Revisitar velhos escritos dá um misto de orgulho e vergonha simultaneamente.
Orgulho de enxergar determinadas coisas antes e vergonha de usar tantas conjunções e recursos baratos de linguagem que hoje evito com todas forças.
Me admiro da incrível coincidência de encontrar Galeano mais uma vez num texto escrito 12 anos antes desse último publicado aqui no Goibada.]
Tenho a incômoda capacidade de enxergar surfe em tudo quanto é canto.
Na entrevista do escritor uruguaio Eduardo Galeano no jornal O Globo de Domingo, 21/07/2002, reparei numa frase que cai tão bem na nossa cultura surfe que inspirou esse texto.
O que alguns bobos acham que é defeito acaba sendo a nossa maior virtude.
Primeiro me veio à cabeça o Peterson, talvez o surfista mais incompreendido do circuito WCT, de uma campanha avassaladora, só pra usar um termo muito em moda, ignorando Slaters e Fannings afora, de costas e de frente, Backside e frontside pros mais maldosos.
Logo em seguida, não sei porque diabos, acometeu-me um vídeo novo chamado Momentum - under the influence, espécie de versão atualiazada do primeiro Momentum, onde as estrelas tem todas menos de 23 anos e, supostamente, os melhores do mundo.
No que resta de minha memória,
comprei o Momentum no Havaí, em 92, quem recomendou foi o Sérgio Noronha, que assistia 200 vezes a fita por dia.
O impacto foi grande, todo mundo conhece e ninguem mais aguenta tanta gente lembrando do Slater, Machado, Dorian, Kalani, Knox embalados pelo sonzinho bacana e pra cima do Bad Religion, Nofx, Pennywise e Gangrena Gazosa, opa!, brincadeira...
Uns 30 anos depois, lançaram até aqui no Brasil, sem direito ao secret-video, umas das sequências mais legais do VHS, mas voltemos a 2002....
A versão 3.0 do ganso de ovos de ouro do Taylor Steele, sob a influência, não nos revela sequer um brasileirinho.
Nem umzinho...
Admirador dos vídeos da rapaziada que tem no emblema o nome Poor specimen, não tenho dificuldade nenhuma em elogiar todos 23 títulos da Família Steele.
Não o faço por impaciência.
Reconheço, entretanto, que não deve haver qualquer preconceito nem desprezo da parte dos produtores para cima dos meus conterrâneos - nem poderia - taí a prova no premiado filme de Skate, Hallowed Ground, encomendado pela mais nova gigante da Surfwear, recém comprada pela Nike pela bagatela especulada de 140.000.000 milhões de Verdinhas, sim senhores, a Hurley, filhote de Bob Hurley, ex representante da Billabong nos E.U.A.
O Brasil, e os brasileiros, são destaque no Hallowed Ground, filmado em 16 mm, com direito a incursões na trilha e tudo - talvez porque fica difícil ignorar os títulos do Bob Burnquist, patrocinado da Hurley/Nike e cia Ltda.
Mas os carrinhos não são, nem de longe, assunto de meu interesse, portanto voltemos ao surfe.
Concluindo então que não há preconceito, existe até (pasmem!) admiração, como explicar a ausência absoluta de surfistas de passaporte verde entre os melhores do mundo com menos de 23 anos, segundo Taylor Steele ?
De cabeça, sem coçar muito a careca, Trekinho, Raoni, Pedro Henrique, Pigmeu, Léo Neves, Mineirinho, Marco Polo...
A lista é maior, tão grande quanto a injustiça.
Devo substituir os gringos palhinha por qualquer um da lista acima ?
Fica o Taj, Bruce e Andy, Dean, C.J e Damien, Rasta, Fanning e Joel.
O resto roda.
Sobra então pro Rafael Mellin, solitário guerrilheiro/video-maker, a árdua e agradável tarefa de revelar ao mundo, começando pelo Brasil, o talento não reconhecido (por enquanto!) dessa gente bronzeada tentando mostrar seu valor.
Que venha o Lombrô 3, pra saciar a sede de sangue novo.
PS - Voce, meu caro leitor, vai comprar ou copiar o vídeo quando assistir na casa do amigo ? e por que ?
Vou comprar, ou melhor, comprei na época. Porque gostava, gosto, de colecionar videos de surf. Hoje estão todos os VHS guardadinhos, em local seco e protegido. O que falta agora é o videocassete...quem sabe um dia os transformo em DVD.
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