[Coluna publicada em Setembro de 2011]
Mark Twain na crista da onda |
Voce conhece Mark Twain dos classicos que te mandaram ler na escola, As aventuras de Tom Sawyer e As aventuras de Huckleberry Finn.
Nas fotos, o leitor logo nota o belo bigode que dava ar de seriedade ao homens do seculo 19, no caso de Twain parece deboche.
Para alguns dos maiores escritores americanos, Mark Twain é o pai da literatura americana.
E o que isso importa pra voce que equilibra essa revista de surfe no colo enquanto tenta prestar atenção na aula ou briga pra terminar uma pilha de trabalho acumulado em cima da mesa ?
Olha amizade, sem muito drama eu posso afirmar que sem uma ajudinha do Mark Twain voce não estaria lendo uma revista de surfe, muito provavelmente estaria vendo fotos e olhe lá.
Não que Mark Twain tenha sido o primeiro dos escritores a contar historias do surfe, Jack London já tinha escrito, e muito bem, sobre os nativos polinesios e seu passatempo predileto.
Mas London tinha esse perfil de aventureiro, sujeito que não leva desaforo pra casa e nada teme, Twain era quase o oposto.
Como seus dois personagens mais famosos, Mark Twain cresceu a beira do rio Mississipi, na sociedade mais cheia de preconceitos de toda America do Norte.
Escritor de fina ironia, Twain ganhou notoriedade escrevendo diarios de viagem que inspiraram, e ainda inspiram, jovens mundo afora a arriscar o que conhecemos como literatura.
Quando em 1866 Twain partiu para o seu primeiro trabalho como jornalista contratado, 4 meses de viagem nas Ilhas Sandwich (como Hawai’i era conhecido naquele tempo),inaugurou ali um dos estilos mais copiados de sempre.
O jornal Sacramento Union pediu que Twain escrevesse suas impressões sobre aquele mundo primitivo e misterioso do nativos e o que se viu foi a descoberta dum estilo de vida muito familiar ao leitor.
‘Estava inexplicavelmente cansado e queria outra mudança. Meu instinto vagabundo crescia. Por sorte ganhei uma nova e deliciosa tarefa, ir para as Ilhas Sandwich’, escreveu Twain, recordando como foi parar no paraíso, ja faz quase 150 anos.
A palavra vagabundo aparecia ali como uma qualidade, talvez pela primeira vez.
O sarcasmo de Twain com os missionarios, nativos, militares e marinheiros era contagiante.
Ainda existiam reis e rainhas e o grande rei supremo havaiano era o ultimo da dinastia Kamehameha, o quinto, mesmo que hoje empresta seu nome para a rua principal do North Shore.
Para explorar o terrenoTwain alugou um cavalo e cavalgou até não aguentar mais, visitou o vulcão Kilauea durante uma erupção e viu a lava jorrar, foi parar numa praia cheia de ossos espalhados na areia, talvez palco de antigas batalhas e mais importante de tudo, Mark Twain surfou!
Ou tentou surfar...
Seu relato sobre surfar pelado em aguas havaianas é impagavel e finalmente aquele ato religioso, quase mistico, foi desvendado como divertido.
Num lugar nos encontramos com um grande grupo de nativos nus, de ambos os sexos e todas as idades, divertindo-se com o passatempo nacional do banho de surfe (vamos simplificar isso para surfe, ok ?). Cada pagão teria que remar três ou quatro centenas jardas (quase 300 metros) para o mar, (tendo uma pequena prancha com ele), então viramos para a praia e esperamos por uma onda particularmente extraordinaria para apanhar, no momento certo ele iria arremessar sua prancha em cima da sua crista espumada, e e ele mesmo viria voando em cima da prancha como uma bomba! Dificilmente um trem expresso pudesse disparar em tamanha velocidade. Eu tentei surfar uma vez, posteriormente, mas falhei. Peguei a prancha e a coloquei na posição certa, e no momento certo também, mas perdi a chance.
A prancha foi parar na praia em três quartos de segundo, sem ninguem em cima dela, e eu bati no fundo quase ao mesmo tempo, com um monte de água em cima mim.
Nenhum, dos nativos jamais dominou a arte surfar completamente.
Temos aí a primeira descrição duma vaca e apesar disso a frustração de não conseguir dominar a arte de surfar não diminuiu em nada sua satisfação com aquela atividade libertadora.
Mark Twain injetou humor e ironia no jeito de escrever que influenciou Hemingway, Faulkner e até hoje se repete em alguns poucos surfistas que vivem do que escrevem, como Jamie Brisick, Nick Carroll, Steve Hawk e qualquer um que um dia ousou descrever uma viagem de surfe.
O segredo sempre esteve na honestidade e simplicidade ao contar uma historia, sem firulas, nem frescuras.
Não tentar nada que possa nos constranger ou como escreveu Twain,
O Homem é o unico animal que fica vermelho de vergonha.
Quando sou perguntado sobre recomedações de leitura, penso logo nas aventuras do Tom Sawyer e do Huckelberry Finn - e por que não, nas fabulosas aventuras do seu autor, Mark Twain.
Toda viagem começa na nossa imaginação.
{Voce pode baixar ou ler todo livro Roughing It do Mark Twain clicando nesse link}
Huito bom Julinho.
ResponderExcluirR.O
Tese sobre o SURF em WAIKIKI e em Ipanema decadas 60/70. Vale a leitura.
ResponderExcluirhttp://www.revista.brasil-europa.eu/126/Surfing.html