segunda-feira, agosto 15, 2005

Desafio

[Revista Surf Portugal, Julho 2005, #151]

Estamos em 2005, escrevo ainda em julho, uma tarde de inverno no Rio de janeiro, temperatura de inverno no Rio: nem quente, nem frio.
Espero pacientemente pelo dia seguinte, hoje não teve o WCT de J. Bay.
Habituei-me aos WCT na grande rede.
Habituei-me não; estou viciado.
Fitei a figura no espelho e desafiei: me prove que hoje não é a melhor época que já houve na ASP desde os tempos de IPS.

Raiz de tempo

Demorava uns bons 3 meses ou mais para encontrar uma Surfer ou Surfing e conferir os resultados de todos cameponatos de 1977, entre uma edição e outra.
Caso um amigo ou fera da praia viajasse e testemunhasse um World Cup, Pipe Masters, ou um Stubbies, a turma saberia com mais antecedência quem ganhou.
As imagens desses históricos eventos seriam contempladas muito tempo depois, revistas (de 3 a 6 meses) descansando no colo, ou olhos grudados na tela (de 6 meses até 2 anos!) improvisada num colégio ou centro de convenções de hotel, ambientes estranhamente esfumaçados.
A pressa chegou com os anos 80, suas maravilhosamente kitsch cores berrantes, tres quilhas, revistas mensais importadas espalhadas por mais do que as tradicionais 3 bancas de jornal e aeroportos e, por fim!, revistas nacionas por todos lados.
Aparece uma das mais importantes e democráticas ferramentas que inaugura um dinâmico intercâmbio sem precedentes na história do surfe: VHS.
O que antes era contemplado uma única vez, aquelas cenas inesquecíveis do Free Ride ou Storm Riders, poderiam, então, ser revisitadas e estudadas.
A velocidade da evolução tambem aumentou vertiginosamente, cada vídeo que chegava parecia trazer novidades tão distantes quanto na década anterior.
Quando os 90 chegam, Slater é lançado em Black and white, cores estão por fora. O circuito mundial passa pelo quatro cantos, voce e eu já assistimos uma competição internacional.
Entra internet.

Caiu a conexão…

Discada: contas caras, pouco tempo, muita coisa.
Pipocam saites com resultados, muitos tão somente e nada mais, chamam a isso conteúdo.
G. Land e J. Bay.
Tavarua e Ilha Reunião.
Tahiti.
DVD.
Comprimem-se as imagens, AVI, MPG, WMV, MOV.
Real Player, Quicktime, Windows Media Player.
O genial niteroiense Mano Ziul desenvolve um saite para se acompanhar notas pela rede.
Não satisfeito, integra uma web-cam no sistema.

Banda Larga: tanto tempo, todo tempo…tempo ? o que é tempo ?

Entra a cultura copia e cola, ‘press release’, diários de viagens, discute-se direito autoral, fotos iguais na revista e no saite da ASP.

Rabbit aposta na força da grande comunidade de aficcionados.

Surfar na rede transcende seu significado.
Seu computador nunca mais será o mesmo, voce nunca mais será o mesmo.
Transformou-se num crápula incapaz de dividir as poucas horas que o dia reserva para todos usarem o computador da família, alienado num mundo onde o que conta é a última nota nos segundos finais.
São décadas esperando por esse momento, voce finalmente tornou-se onipresente – e por consequência, onisciente, ha!
Nada mais lhe escapa.
Sim, voce sabe que a prancha que Andy está usando é uma 6’6’’ cheipada pelo Tio Merrick, ou que Slater não surfou nas duas últimas semanas porque estava com uma gripe violenta.
Não só isso, mas isso comentado pelo próprio Slater e o Andy, numa informal conversa com Martin Potter ou Tom Carrol.
O SporTV arrisca suas primeiras transmissões ao vivo, ancoradas pelos duzentos anos de surfe do Ricardo Bocão, uma aula de surfe para a turba, devidamente decorada pelo pedaço de mau caminho que é Diana Bouth, uma dupla inusitada mas que funciona.
As possibilidades são infinitas.
Centenas de milhares repetem essa rotina escravizadora e fascinante que é monitorar uma etapa do circuito mundial de surfe, com todas suas imperfeições, erros grotescos, injustiças e frustrações.
Olho com inveja para a figura irônica no espelho, balanço a cabeça e reconheço que o melhor ainda está por vir.

2 comentários:

  1. Anônimo10:10 PM

    E a revista ainda veio com um DVD duca (que tem a ver com aquela entrevista do Brock, que você garimpou...)! Que revista, hein?! Tinha que ser lançada aqui também. Parabéns pelo texto.

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  2. Anônimo8:23 AM

    Olá Cláudio,

    Ela já está sendo lançada aí! Nos aguardem! Abraço,

    MP

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