Texto para Revista Surf Portugal Setembro 2005- coluna Videoteca
Resenha sobre o filme abaixo.
Riding Giants
2004
Produção: Sony pictures classics
Realização: Stacy Peralta
Protagonistas: A nata do ‘big surf’ a começar por Greg Noll, passando por Ricky Grigg, Duke, George Downing, Mickey muñoz, Darrick Doerner, Laird Hamilton, Jeff Clark, Peter Mel e jornalistas como Sam George, Matt Warshaw e John Severson.
Sonoros: The Waterboys, Link Wray, Stray Cats, Alice in chains, Soundgarden, Dick Dale entre outros
Mares: North Shore de Oahu, Maui, Califórnia e Tahiti
Duração: 101 minutos (extras não incluídos)
Estamos num tempo maravilhoso onde o que quer que resolvam chamar nossa atividade é levada a sério por gente que tempos atrás dava de ombros pro assunto. Não me refiro ao Stacy Peralta, que dirigiu e escreveu, junto de Sam George, Riding Giants, este já estava envolvido até os ossos com o surfe e resolveu fazer de seu segundo filme (sem contar com os espetaculares vídeos da fase Powell/Peralta) uma homenagem aos surfistas de ondas grandes.
Apesar dos tropeços, faz parte dos deveres de um surfista dedicar seu tempo para assistir esse DVD por, pelo menos, tres vezes.
O acesso fácil ao surfe tratado de forma madura e investigativa, tanto jornalística quanto filosófica, é uma das carácterísticas desse novo tempo. Quem quiser se aprofundar e descobrir o que se esconde por trás de tanta fantasia e irresponsabilidade, basta comprar um ou dois DVDs e estará meio caminho andado para a revelação – o resto, fácil, é apenas entregar seu coração ao Mar, insistir por meses até conseguir ficar em pé com alguma facilidade, mais alguns anos para achar outros macetes, debaixo de todo tipo de temperatura e condição desfavorável, enfrentando frustração e redenção em situações inesperadas de caos e beleza sublime, mas isso, se voce tem perde tempo no Goiabada, já sabe...
Greg Noll dá o tom do filme. Enquanto o ‘Da Bull’ enche a tela com seu rosto de pedra o filme tem um encanto raro e saboroso, consegue ser íntimo e distante ao mesmo tempo, nos fazendo quase acreditar que somos todos assim: fascinantes.
Os depoimentos de apoio dos jornalistas especializados Sam George (editor da Surfer) e Matt Warshaw (Autor da enciclopédia do surfe) , contextualizando o tema e emprestando o olhar arfante do fã atrás da lenda dão o colorido tradicional dos documentários, contrastando com o ar debochado dos surfistas da velha guarda.
Uma mini-introdução contando toda história do surfe em poucos minutos para ambientar o filme, já vale o ingresso (ou o preço de capa), com a mesma linguagem que consagrou Peralta na sua obra-prima, ‘Dogtown & Z Boyz’, uma edição dinâmica e narrativa impecável.
Riding Giants conta a história do surfe em ondas que podem te matar de verdade, ondas que só existem nos nossos delírios mais alucinados, nada que se compare com essas marolas que voce e eu surfamos no dia a dia e Peralta escolheu Noll, Jeff Clark e Laird Hamilton para conduzir e personificar cada época onde houve um rompimento com a anterior.
Makaha/ Waimea, Maverick’s e Jaws, ondas de consequências trágicas e de momentos que se transformaram no autêntico imaginário coletivo da nossa comunidade, dividem os capítulos.
Pulamos de Noll para Jeff Clark, outro personagem que conquista pelo desapego que tem com sua descoberta e, por que não ?, pela sua vida ao surfar por tanto tempo uma onda como Maverick’s sozinho.
Damos aqui com o primeiro tropeço, opa!, final brusco para Noll/Waimea, sintetizando uns 20 anos em tres surfistas e deixando de fora dessa história sensacional nomes como Jose Angel, Brock Little, Reno e o Smirnoff de 74, Roger Erickson e incluindo Ken Bradshaw entre Eddie Aikau e Mark Foo, pecado digno de pena (um ano sem poder ouvir a trilha do Free Ride).
A parte do norte da Califórnia tende a se arrastar um pouco, em explicações excessivas sobre o que simplesmente não se explica.
A terceira e última parte é sobre a ‘nova onda’ do Tow-in e seu maior divulgador e beneficiado: Laird Hamilton.
Soa estranho ao ouvido do espectador a frase ‘ Maior surfista de ondas grandes de todos tempos’ sobre Laird, não por coincidência produtor do filme – mesmo que a frase saia da boca do gigante Noll.
A verdade é que os personagens são infinitamente mais interessantes do que seus feitos e nesse quesito, Laird é tão distante do surfista comum quanto nossa probabildade de encostar num fio de cabelo da Angelina Jolie (caso seja uma mulher lendo, substitua pelo Brad Pitt).
A trilha é boa, um pouco ‘grunge’ demais pro meu gosto, mas salva-se pelo glorioso encerramento com ‘This is the sea’ dos Waterboys, sem contar com o habitual Dick Dale, Link Wray e, sempre bom ouvir, Stray Cats.
Nos extras do DVD, os comentários do diretor e editor ou do roteirista muito bem acompanhado do ‘Da Bull’, Jeff Clark e Laird, Making Off, Fuel TV e cenas apagadas.
Classificação SP: Fundamental, com ressalvas, mas não exitem em gastar seu rico dinheirinho, sim! Comprem já isso!
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