grande rede, permanentemente na TV paga, um tempo admirável.
Acomodem-se nas cadeiras que ainda temos muito pela frente.

Um comentário:

  1. Anônimo8:03 PM

    sempre bom se informar aqui. mesmo acompanhando via net, a leitura de seus textos deixa muito claro o que é e quem é quem.texto escrito com sal, areia com vista para o sol e, original na tulipa....

    tuga...

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