quinta-feira, junho 06, 2019

A Caixa

Amigos para sempre...



Kolohe Andino deve odiar John Florence.

São muitos anos de humilhação transmitida ao vivo para milhares de pessoas.
Aquilo é a America partida, um havaiano com o nome mais comum que há (homenagem da mãe, Alexandra, ao gesto de respeito do John F. Kennedy Jr. ao bater continência no funeral do seu pai, presidente dos EUA, assassinado), do outro lado está o garoto dourado da Califórnia, ironicamente com nome havaiano - Kolohe.
Um nascido no meio de um turbulento relacionamento dos pais e criado por uma mãe valente, solteira e decidida a oferecer uma vida de sonho aos três filhos em pleno North Shore anos 90.
Enquanto isso, Dino Andino, o pai, criava Kolohe no ambiente mais competitivo do sul da Califórnia em San Clemente, onde tudo acontece.
Os dois se encontram faz tempo, bem antes de todo circo que os cerca hoje, mas já com um mar de expectativas (e contratos!) enormes desde muito cedo.
Kolohe tem o recorde de títulos nacionais (9, Bobby Martinez tinha 7), aos 15 venceu a categoria aberta e se tornou o mais novo campeão da história da NSSA.
A mesma NSSA que formou as carreiras do Tom Curren, Kelly Slater, Rob Machado, Andy e Bruce Irons, Shane Dorian e quem mais voce conseguir lembrar.
Pra completar, Kolohe foi o primeiro filho de um campeão nacional ao igualar o feito do pai.
Todo esse histórico rendeu-lhe os melhores contratos que um jovem profissional poderia sonhar - Nike, Target, Red Bull, Oakley.
John John surfava Pipe com 7 anos e Waimea pequeno (Pinballs) antes de completar 10 anos, aos 13 já competia no Triple Crown, campeão mais jovem aos 19.
Sempre foi uma guerra silenciosa- talvez a maior jamais conhecida.

Uma história estranhamente mal explorada pela WSL.

Antes de falar da final, pausa para lembrar da onda do campeonato - onda do ano até agora.


8.17

Martin Potter ainda não acreditava no que testemunhara.

- Continuamos a procurar falhas no surfe do Ítalo, sem sucesso…
Na sua primeira onda em The Box, Ítalo escreveu seu nome na história definitivamente.
Matt Warshaw perguntou publicamente se alguém discordava que aquela teria sido a melhor primeira onda surfada de todos tempos, comparando com Curren em J. Bay (ressaltando que foi a segunda…) e todas outras que nosso ilustre historiador é capaz de lembrar.
Silvana em Honolua Bay 2009 ?
Acho particularmente interessante que os dois surfistas mais atirados tenham saído do Rio Grande do Norte.
Jadson foi heróico uma vez mais - como tantas outras, nos enchendo de orgulho.
Foi o cala boca de dedo em riste depois das baterias desalentadoras do Toledo e Rodrigues.
Se existe uma onda em 2019 que representa tudo que a WSL precisa para vender o surfe como esporte profissional de alto risco e desempenho extraordinário, essa onda foi do Ítalo em The Box.
Quis os deuses que a nota fosse um ridículo 8,17.
No jogo do Bicho é Águia e Cachorro, joguei o numero, sem piscar, Milhar, Grupo e Dezena - paguei dois dias de almoço no boteco.
Se eu fosse o Ítalo, mudava meu numero para 817 na WSL.


Bode Velho

Carlos Leite, o 11º, sai da primeira parte do Tour entre os Top 10.
Existe muita incerteza na participação do Careca no circuito desse ano.
Será que ele, ou alguém próximo, acreditou na possibilidade de mais um título mundial ou a classificação para a Olimpíada é seu objetivo final ?
De qualquer forma, estamos diante de um momento ímpar em qualquer modalidade esportiva.
Entre os 10 primeiros temos a distancia de 25 anos do mais jovem pro mais velho.
Lembramos imediatamente do George Foreman, pugilista peso pesado, campeão mundial (não unificado) aos 45 anos.
Fez uma luta absolutamente fenomenal contra o campeão Evander Holyfield em 1991, batendo firme com golpes que pareciam uma marreta em parede de tijolos.
Slater parece mais disposto a igualar o feito de outro boxeador, Bernard Hopkins, campeão mundial pela Federação Internacional de Boxe na categoria dos meios-pesados, 49 anos de idade!
Do jeito que vamos, Kelly nos sinaliza com mais alguns anos de luta entre os melhores do mundo.
A cena da queda de braço com os meninos foi imensa.
Faz pensar se isso tudo, o circo da WSL, a tensão das disputas, as possibilidades de condições que o favoreçam e os (poucos) momentos de supremacia, são a única coisa que realmente importa na sua vida.
Uma derradeira vitória seria um adiamento ou a certeza triunfal da aposentadoria ?

Ca, North America

Temos metade dos Top 10 vindos dos EUA e se colocar Kanoa (hoje competindo pelo Japão) de volta, fica com a maioria, 6, isolados como nação dominante.
Kanoa, aliás, roubou da Califórnia o que seria o primeiro título do estado americano em 10 anos, como observou Steve Shearer no site Beachgrit(https://beachgrit.com/2019/05/corona-bali-protected-japan-steals-californias-first-ct-event-win-ten-years/).
Pra nossa sorte, Havaí e o resto não se misturam.
Para o azar deles, nas olimpíadas ninguém liga se os havaianos não se consideram americanos e todos são farinha do mesmo saco.
Último título mundial da Califórnia foi em 1990, Tom Curren - 29 aninhos atrás!
Ao menos Lakey Peterson aparenta ter um título na manga.
Entre as meninas, mulheres, a fila para Califórnia ganhar vem desde Kim Mearing, 1983…


A Caixa

Questionada sobre a legitimidade de uma etapa no Oeste da Austrália, a WSL terá sempre o argumento, The Box.
Um dia em The Box equivale a 5 anos de renovação e uma onda como aquela com tubo e golfinhos não há dinheiro que pague.


Caio

Atualmente meu surfista brasileiro predileto é o Caio Ibelli e já explico.
Primeiro, pela injustiça gigantesca de perder a vaga de convidado, ou melhor, de não receber a vaga reservada à contundidos.
Segundo, Caio viaja na moita.
Lembro de um voo, Recife-Noronha, antes do Hang Loose pro e lá estava Caio, sozinho, discreto e silencioso, não esqueço porque Ibelli era campeão mundial junior de 2012.
Nesse ano, Caio tem entrado no lugar do Adriano, ainda se recuperando da lesão em Portugal no ano passado.
Todas suas derrotas foram vendidas caro, duas contra Toledo e uma na repescagem pra Jordy e Christie.
Em WA, Caio bateu Medina, Slater e Jordy, todos candidatos ao título e em grande forma.
Na semi, caiu diante do campeão numa bateria que rende uma bela discussão entre critérios de julgamento.
Aposto na classificação do Caio pra 2020 sem precisar do WQS.


Florence

Querem saber de uma coisa ?
Os braços esvoaçantes do João são aflitivos, na minha humilde e abusada opinião.
Ross Willians, que também jogava os braços pra cima feita uma líder de torcida, poderia tentar consertar esse flerte que Florence tem com a mediocridade.
Dito isso, as curvas são admiráveis…
Quem diria que Florence viria com tanta força nesse início de ano depois de um ano afastado ?
Alguns sinais são claros.
Aquele John John que ficava alheio às mazelas dum combate não voltou pro circuito.
Esse modelo 2019 está disposto a lutar pelas migalhas, disputar remada, surfar feio, escolher onda merda pra fazer a nota e o escambau.
Resta saber, quando ele começar a falhar, quem estará pronto para investir e lucrar nos erros dele.
A corrida hoje já não é mais pelo título.
A corrida é pela coroa na cabeça do havaiano.

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