quinta-feira, novembro 04, 2010

Luan, Lobo e Andy

[Nessa quinta recebi mais um dos saborosos textos do grande amigo Ricardo Lobo.
O gosto desta vez era diferente e todos sabem porque.
Lobo nos conta uma historia comovente e incrivelmente proxima da nossa realidade.
]


A leve batida na porta da minha casa anunciava a visita de meu vizinho do andar de cima. Luan, 11 anos de idade, entrou perguntando se eu já sabia o que acontecera com Andy Irons. Balancei a cabeça em sinal positivo sem falar nada, percebi que ele precisava desabafar.
O menino estava triste. Com sinceridade de criança e sentimento de adulto, Luan dizia não estar acreditando no que estava acontecendo. Falava da sensação de perder um ente querido, preocupado em não ser compreendido por não se tratar da perda de uma pessoa da família.
Começou a falar da postura de Andy nos tubos, principalmente de back side. Com os olhos molhados, defendeu o estilo de Andy como o mais bonito de todos, que superava até o de Kelly. Falou dos aéreos mais altos. Aproveitei também, para dizer que me impressionava muito a vontade de vencer daquele tricampeão, de como ele conseguia derrubar seus adversários, de como ele trouxe emoção e vida ao circuito numa época que Kelly era considerado invencível. Como um velho marujo, contei ao menino que talvez Andy seja o principal responsável por Kelly não ter abandonado o circuito naquela época. Andy humanizou Kelly ao vencê-lo. Tornou-o uma pessoa ainda mais forte. Kelly sabia que estava ficando mais velho e teria que aprender a conviver com perdas, comuns àqueles que seguem em frente. Andy foi o herói que humanizou o surfe.
Continuamos a conversa, agora ambos com os olhos molhados. Parecíamos duas pessoas amadurecidas da mesma família lamentando a perda de um de nossos entes.
Ele me contou que não conseguiu dormir direito e que pensou no Andy durante todo o dia em sua escola. Que estava se sentindo estranho, pois sabia que o Andy não era uma pessoa próxima. Confessei que estava me sentindo da mesma forma, que isso não acontece apenas com as crianças. Expliquei para ele que isso tudo que estamos sentindo é normal, que o surfe é assim mesmo e que sempre nos levará aos mais diversos sentimentos. Que podemos nos permitir ficar tristes por que estes caras sempre nos fizeram sonhar.



OBS: Luan mora aqui no prédio com sua mãe, a estilista Paloma Saboya. Casada com o músico e surfista Rogê, irmão do habilidoso surfista Rafinha Cury, do Arpoador, Paloma produz algumas peças na Indonésia, o que fez do menino conhecedor da bancada de Uluwatu e freqüentador assíduo das esquerdas do Arpex.








PS - Aqui vai um clipe de presente pro Luan.
Andy mostrando quem manda em Pipe.