Tem hora para esculhambar e hora de elogiar.
Toca a sirene
Arpoador, 1979 -
Dois conhecidos resolvem fazer uma revista ‘jovem’, esportes, comportamento, música e moda, bem ao sabor da extinta ‘Pop’, nome de batismo: Realce.
Primeiro número
SporTV, 2005, ao vivo -
Slater declara ao repórter afoito que, não senhor, essa não é a primeira vez na história da ASP que um surfista consegue somar apenas notas 10 – Beschen já o fez antes, em Kirra, 1996, e foram 3 escores máximos e não dois como agora.
Bocão sorri.
Ele já sabia disso há 200 anos.
Diana exibe seu lindos dentes iluminando o ambiente, certa de que o senhor ao seu lado é capaz de consertar qualquer gafe que o repórter afoito comete.
Maio e Junho de 1981, Circuito Realce –
Marco na organização de campeonatos, primeira mensagem explícita da nova ordem que se apresenta.
Os dois malucos, incansáveis, fazem revista e circuito ‘quase-profissional’ de surfe, antecipando um formato que demora ainda bons 4 anos até amadurecer.
Tahiti, 2005 –
Neco rema tão atrasado numa onda torta da série que ninguem acredita…
A bateria com Bede Durbidge é eletrizante, um vira-não-vira que deixa todos com o coração na mão.
A imagem é uma merda, dia nublado, pouca definição, ninguem se importa, azar dos fatos, escreveria Nélson Rodrigues.
Faltando 4 minutos, Bede lidera, o Brasil torce pelo 7,58.
Guilherme Herdy, Ricardo Bocão e Diana Bouth soltam o grito nescessário, sincero, sem o protocolo das transmissões ao vivo.
Neco soca o ar com os dois punhos cerrados de raiva.
Abril de 1983 –
Estréia na TV brasileira, criado por Antônio Ricardo e Ricardo Bocão, o programa Realce.
Patrícia Barros era a Diana d’então- desculpa para alguem que não se interessa pelo assunto sentar e assistir – um colírio.
Rodrigo Osborne voa de back-side na África do sul, Russinho dá uma dura em Pottz, Ho de braço engessado em Pipe, Curren prum lado, Occy pro outro.
Australian Crawl, Smiths, Caetano e Lulu.
Marley e Clash.
Assisto eu e assiste tu, Pedro Cardoso e Fernanda Torres, quem tinha entre 5 e 50 anos tambem viu.
Florianópolis e Maceió, 22:30, 15 de Maio de 2005
Paulinho tem 17 anos e acha que Joel Parkinson não tem surfe pra ganhar em Teahupoo mas em Jeffrey’s ninguem tira o caneco dele – a não ser o Mick Fanning, que tá surfando muito.
Um olho na tela do computador e outro na TV.
O MSN pisca e faz barulho: bóing!
Lá do outro lado do Brasil Bruce Irons envia mensagem:
Krk, c viu o tbaum do Isleiter ?
Mt psico!!!!
Estilo Frances klassiko :P
Joaca véio! ;-)
Tu viu q a Diana vai sair na Playba ?
Eh noiz!!!
Ja eh!...
Pier de Oceanside, 1987-
Curren dá aula de surfe, sobra categoria.
Poucos dias depois, o promissor talento paraibano Fábinho Gouvêia assiste em sua casa, na TV aberta, de graça, a mágica de Curren, grava e tome pausa!
Ricardo Bocão comenta que novos talentos estão surgindo no circuito mundial: Sunny Garcia aparece fulminante no OP Pro que Barton Lynch vence enquanto Brad Gerlach, Richie Collins e Matt Archbold se revezam em pódios.
Fabinho pensa com seus botões: Esses cabras surfam muito…
2005, Tahiti, Flash quase ao vivo do Rógis Resing, ou Régis Rosing, entrevistando, com um sorriso entre debochado e satisfeito, pela enésima vez o símbolo da raça brasileira, Peterson Rosa.
O repórter já não parece mais o peixe-for a-d’água que afligia o tele-espectador na perna australiana.
Usa camisa florida, ostenta bronzeado, circula com a desenvoltura de uma debutante em promenade.
Tem uma queda para anunciar a primeira, a melhor, o maior.
O surfe entra na era Tino Marcos de jornalismo esportivo.
Corta para um constrangido e tambem sorridente Bocão corrigindo o colega.
Diana balança a cabeça concordando.
Junho de 1991, Ombak estréia na MTV.
Primeiro programa de esportes nos 62 países que transmitem a MTV, inspira os pouco inspirados diretores da emissora a copiarem descaradamente e o renomearem como MTV Sports.
Cezinha Chaves e o SK8, Mauro Taubman e Moda, Herbert Viana, Circuito Company amador, Cobertura do Circuito mundial, Picuruta, Cauli, Fred, Pedro Muller e Vibração.
Bocão e Antônio perdem a (batalha de confetes) mas não a guerra.
Paulo Moura faz o segundo dez brasileiro em Teahupoo.
É história em movimento, Herdy lamenta a falta de investimento, Bocão chama a atenção das companhias aéreas sobre a cobrança injusta das pranchas, Diana franze as belas sobrancelhas enaltecendo a importância do que é dito.
Pedro Henrique, recém chegado do campeonato, conta suas estripulias pela triagem enquanto suas ondas são exibidas.
O surfe é o único esporte do mundo capaz de segurar audiência com imagens ruins como aquelas.
O formato de trio, dois especialistas e uma pin-up, continua o mesmo.
Bom que a moça se restringe a ser apenas linda, sem gastar a lábia para convencer o malandro do outro lado da tela que fez o dever de casa e domina o assunto – em tres línguas.
Ponto pra casa, escolha perfeita.
Novembro de 1994, Rip no ar, SporTV, Cobertura do WCT.
Slater 6 X, Machado Pipe Master, Dorian, Bad religion, Suicidal tendencies, Kalani Shootout, Dr. Dre, Vitinho em Lacanau, Teco bi WQS, Chico Science, Raimundos, Raoni campeão brasileiro mirim, Neco 2 X, Mineirinho mundial junior, Pedrinho em Makaha, Trekinho 10 em Maresias, Veiga e Salazar, D2, Ben Harper, Jack Johnson, Andy & Bruce.
Não existe no mundo inteiro outro programa
Diana lê o imeio número 328, o adiantar da hora revela quase meia-noite.
Ninguem aparenta cansaço depois de 6 horas sem pausa.
Quando digo ninguem, reafirmo: dos dois lados não há única alma desatenta.
O formato é arriscado, muito papo e pouca ação.
Bocão relembra:
Em 87, 88, quando a gente ficava na praia o dia inteiro filmando (fora as fugidas para estratégicas surfadas) as baterias os caras achavam estranho e perguntavam, pra onde é isso ?
Eu respondia que no Brasil distante o surfe tinha espaço semanal na TV aberta e que aquela bateria, essa mesmo que ele tinha acabado de competir, estaria editada e sonorizada, com o nome dele certo e os resultados em alguns dias.
Ninguem acreditava.
Herdy concorda.
Por dentro, uma voz avisa que finalmente um representante legítimo é escalado para comentar surfe na TV.
Anuncia-se o fim da era dos aventureiros.
Que a direção do SporTV mantenha a linha iniciada em 96, 97 (dedinho do Pecegueiro), com atenção ao entusiasta, sem desviar-se como vinha fazendo, com uma programação vazia e oportunista, que expoê a fragilidade dessa classe mérdia atrás dos 16 minutinhos de bundinha de fora em cadeia nacional – açouguebronharadical.
Bocão participa do SporTV News e do Redação SporTV.
O ciclo se fecha, como o de Neco.
Redenção.
Luta pela sobrevivência, o de cima sobe, o de baixo desce.
Diana balança a cabecinha e faz o V deitado batendo no coração.
Cara, tu é rápido...a gente pensa e tu escreve!!
ResponderExcluirBela resumo da história da cobertura do surfe no Brasil. Também fiquei amarradão com a surpresa, tomara que seja indicativo de melhora na programação. O surfe merece.
ResponderExcluirAbs,
Brunin.
porra! curti o texto.
ResponderExcluirinfelizmente não assisti à transmissão do sportv.
mas acompanhei pelo site billabongpro. :-D
gostei da jogada entre épocas.
mandou bem.
Muito bom texto mesmo! Ótimo ritmo!
ResponderExcluirFOi muido bom ver o surfe ao vivo na tv e sendo transmitido da forma que foi.
Isso é que é texto multimídia.
ResponderExcluirA gente passa pelas linhas vendo as imagens entre as letras.
Valeu Marreco. Queremos mais!
Parabéns Marreco,
ResponderExcluirnão só um belissímo "poste" homenageando eles, como um dos melhores textos que tive oportunidade de ler em 11 anos de internet.
Agora, que o colega da rede Globo está completamente perdido no tour, ah isso ele tá!
ResponderExcluirAbs,
Brunin.
Disse tudo!
ResponderExcluirParabéns Júlio! Uma lição de história e de estórias da cobertura do surf na TV, sempre uma inspiração do lado de cá do Atlântico.
ResponderExcluirSó uma achega... não seria Novembro de 1999 (em vez de 1994)?... onde está o bi WQS de Teco...
Abrazzzo,
MP
Será que ainda permanecem dúvidas de que Júlio Adler é o melhor cronista de surf no Brasil inteiro e, muito provavelmente, em toda a língua portuguesa? Claro que permanecem? Aonde? Na imprensa surf brasileira, que não lhe dá espaço.
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