sábado, janeiro 21, 2012

Drogas

[Texto publicado na Hardcore e Surf Portugal. Vem bem a calhar agora que a ASP anuncia que adotou a política da WADA. Curioso ver que nem sempre a WADA é levada muito a sério, mesmo porque o discurso deles é próximo demais da histeria que alimenta a presença militar americana em certos países da America Latina. No Brasil, bem recente é o caso do Bruno Solberg, suspenso por prova dum laboratorio autorizado pelo WADA que acabou perdendo a licença. Bruno recorreu, provou que o teste estava errado. Enquanto briga para voltar ao Volei, a familia do Bruno alega ja ter gasto 140.000 pra limpar seu nome.]

A Mentira


Voce ouve alguem avisando que vai falar abertamente sobre drogas na TV e imediatamente tem certeza que vai ouvir mentira.
Lê uma manchete na capa da revista, tudo sobre as drogas, e ja sabe que vem enrolação.
No surfe nem sempre foi assim.
Final dos anos 60 foi tempo de experiencias psicodelicas, dentro e fora d’água, tudo muito bem documentado pelos filmes, revistas e canções da epoca.
As drogas davam impressão de não fazer tão mal quanto no final dos anos 70 com a chegada arrasadora da cocaína.
Muita gente se perdeu antes, la no LSD, mas o pó escravizou quase uma geração inteira de surfistas.
Isso sem contar com a heroína, uma droga bem menos popular mas muito mais destrutiva.
Alguns desempenhos sob efeito da droga são notorios e até celebrados pela nossa mitologia, como por exemplo a bem documentada vitoria do Jeff Hackman no campeonato de Bells em 1976. completamente alucinado de acido.
Com o boom comercial dos anos 80, as historias que incluiam drogas foram rareando e revelar os habitos de determinados surfistas tornou-se assunto proibido nas revistas por uma simples questão de mercado.
Um belo dia chega Slater e sua turma, um bando de bons garotos que prezam a imagem acima de quase tudo.
Os anos 90 ja começam com duas noticias, uma boa e uma ruim.
A primeira, boa, é que surge um jovem australiano com o surfe ao mesmo tempo tradiconal e moderno, Shane Herring.
Esse rapaz será o primeiro grande rival do Slater da nova geração.
A segunda e má noticia é que Herring em menos de dois anos depois de liderar o circuito mundial e bater Kelly Slater numa final sensacional no Coke, estará totalmente entregue ao vicio e longe do circuito.
Pouco se falou, ou nada.
Aqui no Brasil, perdemos pelos menos 10 excelentes surfistas nos anos 90 pro vicio, a maioria deles afastados do surfe.
Não acredito que o surfe salva ninguem. Taí Andy que não me deixa mentir.
O que salva, ou ajuda a salvar, é uma boa estrutura familiar, apoio dos amigos verdadeiros e vontade de viver.
Isso, infelizmente, não se aprende competindo.
O ambiente competitivo potencializa todo tipo de frustração e complexos, para quem esta perdido, o buraco só aumenta.
Sou contra o anti dopping porque acho uma covardia com essa molecada arrancada de casa ainda adolescente e jogada no mundo a propria sorte.
Ao inves de ajudar um possivel drogado, apenas o estigmatiza pro resto da carreira.
Pouca gente consegue manter seus patrocinios depois de passar por tamanho constrangimento. Neco passou por isso publicamente.
Os outros 4 surfistas punidos no mesmo teste foram preservados porque a droga achada era recreacional, entenda-se maconha ou cocaina, ou os dois - supostamente.
A mentira da punição prejudicou só o mais ingenuo.
Anti doping é lavar as mãos para um problema que é bem maior do que uma mera punição.











2 comentários:

  1. João Guedes1:51 PM

    Muito bom, Julio. Muito bom texto.

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  2. Anônimo3:25 PM

    Julio,
    acredito que depois das recentes presepadas protagonizadas pela direçao da ASP eles apostam na tentativa de mostrar ao mundo que sao uma entidade esportiva séria com a inclusao dos exames antidoping em seus circuitos.
    Outras tentativas frustradas revelaram a fraqueza da entidade e sua completa desorganizaçao.
    Se esses exames forem levados a sério, proporcionarao um giro no ranking maior que os cortes planejados anteriormente e agora cancelados. Só espero que nao beneficie os mediocres.
    abço.
    J.A. ( o outro)

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