Ao Mestre com carinho... |
Conhecer pessoalmente alguem que voce idolatra pode ser extremamente perigoso.
A imagem que fazemos e a expectativa que criamos podem nos trair quando voce toma o primeiro gole de cervaja na companhia de alguem que voce já quis ser.
Confesso que já quis ser muita gente.
Desejei a elasticidade do Larry Bertleman, a batida na bola do Zico, as rasgadas do Curren, a guitarra do Santana, o humor do Carlos Eduardo Novaes, a flauta maldita do Ian Anderson e, por que não ? a hablidade do Jack McCoy ao fazer filmes de surfe.
McCoy se eternizou com seu primeiro filme, Tubular Swells (ou In The Search Of Tubular Swells, Dick Hoole/Jack McCoy,1975) mas só fui me familiarizar com seu trabalho quando Storm Riders (David Lourie, Dick Hoole/Jack McCoy,1982) foi exibido aqui no Rio de janeiro no salão de conferências do hoje extinto Hotel Nacional.
Debaixo dos meus 15 anos de idade, aquele evento era quase equivalente a uma copa do mundo.
Não havia surfe na TV e a internet ainda era apenas um projeto restrito ao mundo acadêmico, mesmo os hoje esquecidos vídeo-cassetes era raríssimos porque caros.
O filme Storm Riders foi responsável por colocar nos ouvidos de 11 entre 10 surfistas o hino Down Under do Men at Work, no mundo inteiro, cabe lembrar.
McCoy é o nosso Felllini, seus filmes tem humor, imagens espetaculares e uma história arrebatadora. Não há outro diretor no mundinho do surfe com tantos filmes que podemos chamar de clássicos.
Conheci Jack McCoy numa tarde de outono em 2009, quando Robertinho fez a gentileza de me levar na ilha de edição onde o Gênio tentava terminar sua última obra-prima, A Deeper Shade of Blue.
McCoy foi simpático de mostrar alguns trechos do filme e explicar o quanto aquele projeto era importante pra ele.
É o meu mais ambicioso filme em 40 anos de carreira, esse é o meu presente, disse ele genuinamente comovido.
O problema era que mesmo um mestre tem suas dúvidas e Jack não tinha certeza de como terminar seu filme.
Quer editar ? Perguntou-me em tom de brincadeira.
Tres anos depois, fui convidado para o Festival S.A.L. (Surf e arte em Lisboa) e o filme escolhido para abertura era A Deeper Shade of Blue.
McCoy estava lá para apresentar o filme com toda família, esposa e os dois filhos, sala de cinema lotada e mágica no ar.
A Deeper Shade of Blue é a versão do diretor, pessoal e intransferível, da história do surfe e suas diferentes intrepretações
Ao longo de quase duas horas recebemos uma aula do que convencionou-se chamar de 'Stoke', numa tradução livre seria alguma coisa próxima de entusiasmo. Entusiasmo de pegar onda.
Quando o filme termina, a platéia explode em palmas calorosas, urros, assobios e todo tipo de celebração conhecido. Durante minutos que parecem intermináveis ninguem é capaz de parar de bater palmas, aos poucos cada um dos espectadores se levanta da poltrona e subitamente estamos todos ali venerando aquele senhor alto de barba esbranquiçada e sorriso maroto no rosto.
Não que tenha sido a primeira vez, imagino eu, McCoy passou por isso - ser ovacionado - pelo menos outra centena de vezes com seus quase trinta filmes.
Desta vez é diferente porque todos seus filmes fundiram num só.
Ele e Derek Hynd ficaram 5 anos pesquisando e colhendo imagens de todos filmes e programas de TV que foram capazes de lembrar, o primeiro corte do A Deeper Shade of Blue tinha 4 horas de duração!
De pensar que McCoy teve que deixar de lado metade do filme original até chegar ao resultado hoje exibido mundo afora, um processo muito doloroso quando se dedica tanto tempo e paixão por um ideal.
Taí, McCoy é um idealista.
Shane Dorian contava que trabalhar com Jack era insuportável. Dizia que o diretor só filmava quando a luz estava perfeita, numa hora específica do mar, em determinado ângulo e não deixava os surfistas se desgastarem enquanto não estivesse tudo pronto para filmar do jeito que ele planejara.
Slater ainda fala que McCoy perdia metade da ondas filmando dentro d'água, mas quando acertava, era a melhor imagem que voce teria na sua vida.
Para A Deeper Shade of Blue, McCoy inovou uma vez mais usando uma espécie de moto submarina para filmar no Tahiti. As imagens ficaram tão deslumbrantes que Paul McCartney pediu que ele fizesse um clipe para a música Blue Sway.
Mas não são as imagens do Tahiti que fazem do A Deeper Shade of Blue um filme especial, é o jeito que McCoy tem de contar história.
Está tudo lá, desde o princípio, reis e rainhas havaianos (principalmente rainhas!), Duke, os big riders, pranchões, pranchinhas, monoquilhas, biquilhas, triquilhas, tow in, aéreos, Malibu, Pipe, Teahupoo, Waimea, Shipsterns.
Uma história que já foi contada diversas vezes ainda pode ser contada uma vez mais - e de forma diferente.
Ai Julio,
ResponderExcluirnao podes te desmerecer.
Poderias ter dado uns pitacos na edicao, ja que o que foi feito em Fabio Fabuloso foi contar uma historia de surfe estilo o McCoy porem levado muito alem.
Realmente o cara e um mestre, como mostrou tambem o Fred na "mais vendida" de novembro.
Mas as novas geracoes estao fadadas a pegar o que ja foi feito e levar alem, e foi isso que tu e o Pepe fizeram.
Abracos de um fa de filmes de surfe.
Seu texto traduz muito bem a admiração que o trabalho do McCoy merece, embora bastante bajulador (talvez pela admiração). Não é crítica, por favor. Mas , sim, constatação. A despeito disso (agora é minha vez!! eheheh), você continua sendo ponto fora da curva no que se refere a textos e opiniões no nosso mundinho. Você e o Fred citado pelo colega acima. Pena que você anda bissexto no que refere a produção no blog. Ou seria preguiça??
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