quinta-feira, março 31, 2005

Malandragem e o seguinte

[O convite veio do Zé, meio tímido, para escrever umas bobagens num saite novo que tratava só de surfe e arredores na grande rede de informação. Gostei da idéia de fazer uma carta-coluna, sempre endereçada ao Zé das Couves, chamando de 'Malandragem é o seguinte' que é uma forma simples e carioca de começar qualquer assunto.
Os textos tinham a liberdade da absoluta falta de compromisso - pode chamar, sem medo, de inocência.
Abaixo uma daquelas crônicas, datada de 2000, do jeito que foi.]


Elogios...
Zé das candongas! Acordei hoje com uma vontade de sorrir imensa. O motivo desse sorriso frouxo, logo cedo, era o livro do uruguaio Eduardo Galeano (1940, Montevidéu,Uruguai) “De pernas pro ar” (L&PM,1999). Não que o livro nos dê muitos motivos pra sair por aí rindo feito bobo.
Muito pelo contrário.
Um bom livro sempre inspira a leitura de outros, então fui na prateleira buscar o “Livro dos abraços” ( L&PM,1989) desse mesmo autor,pra iluminar a cachola.
Na quarta capa, o motivo do fascínio que tenho pelo homem desde algum tempo quando, em Cabo-frio na casa de um amigo do peito, dei com os olhos no conto que reproduzo agora em homenagem a meia-dúzia de três ou quatro leitores que perdem precioso tempo lendo minhas mal traçadas.

A Função da arte/1

Diego não conhecia o mar.O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!

Poucas vezes tive a oportunidade de ler algo tão próximo da experiência do surfe em nossas vidas.
O menino somos todos nós, surfistas, com nossa infância eternizada no olhar daquele moleque.
Galeano escreve na revista “Bundas”, eventualmente, e tem um belo editorial nas bancas com “Caros amigos” extraído do já citado “De pernas pro ar”.
“A arte...” é um elogio pra essa rapaziada.
Valeu Zé !
aquele abrazzo.
Julio

P.S.:
Essa coluna deve ser lida com lentidão,acompanhada de uma música leve (pode ser Taj Mahal, Astrud Gilberto ou Air...), de preferência deitado numa rede (mas vai ter que imprimir...).

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