terça-feira, março 30, 2004

Dicas de viagem 1 - El Salvador

[Artigo escrito sob encomenda para revista Venice, outubro de 2000, seção Trip and tip's]



na foto acima, Kevin Naughton, em foto de, quem mais ? Craig Petersen.

Primeira dica pra quem realmente quer conhecer as ondas de El Salvador: leve a Playboy da Sheila Carvalho e uma camisa do Flamengo.

Ou seria essa a dica pra Barbados?

Para El Salvador, é melhor levar o CD do Paulinho da Viola e o vídeo da Bandeirantes com o melhor dos bailes de carnaval. Não façam como eu, que em 95 comprei a passagem mais barata e fui obrigado a fazer umas 200 escalas até pousar em San Salvador, capital de El Salvador.

Chegando no aeroporto, ignore os 500 motoristas de táxi, corra pra cabine telefônica, abra o catálogo na seção ‘alquiller de coches’ (aluguel de carros), pesquise, pesquise e pesquise.

Do aeroporto até o balneário de ‘La Libertad’ são 25 minutos, ou pelo menos eram. A estrada é razoável - muito cuidado com vacas, cabras e porcos no meio da rua, sem acostamento.

Chegando no pico, uma direita descrita pelo viajado ex-surfista profissional Marcelo Bôscoli como “uma das sessões de Jeffrey’s Bay”. Melhor explicando: a onda lembra muito a parte de J.Bay conhecida como ‘Super Tubes’- é claro que em Jeffrey’s não existem porcos boiando n’água, nem hepatite A, B e C... O Povoado de La Libertad é muito tranqüilo, raramente tem o silêncio perturbado pelas rajadas de metralhadoras. A segurança no país é um fator determinante para o turista: todos os postos de gasolina, por exemplo, têm dois guardas tomando conta das bombas, devidamente armados com reluzentes escopetas -mentirinha... Na verdade, as escopetas não são nada reluzentes; são enferrujadas...

Lugar pra ficar

Em frente ao pico das direitas maravilhosas tem meia dúzia de 3 ou 4 pousadas para todo tipo de viajante: do pão-duro ao perdulário. Para o pão-duro, conhecido também como ‘comedido’ ou ‘econômico’, recomendo as acomodações que ficam logo na entrada do porto de La Libertad. São simples: uma cela, digo, um quarto com cama e... Só. Ah sim, tem banheiro coletivo, uma meia janela e custa 2 dólares o dia. Por módicos 50 centavos você pode alugar o ventilador da dona e, se souber negociar o CD do Paulinho da Viola, ainda consegue o colchão.

A alternativa para os que não têm pena do dinheiro do pai, que se matou pra conseguir financiar a passagem em seis vezes, existe o hotel - talvez haja outro nome mais adequado do que ‘hotel’, mas, com meu parco vocabulário e na preguiça de consultar o ‘pai dos burros’, fica hotel - dos bacanas, não lembro do nome, mas com certeza não consigo esquecer do preço. O hotel dos bacanas tem ar-condicionado, TV a cores com cabo, piscina, restaurante e custava 60 doletas a diária.

Outra opção é a pousada do Bob, um americano que passou a vida inteira hostilizando os ‘haoles’ e agora, com o negócio prosperando, trata seus clientes com tremenda cara-de-pau. A pousada do Bob é a mais bem localizada, em frente a oitava sessão da onda, que só quebra com a maré cheia e tem a água mais fedorenta da área. O restaurante do Bob é baratinho e muito honesto. Tem vista pro mar. O país inteiro é repleto de fundos de pedra e bandidos. Os dois são perigosos. A ‘Carretera Panamericana’ é a estrada que corta, literalmente, El Salvador. Esburacada como poucas no mundo é quase um ponto turístico e geológos do mundo todo vão pra lá estudar suas crateras. Mais uma aventura imperdível são os túneis sem iluminação nenhuma, quase um buraco nas montanhas - na realidade, um autêntico buraco nas montanhas.
O melhor surfista local é o filho do Bob, gente fina e bem camarada com os brasileiros.





Quase não existe ‘crowd’ em El Salvador, exceto nos finais de semana, quando hordas de boogie-boarders invadem as praias com suas temíveis saboneteiras. Os boogies também andam armados, suas armas, porém, são niqueladas, posso afirmar.

As ‘chicas’ salvadorenhas são muito simpáticas e, tivessem um pouco mais de sorte, seriam quase aceitáveis. Nada que alguns litros de “cerveza” ou tequila não resolvam....

Uma das grandes atrações do país são as espetaculares e luxuriosas mansões dos milionários que enriqueceram durante a ditadura, soa familiar?

Souvenirs

Não voltem pra casa sem antes tentar arrematar uma rara metralhadora russa, doada ainda na época da saudosa ‘guerra fria’ pela extinta União Soviética, vendida a preço de banana nos esconderijos dos guerrilheiros aposentados, fácil, fácil de achar!
Essa histórinha que conto agora foi determinante pelo impulso de visitar esse país extraordinário: Conheci um americano em Recife, 1993, e ele me falou sobre as direitas de La Libertad. John, o nome do gringo, contava dos três meses que passou em El Salvador procurando ondas. Nos primeiros dias, em plena guerrilha, surfou sozinho direitas perfeitas até não agüentar mais, quando um belo dia a polícia entrou no seu quartinho de 3 dólares e o acusou de ser espião da CIA, ou traficante de armas, não me lembro direito. Levaram o sujeito em cana, passou um mês ‘internado’e depois foi solto sem qualquer explicações. Você tem que adorar um país que trata americanos assim.
Não tem?

2 comentários:

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