quinta-feira, outubro 12, 2006

Liquido sonho delirante

[Publicado na Revista Surf Portugal, Setembro de 2006]



Esqueçam o melhor filme.
O que vi não era melhor nem pior que nada: era diferente.
Mágico…

Eu estava em boa companhia.
George Greenough chamou de fascinante.
Jack McCoy parecia puto da vida: Pôrra, cara, voce fez uma coisa linda!
Alby Falzon, do clássico Morning of the earth, declarou que nunca tinha visto imagens tão maravilhosas.

Liquid Time, filme de 2002 dos irmãos Webber, Greg e Monty, é uma obra de arte e, voces bem sabem, obras de arte não se medem.
São apenas 20 minutos, um tempo que parece perfeito para contemplação.
É um filme de surfe, mas tambem não é, mas é um filme de ondas e onda é surfe dentro da nossa cabeça.
Fiquei tão perturbado com as imagens que demorei mais de dois anos para escrever sobre elas.
Monty Webber diz que a idéia foi do seu irmão Greg, que certa vez o perguntou: quer filmar as micro ondas mais fantásticas que voce já viu ?
Enlouqueceu…pensou Monty.
Entretanto Greg estava certo, aquelas formas continham uma simetria nunca antes vista, faltava olhar (e filmar) com um pé na realidade e outros 25 na fantasia.
A experiência consiste em acomodar-se em frente a TV e deixar levar pelos mais bizarros e maravilhosos 20 minutos da sua vida de surfista.
Com a trilha deliciosa do DJ inglês Tim Lee, tecladista daquela bandinha grudenta dos anos 80, Katrina and the Waves, somos transportados para o mundo que é um misto de Gulliver, Timothy Leary, Greenough, Tom Carroll e Kelly Slater.
Gulliver porque as ondas que aparecem no filme são minúsculas e voce é incapaz de olhar para aquilo sem se imaginar na situação de um surfista miniatura, sozinho naquele mundo improvável de tubos com mais de um minuto.
Leary, o velho chapa que foi responsável pela divulgação e expansão das cucas com aquela famosa droga extinta e pouco recomendável conhecida como L.S.D.
Por que Leary ?
Tenho a nítida impressão de que tudo fugindo da nossa faculdade de compreender e que mexe com sonhos e delírios é associado ao Timothy Leary.
Greenough filmou pela primeira vez as ondas como objeto de contemplação, como se o surfista fosse absolutamente desnecessário.
Carroll e Slater são o nosso ideal de surfista quando nos vemos incapazes de passar por uma situação pesada ou arriscada demais para sobrevivermos – mas o leitor pode substituir pelos irmãos Irons, Hobgoods, Parko, Fanning ou Trekinho.
Se o surfe, como gostam tanto de escrever por aí, é fantasia e liberdade, Liquid Time é mais surfe do que qualquer outro antes dele.
São apenas ondas.
Sim, eu já disse, pequeninas, ridículas ondas dessas criadas pelos barcos na margem, solitárias, aguardando pelo nosso sonho.
Até hoje, ou pelo menos até 2002 quando o filme foi feito, um filme de surfe tinha ondas e surfistas.
Ou seja, nós somos induzidos a pensar as ondas com a cabeça dos surfistas que lá estão, interpretando aquilo como se fossem suas – e são, pois não ?
Dessa vez não.
A coisa é pura.
Cabe ao espectador criar a própria fantasia, seu universo particular, onde os limites são apenas os da imaginação (daí o Leary e o LSD), ninguem interfere no que voce vê.
Afirmei que o surfe é liberdade e nada é mais livre do que nosso olhar.
Os irmãos Webber conceberam uma nova maneira de olhar para as ondas, inverteram o processo do camarada que filma e o que assiste, em Liquid Time os dois se (con)fundem.
Enquanto filma, Monty deixa-se levar por toda história dos filmes de surfe, todos surfistas, todas pranchas e nós, admirando e delirando, experimentamos cada surfista, cada single fin, bonzer, fish…Durante os 20 minutos somos Gerry Lopez, Irons, Ward, Pigmeu, Dora, MP, Shaun, Mineirinho, Occy, Curren, todos e somos o surfista que sempre sonhamos ser

6 comentários:

  1. um surfista olhando o mar,esta vendo ou esta sendo...
    redundante por que já vem escrito nas primeiras linhas toda vez que entramos no teu blog (ui), mas genial sempre (ave pepe).
    é sempre bom lembrar que nesse mundo do olhar, da contemplação, não existe competição, o universo se alarga (ui)e não tem mais diferença entre saquarema e oceano indico, ondas grandes e pequenas, paulistas e cariocas.
    Sempre agradeço, julio, quando voce nos lembra desse lugar do surfe onde definitivamente existe paz.
    abs
    50

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  2. Anônimo9:28 AM

    minha unica supresa é nunca ninguém se ter lembrado disso antes.

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  3. Anônimo3:56 PM

    Imagina então a surpresa dos que viram Colombo botar o ovo de pé...

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  4. Anônimo4:42 PM

    enquanto fumo no meu bong me falaram que existe um tla americano chamado kelly que ganha muitos campeonatos...

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  5. Anônimo8:45 PM

    Onde podemos ver a obra de arte?

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  6. o fime é muito bom, não só pelas ondas de outra dimensão, mas também nas outras duas partes.
    que cena surreal é aquela da galera dançando!!!! e aquele clip com o gavião destroçando um animal enquanto rola uma música romantica e o surfe comendo solto!!!!
    muuuuito doido, além de altas ondas.
    valeu!

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