Mais uma vez assisto o estigma do brasileiro pobrezinho se eternizar.
No sítio da Transworld surfing, o neo-reporter informa ao leitor que Neco Padaratz veio de um lar modesto, onde as dificuldades o fizeram lutar por tudo com mais empenho e paixão do que o resto do mundo.
Tostines: Neco é pobre porque nasceu brasileiro ou é brasileiro porque nasceu pobre ?
Todos brasileiros são miseráveis que, não fosse o surfe para salvá-los da penúria, estariam passando por uma dureza de amargar, com seis filhos pendurados, vivendo numa favela, quem sabe roubando para sobreviver.
Pois, vamos pegar o exemplo do Fábinho Gouvêia, que até a nossa própria imprensa especializada estimula ao imortalizar o esteriótipo de nordestino indigente e ignorante.
Fia escreve melhor que muito jornalista - dentro e fora d'água
A mãe do Fabinho é professora de literatura e o pai é engenheiro agrónomo, tanto ele quanto Guga, seu irmão, estudaram no Colégio Marista, uma das melhores instituições particulares de ensino de João Pessoa. “A minha família é aquela típica família de classe média brasileira, que está sempre a poupar mas que vive dignamente.” Disse Guga numa entevista concedida à Surf Portugal.
Provavelmente, viveram mais confortavelmente do que a Família do que a larga maioria dos campeões mundiais da ASP, como se isso tivesse importância.
Kelly Slater, 6X, tinha um pai com problemas de alcolismo e passou o pão que o diabo amassou até começar a faturar com surfista sensação dos circuitos amadores. Por que não lemos sobre isso ?
Carlos Leite ganha aos tubos. Nem sempre foi assim...
Dean Morrison, um dos tres degraus australianos junto do Parko e Fanning, foi tirado das ruas pelo Rabbit Bartholomeu que, por sua vez, tambem cometia pequenos furtos quando garoto nas ruas de Coolangata.
A esmagadora maioria dos surfistas brasileiros que arriscam o WQS tem um belo suporte financeiro familiar, de outra maneira seria impossível sair pelo mundo jogando dinheiro pela janela.
O surfe salvou um Jojó, um Fábio Silva, uma Tita, dum destino mais cruel, mas a verdade nua e dura é que desde os primórdios, sempre foram rapazes bem nascidos que nos representaram.
A geração do Paulo Proença, Bocão, Betão, Maraca e cia, que começaram a competir no Havaí e Perú, foi toda criada nas areias de Ipanema e Copacabana, muito bem alimentada, bem vestida e acomodadas em belos apartamentos na Zona-sul carioca – assim como Cauli, Pepê, Daniel Friedman, ligeiramente mais moços e mais sérios na busca de títulos no então recem concebido circuito mundial da IPS.
Valdir Vargas, Fred D’orey, Felipe Castejá e Roberto Valério, da geração seguinte, tambem tinham todo suporte nescessário para saírem pelo mundo gastando o que ainda não ganhavam com o surfe profissional porque simplesmente ainda não havia dinheiro na jogada.
Foi com a chegada de Picuruta, esse o único que realmente dependia de patrocínio para viajar, Rodolfo Lima, Marcelo Bôscoli, Renato Phebo e mais uma penca de aventureiros que cultivavam o sonho de seguir o ‘tour’ e viver exclusivamente do surfe profissional, que a brasileirada passou a deixar de gastar e empatar os custos das despendiosas viagens.
Enquanto isso, na pacata cidade de Santa Bárbara, um fenômeno ia arrebentando a maldição californiana de nunca ter um campeão mundial – afinal, acabaram de ter finalmente! Um top 16…Joey Buran…-, Tom Curren, que passou sua infância e adolescência numa pindaíba de dar dó, porque seu pai, Pat Curren, lendário bombeiro, não era famoso por acumular patrimônio nem capital e deixou a família numa pior. A mãe de Curren dava duro para ver os garotos surfando e competindo em cada campeonatinho da NSSA.
E ainda tinha que lidar com os problemas que crianças com lares rachados volta e meia apresentam: Currem foi pego com maconha no colégio quando tinha 13 anos.
Parece uma estória familiar brasileira, não é ?
A nossa imprensa, sempre complacente como um hímem, olha, calada, tudo com muita naturalidade e ainda alimenta esses pequenos deslizes, que a cada dia me parecem mais incompetência e preguiça do que meros deslizes.
Voltando ao que eu gostaria de ter dito desde o princípio, somos todos exatamente iguais, americanos, australianos, brasileiros, sul-africanos… viemos de lugares diferentes, com culturas diferentes, uns com muito e outros com muito pouco. A fome de vitória é a mesma. A vontade de vencer a todo custo não tem pátria.
Gostaria de falar assim: parem de nos olhar como se tivéssemos acabado de sair de dentro dum tanque de guerra que dizimou uma aldeia no Iraque.
Nós, os brasileiros, temos todas cores, todos caráteres, todos sonhos e quase todas frustrações que voces. Cessem esses esteriótipos. Nos analisem como surfistas e só, mas por favor, vamos parar com essa lenga lenga de terceiro mundo de Reader’s Digest…
Pergunto Julio, a qualidade das ondas teria interferido no destaque de nossos surfistas ???
ResponderExcluirPICURUTA foi um heroi....
Arregaçou todos os filhinhos-de-papai da época, eu estava lá.
Nunca se prestou atençao a surfistas fora da IPANEMA produtora de moda, estilo de vida, etc... Nada, Nada ajudaram ao SURF, a não ser a eles mesmos, que se tornaram moda, estilo de vida, babados por cantores, GLOBAIS e suburbanos.
Não existia fome de vitoria. Para alguns, que prefiro não citar nomes, era fome de reconhecimento.
Mas, perá lá !!!!
O negocio era mais aparecimento do que tudo.
Poucos ali amavam realmente o SURF. Alguns eram realmente talentos natos mas, querendo seguir a trilha do PETIT, o mais sem-dinheiro de todos, e o mais destacado GLOBALMENTE. Eu pensava, quando ia ao arpoador : "Só tem VIADO aqui. Este PETIT(com todo o respeito) só é boa pinta e marrento pacas... Um babaca... E todo mundo qurendo ser igual a ele ????" Que cambada de deslumbrado, só tem VIADO .... Triste....
Viva o Yso Amsler....
Produziam moda, ganhavam e sacaneavam os Paulistas e os coitados dos suburbanos, que eram os que mais consumiam....
Com dolar a 7 dinheiros brasileiros para cada dolar, só mesmo muito rico para mandar o filho para o HAWAII passar 1 ano.
Nao era para qualquer um não....
Fizeram nada para o suporte familiar que tinham....
Conheço australiano velho, com 53 anos hoje em dia, que só tinha a passagem de ida, e arrebentou, sobreviveu, era atleta, nadador SENIOR, que desbravou o oceano Indico... Passava fome....
Mas a fissura era maior... A vontade de surfar ondas de sonho era maior que qualquer conforto.
Qual Brasileiro desta época fez isto ????
Eu mesmo me emputecia. Via aqueles caras e pensava : "Isto nao é amor a um esporte. Se eu tivesse a estrutura deles estaria surfando o triplo, e bem longe do ARPOADOR, DO FESTIVAL (CONFETE-CARTA-MARCADA)
DE SAQUAREMA.
SE VOCE LER ESTE COMENTARIO ATRASADO, ESTE ASSUNTO PODE EVOLUIR MAIS.
ATUALMENTE, É POR ISTO QUE SÓ OS NORDESTINOS GANHAM DINHEIRO COM O SURF BRASILEIRO.
Abrqços. Se existir oportunidade, espero evoluir esta conversa....EU ESTIVE LÁ....
alnerval@uol.com.br