[Entrevista com o fundador da Revista Visual Esportivo, Nílton Barbosa para Revista Venice, Fevereiro de 2003.
Nílton vivia numa casa ainda não terminada em Búzios, nem luz tinha quando fui conversar com ele num dia insuportavelmente quente no verão fluminense.
Seu arquivo deve valer uma bolada, mas aqui ninguem dá bola.
Nos Istêites valeria um livro do Surfers Journal.
No Salvelindo é provável que os cromos virem comida de traças e ajude de vez a enterrar toda história que a imprensa paulista faz questão de esquecer.
Amado e odiado, Nílton padeceu ao gosto amargo do esquecimento, falecendo sem um centavo e com todos sonhos do mundo.
Gostaria de ter uma foto dele no dia da entrevista mas era muito pouco importante para enviarem um fotógrafo até o remoto estado do Rio.
Nunca esquecerei os olhos dele quando proferiu a última frase como um herói de guerra - trágico e decidido.]
O Pôster mais vendido da revista Surfer na temporada 82/83 trazia um brasileiro, Anônio Martins, o Ianzinho, vacando numa onda linda, de um azul irretocável. A posição era incômoda: Iazinho tinha a cabeça indo, como dizem em inglês, de cabeça primeiro ao fundo de coral de Pipeline.
A foto representava a atitude dos brasileiros à época.
Loucura, ímpeto, largação, completo desrespeito, afirmação, cativante ‘Go-for-it’ como se escrevia.
O autor da foto que rodou o mundo inteiro vinha de Copacabana, Nílton Barbosa, o homem mais poderoso do surfe brasileiro nos anos 80.
Início da década de 80, Av Nossa Senhora de Copacabana, 195, sala 612, Rio de Janeiro, Jaques Nery, decide a pauta junto de Nílton, na dúvida entre Saquarema e Ubatuba, Austrália ou Europa ?
O surfe tinha perdido sua maior representação- e mais autêntica delas até os dias de hoje: a revista Brasil Surf-, mas ganhava uma publicação inspirada no jeito de levar a vida dos cariocas envolvidos com surfe, nascia a Visual Esportivo, assim, sem muita pretensão, como quem não queria nada, trazendo tudo que rodeava o surfe e a praia naqueles tempos atribulados de final de festa da ditadura.
O conceito da revista, absolutamente por acaso, antecipou o mercado, que ainda nem existia, em quase 30 anos, misturando Surfe, Skate, Vôo livre, Wind-surfe e som, tudo da melhor qualidade, apesar da ingenuidade editorial, reunindo o que conhecemos como Board-riding numa iniciativa sem par no resto do mundo.
Nílton Barbosa, garotão de Copa, colaborador eventual da extinta Brasil Surf, arrisca seus primeiros passos com a fotografia:
N – Sou cria de Copacabana, berço do negócio, nascido e criado ali na Miguel Lemos, onde começou tudo.
Sou de 55, fiz 47 esse ano.
A minha entrada no negócio de fotografia foi meio acidental.
Antes do aterro, a Xavier da Silveira era um pico pros dois lados, então eu cheguei a ver o Joãozinho, irmão do Cauli, o João Luís, o J. Calmo e Tranquilo, essa galera surfava de maderite no outside do Baixio. Ali que eu comecei a ver.
Cheguei a pegar onda, sempre dizem que eu nunca peguei onda, essas coisas, existe até uma foto minha, que está até em Ubatuba, eu surfava com uma Planonda, com capa de pano. Isso em Copa, antes do aterro, que era uma onda perfeita, perfeita.
E fui assim conhecendo o surfe através dos meus amigos de praia, a mesma turma do vôlei de praia, que já começavam a fazer incursões ao Pier, Arpoador, e ir para esses lugares com uma prancha de maderite era um suplício. Uma verdadeira caminhada no deserto, era ir e voltar suado com o peso das pranchas e o calor.
Comecei a fotografar de hobbie.
O pai da minha primeira mulher era fotógrafo, veio parar um equipamento muito amador na minha mão, praticamente sem lente, eu tinha 16 para 17 anos. Namorei e casei, fiquei com ela 7 anos e foi através do pai dela que eu entrei na fotografia. Usando até o equipamento dela – dele, no caso, né.
E a partir daí, por um acidente, uma foto minha foi publicada na Brasil Surf:
Porque eu tinha fotos na casa de um amigo meu, na Rua Miguel Lemos, que fazia constantemente umas projeções, só pra rapaziada. O Flávio Dias, que era da Brasil Surf, esteve numa dessas sessões de Slides, gostou das fotos e levou umas fotos desse meu amigo, que tambem era fotógrafo, seu nome era Eduardo Machado, apelido Ratinho. No numero #3 da Brasil Surf veio a ser publicada uma foto minha, a primeira foto: um pôr de Sol no Arpoador, com surfistas no primeiro plano, mas com o nome desse amigo meu
E assim foi o meu contato inicial com a Brasil Surf e daí em diante, embalou.
Quando a Brasil Surf acabou, das últimas 7 edições, as 7 capas eram com fotos minhas.
Com o fim da Brasil Surf, Nílton ficou sem lugar para publicar as fotos, que produzia com maior intensidade e mais avidez do que qualquer outro fotógrafo. Essa compulsão acabaria por leva-lo ao Havaí pela primeira vez na temporada de 77/78, o que, indiretamente pode, ou não, ter causado a morte da BS.
N- Minha primeira ida pro Havaí foi assim:
A editora da Brasil Surf me devia uma grana, então o que foi feito ? Transformou-se esse montante em duplicatas de serviço, em sete ou oito vencimentos, para conseguir viabilizar que a revista me pagasse e eu finalmente pudesse ir ao Havaí. Isso em 77/78.
Como eu não tinha grana, peguei essas duplicatas e, duro e precisando do dinheiro, troquei com o pai da minha namorada, o fotógrafo, que tinha sido advogado do Banco do Brasil por 25 anos. E o que aconteceu ?
O Flávio não as cumpriu, e o camarada – os caras achando que estavam lidando com um advgadozinho qualquer- , um advogado casca grossa, mandou executar as duplicatas e passou o rodo na editora e eu não pude fazer nada.
O que eu poderia ter feito ? falar para ele não cobrar ? eu não tinha esse poder…
Então, quando eu voltei do Havaí, não tinha mais lugar pra publicar minhas fotos.
Esse episódio alterou até a minha história de vida. Logo depois disso me separei da minha mulher, o cara fez uma devassa na Brasil Surf e decretou a falência da editora.
O nome Visual, inclusive, era exatamente o mesmo da sessão de fotografia na BS. O pessoal dizia que Barbosa tinha aproveitado o ensejo e colocado o nome para mais fácil assimilação. Ele diz que não foi bem assim.
N- Conicidência! O nome Visual, na realidade, na época que começou a revista Realce, em formato tablóide, com o Bocão, foi dado por um senhor que trabalhava na gráfica do pai do Anônio Ricardo, a Unigraf, que chamava-se Jesus. Quando explicamos qual era a idéia da revista que queríamos fazer, mais calcada em cima das fotos e etc… , esse senhor, o Jesus, nos sugeriu o nome Visual, nada a ver com a sessão de fotos da Brasil Surf, que coincidentemente chamava-se Visual.
A liberdade chegava devagarzinho, com uma abertura aqui e outra ali, tudo muito sútil, a rapaziada não “’tava nem aí”…
Mas tinha gente que alimentava a ilusão (podem chamar de sonho) de viver do surfe, ou trabalhando com o surfe.
Alguns desses aventureiros começaram na Visual, mas a qualidade editorial, o tempo e uma boa dose de sorte reservariam um espaço maior na imprensa ‘jovem’nacional. Caso do carioca Tom Leão, que deu seus primeiros passos como colunista musical na Visual e hoje está há mais de 10 anos com uma sessão num dos 3 maiores jornais do País, O Globo, chamada Rio Fanzine – em parceria com Carlos Albuquerque, outro que saiu das páginas de um veículo especializado em surfe, o Staff.
Tom Leão – Rio Fanzine (Jornal O Globo)
a primeirísisma coisa que escrevi, ainda como frila, foi a coluna "na cidade"para uma revista musical de curta duração, a Pipoca Moderna. Em seguida, procurei o Nilton, recomendado pelo fotografo Ernesto Baldan, que era meu vizinho, e vendi a idéia de continuar a coluna lá. Ele topou e eu escrevi praticamente até o fim da visual, se não me engano. De certa forma, foi ali que me desenvolvi, enquanto ia fazendo outros frilas pra Bizz, ate que surgiu a proposta de ir pro O Globo, onde a coluna está até hoje
dentro da seção Rio Fanzine. essa ligação surfe-praia faz parte da vida de quase todo carioca desde cedo, natural.
Como a revista era de circulação nacional, eu dava toque geral de coisas que aconteciam em Poa, SP, Nordeste. O gosto era muito variado: de rock brasil da epoca (Ultraje, Ira, bandas de Brasilia etc) ate o hadcore americano e a surf music australiana (e até Dire Straits, era época de Fluminense FM). O gosto da galera do surfe sempre foi muito variado, entao não tinha um só estilo. Mas lembre-se, que, na época, bandas como Hoodoo Gurus e Divynils, por exemplo, eram totalmente alternativas pro Brasil. O legal é que, como faço até hoje, a pauta era minha. eu só chegava lá e entregava pro Nilton, que confiava nas minhas dicas, e levava um lero com o wanderley, que fazia a diagramação e agitava as fotos. Como eu era vizinho do Ernesto, ele costumava me levar em campeonatos de surfe (já fui muito a Ubachuva)entao eu sentia de perto o gosto da galera. eu tabem colaborei com os programas realce e vibração(Cesinha, Bocão, Antonio Ricardo), ate porque, eu era um skatista de street. Quando ia em SP ficava ate na casa do Gyrão...
A coisa andava em velocidade alucinante, mas e o mais importante para a rodar girar e lubrificar, a grana ?
Cadê o mercado, esse animal indomável ?
Bem no começo da Visual, eu não conseguia ganhar um centavo.
Então qual foi a minha idéia ? primeiro eu tinha que criar um mercado para depois poder ganhar dinheiro. Eu já tinha essa consciência.
Eu nunca cobrei o preço de tabela por um anúncio na Visual.
Primeiro de tudo porque os anunciantes eram todos meus amigos de praia – negociar com amigo é a pior coisa que tem.
A revista funcionava assim: a gente tinha que vender umas 20 páginas de anúncios para faturar um “x” e o resto tem que vir da venda em banca.
O vacilo era que eu não tentava tirar tudo que eu deveria nas vendas dos anúncios.
Então o que aconteceu ? quando o mercado cresceu, vieram os outros, fortes, com grana e me engoliram..eu sou oriundo da classe média, se não ficasse esperto, não comia no mês seguinte. Não tinha como eu brigar com o maior parque gráfico da América do Sul, que era o grupo Abril.
No início, eu tive que criar o mercado, quando aquele mercado se solidificou e eu poderia começar a ganhar dinheiro, aí arrastaram tudo.
Tipo: a Abril qiando entrou na parada levou todo mundo que trabalhava pra mim, até Office boy recebeu oferta.
Cheguei a ter tres veículos: Visual Surf, Visual esportivo e Visual Body Boarder.
Quando comecei a usar a gráfica da Abril, a Fluir já tinha dois anos.
Pra segurar a onda das tres revistas aqui no Rio, tivemos que ir para um parque gráfico maior.
Então o que aconteceu ? Rodamos uma tiragem lá de 70.000…uma de 90.000 exemplares…quando rodamos uma tiragem de 134.000 e o maior distribuidor do Brasil, Fernando Chinaglia, através do Seu Ari, garantiu a eles um venda de 100.000 pra Abril, naquela época pra rodar tanta revista voce precisava de uma carta com a garantia de venda e uma carta de fiança.
Essa edição foi a numero 7 , com o Sérgio Noronha na capa.
Nós rodamos 134.000 exemplares e vendemos 127.000
Zeramos várias praças pelo Brasil.
Isso foi o auge do meu sucesso e o princípo do eu fracasso.
Pausa para explicar o que significa vender 127.000 revistas.
A mais vendida, todos sabem, Fluir, roda hoje em média, segundo seu editor, Alex Guaraná, 50.000 exemplares.
Repito: imprimem-se 50.000.
A venda gira em torno de 40% - quando vendem mais de 50% tem festa na editora!
A distância é essa, anos luz.
E depois dizem que o surfe é hoje muito mais popular do que antes.
Tenho minhas dúvidas.
Não satisfeito em mandar e desmandar no rumo dos surfistas brasileiros através das páginas de sua revista (quem tinha patrocínio devia tudo às páginas da Visual), Nilton resolveu, junto do sempre megalômano Rico de Souza, fazer uma equipe que seria considerada, e ainda é, a mlehor reunião de surfistas jamais igualada no Brasil.
Formava assim: Cauli Rodrigues, o mais vertical e voraz surfista do final dos 70 e início dos 80, Valdir Vargas, rei dos tubos, um autêntico havaiano com alma brasileira, ou vice versa, Fred D’Orey, o mais veloz e mais moderno, Roberto Valério, raça pura, aguerrido competidor e Big-rider por vocação, fechando a fatura, o fenômeno, vindo das areias imundas de Santos, com sua porradas tão fortes que dava pra escutar da praia, o futuro do surfe em pessoa, estilo, força e radicalidade, Picuruta Salazar.
Folheando a Visual, recheada com fotos dos maiores ídolos, ficava a certeza que Nílton Barbosa tinha tudo: a maior revista, a melhor equipe e as melhores fotos.
Um fotógrafo aspirante, Agobar Junior, apareceu para mudar pelo menos o topo da lista de melhor fotógrafo, ele nos conta como Nílton o recebeu:
Agobar de Oliveira Jr – Fotógrafo de surfe (o mais talentoso de sua geração)
NILTON BARBOSA, dinosauro brasileiro da fotografia de surfe!, seu nome tem que estar escrito em maiúscula!!! Dizer que ele é uma lenda viva da fotografia de surf no Brasil talvez seja redundante, mas contando com a fraca memória do nosso povo brasileiro, acho nescessário repetir.
Um dos precursores da fotografia em sua área, Nilton não era, ele é um apaixonado pela sua arte, mesmo depois de 30 anos de profissão. Fotógrafo da época que realmente tinha que se saber fotografar, Nilton tinha técnica e feeling. Obturador, diafragma, foco era tudo manual, não bastava apenas
enquadrar que a máquina fazia tudo como hoje. Não tinha essa de "foco automático"! Vamos dizer que era na raça!
Pessoa simples de coração enorme, o que ele mais amava era estar na praia fotografando surf. Falo no passado pois relato minha experiência daquela
época.
Entrei na Visual (Esportivo e Surf) através de um amigo, que eu ensinara a fotografar, mas de contra partida foi ele quem me botou a pilha para fotografar profissionalmente.
A Visual começou muito antes da Fluir, e era líder num mercado sem concorrentes. Um "mercado" que naõ tinha Billabong, Quiksilver, ou Rip Curl (no Brasil). Fabricantes de pranchas, surfe shops pioneiras na venda de artigos para o meio e alguns poucos que se arriscavam a confeccionar calções, eram os apoiadores do sonho de Nilton.
Como todo fotógrafo tem em si um editor(será?!), Nilton foi o melhor editor de fotos por qual passei ate hoje, e já fazem 17 anos. Até porque, nenhuma das revistas especializadas que existe hoje no mercado tem um editor de foto que seja fotógrafo ou tenha feito algum curso na área. Quando aparecia uma
seqüência de fotos na mesa de luz da Visual, ele sempre escolheu realmente a melhor para ser publicada em destaque, com paciência e dedicação. O prossesso de montagem de uma revista era uma coisa muito mais artesanal do que hoje (industrial). A coisa toda era muito mais lisérgica. O Hawaii
parecia um sonho, que Nilton e a Visual todo ano mostravam. Viamos na Visual os nossos surfistas, da nossa terra, se jogando do jeito que fosse, mas se jogavam e Nilton sempre estava lá. A sua revista não mostrava só os top mas sim a realidade Brasil Nut do jeito que acontecia. Tinha muito mais brasileiros nas paginas da Visual do que gringos e o North Shore de Oahu era para ele o paraíso na terra. A Visual foi a primeira revista especializada em surf que abriu as portas para o meu trabalho. Cheguei lá com o melhor equipamento do mundo na época, com algumas fotos do Arpex que fiz para testar o equipo, e Nilton segurou na hora. Isso incomodou alguns, mas o que voce faria?!
Lógico que a ferramenta certa ajuda no trabalho, mas ele sabia que isso não era tudo, e dividiu comigo todo o seu conhecimento(acho), o que foi fundamental para o crescimento do meu trabalho. Meu deu dicas que são sagradas ate hoje. Depois da Visual as portas se abriram para mim.Vida e morte, paraíso e inferno, confiança e traição, Nilton passou por tudo isso, e quando a Fluir surgiu com o poder da locomotiva paulista, ele procurou um parceiro para crescer e continuar o seu negócio na concorrência, mas o parceiro carneiro, era na real um lobo faminto.
A visual agonizou ate os últimos dias.
Quando se esta por cima, todos são amigos e camaradas, mas hoje tenho certeza que vários talvês falem mal, natural do ser humano. Difícil, talvez seja ser humilde e reconhecer o passado.
Com o Nilton e a Visual, vários viram que era possível se fazer revista no Brasil.
No final, de uma forma ou de outra, acho que todos os fotógrafos de surf do Brasil devem algum tipo de reverência ao mestre Nilton.
A situação do país, com as diretas e a misteriosa morte de Tancredo Neves, Sarney assumindo, era de pós coronelismo, representado pelo presidente. O povo vivia entre a satisfação de finalmente poder respirar uma suposta liberdade e a dúvida do que vinha pela frente.
Nesse clima, a Visual começou a afundar.
Por que as revistas vendiam tanto naquela época ?
Hoje, nenhuma vai conseguir repetir.
Plano Cruzado, bigodes do Sarney.
Uma revista estava congelada em 17 Cruzados, acessível pra qualquer um… hoje em dia, com esse preço, ninguem compra.
A capa era uma foto do Gordinho, o Paul Cohen, a maior edição da Visual não tinha uma foto minha na capa….e isso foi um dos motivos que afundou a revista, fora a queda financeira, foi que eu tinha virado editor.
Tinha edição que tinha pouco foto minha.
E eu tinha criado a Visual pra dar saída ao meu trabalho, e de repente eu estava pagando um monte de gente e não sobrava um centavo pra mim…
O que me quebrou foi o seguinte:
Os anúncios congelados, os limites para espaço comercial era pequeno.
Mas a tiragem aumentava e o comercial não pagava a edição.
E tinha gente que não pagava!
A gente trocava por roupa, trocava por anúncio em rádio…
Quando descongelaram os preços, eu finalmente poderia aumentar o preço de capa, mas os caras que me vendiam papel – eu usava o melhor papel - , inventavam aumentos exorbitantes.
Logo quando a coisa clareou, eu tinha acabado de vender 127.000 revistas!
E ia colocar uma nova edição nas bancas.
Quantas rodar ?
O distribuidor, Chinaglia, me recomendou rodar 70.000, eu rodei 100.000 me dei mal.
Se tivesse escutado o cara, tinha vendido quase tudo, mas só vendi 60.000… 60% é uma ótima vendagem, mas o problema eram os compromissos e o tamanho do encalhe: sobraram 40.000 revistas…
Era um negócio de custo de papel e gráfica absurdo.
As minhas descidas de tiragem tambem foram menos radicais do que deveriam ter sido, eu supus que conseguiria segurar um pouco mais a minha venda- e errei.
Aí nisso a editora esvaziou.
Visual São Paulo: eu tive que criar uma sessão chamada Visual São Paulo para colocar os paulistas, que na época, tirando o Picuruta, eram muito inferiores aos do Rio, e ainda por cima tinham o dinheiro.
Mas na hora de editar a revista não dava pra comparar a qualidade do material do Rio com o de São Paulo, o do Rio era sempre infinitamente melhor, dada a superioridade dos nossos surfistas.
Então eu criei a Visual São Paulo, a Visual Sul e Visual Nordeste, pra poder colocar sempre uma fotinho do pessoal que achava que era injustiçado.
Colocava então, o Felipe Dantas, o Kadinho, o Jamil do Paraná…
Eu tive um escritório em São Paulo, na Alameda Ribeirão Preto, funcionando com 11 pessoas, onde eu pagava cada folha de Xerox, que vinha no final do mês e onde pisei só para fechar o escritório.
Eu nunca quis ser dono de nada. A visual era o Ralph Canetti, Jaques Nery e meu irmão, Nílson. Eu queria era fazer fotos, não queria ficar entrevado com burocracias.
Durante a descida, a mesma foto do Ianzinho, aquela lá do início do texto, foi eleita para ser a foto que representaria os 50 anos da revista mais prestigiada da Alemanha, Stern, no poster gigante comemorativo junto da foto do Neil Armstrong, pisando na Lua pela primeira vez no dia 20 de Julho de 1969.
Não é pouca coisa.
Nílton fez mais 1000 Dólares com aquela foto.
Mas o dinheiro foi escasseando, sem revista e perdendo espaço editorial para os novos fotógrafos, com filho pra criar e despesas, Nílton Barbosa recusava-se a sair de cena.
Por descuido, foi preso em flagrante e julgado culpado, mas pela sua defesa conseguiu um benefício sem precedentes: cumpriu pena em liberdade por tráfico.
A revista Hardcore foi a primeira a resgatar a história do surfe registrada por Nílton Barbosa. Zé Roberto Aníbal, editor, pautou e publicou novamente as fotos que o cativaram quando moleque.
Vida que segue, parceiro.
Quando foi perguntado se pretende um dia retomar o espaço que teve certa vez no meio do surfe, Nílton me olha sério, convicto, respira fundo, talvez com um pingo de saudosismo, talvez com rancor, provável com esperança, e diz, olho no olho:
Pretendo, não. Eu VOU recuperar meu espaço.
Pode vim com auto-focus e tudo!
Com o meu talento, meu arquivo e minha disposição ninguem pode.
Pode escrever aí: eu estou voltando.
Fala Julio, leio seu blog a muito tempo mas é a primeira vez que comento. Sou publicitário, do RJ, e seus textos são para mim a prova de que existe vida inteligente no Surf.
ResponderExcluirAcompanhei de perto grande parte desta história que vc narrou pois comecei a pegar onda em 79 mas desde 77 já comprava a Brasil Surf. Tenho até hoje em minha casa praticamente todos os números da BS, da Visual Esportivo e Visual Surf, todos da Fluir e de todas as outras publicações que já passaram por nossas terras.
Sou um "viciado" em revistas desde que me conheço por gente e também pelo Surf desde que ganhei a primeira prancha de isopor, devidamente encapada com tecido.
Escrevo pois este seu texto me trouxe inúmeras boas memórias desta época.
Um grande abraço,
Paulo Gatti
É muito bom lembrar um pouco da estória do surf com alguém que realmente quer contar toda a verdade sem esquecer alguns pioneiros que levaram o surf para o topo da mídia dos esportes de ação.
ResponderExcluirLendo o seu ótimo texto me lembrei de um cara que é a própria estória dos calções de surf no Brasil, calções estes que no final dos 70 dominava todos os picos de surf do Rio de Janeiro, como dizia o anuncio “quem esta no pico usa calções TICO”.
Por onde anda o Tico? Acho que daria uma ótima entrevista!
Abraço,
Paulinho "Paul"
É muito bom lembrar um pouco da estória do surf com alguém que realmente quer contar toda a verdade sem esquecer alguns pioneiros que levaram o surf para o topo da mídia dos esportes de ação.
ResponderExcluirLendo o seu ótimo texto me lembrei de um cara que é a própria estória dos calções de surf no Brasil, calções estes que no final dos 70 dominava todos os picos de surf do Rio de Janeiro, como dizia o anuncio “quem esta no pico usa calções TICO”.
Por onde anda o Tico? Acho que daria uma ótima entrevista!
Abraços,
Paulinho "Paul"
Gostei muito de ler este post. Me lembrou anos felizes no Rio de Janeiro, amigos perdidos, mar, sal, e vento...
ResponderExcluirAchei interessante você ter publicado a entrevista com o Nilton. Eu fui "pseudo-fotógrafa free-lance" por um curto período de tempo, no vôo livre. Foi quando lançaram a Trip, e o fotógrafo que tinha sido mandado pela Visual para a etapa do Brasileiro em Valadares vendeu as fotos para a concorrente. Eu voava, era suporter do Pepê e habitualmente fotografava a moçada. Tinha um material simples mas genuíno. O Otavio Fiães me perguntou se eu queria ceder pra Visual, e foi assim que a coisa rolou. Passaram-se muitos anos desde aqueles tempos, mas deixo aqui registrado meu respeito por quem criou uma revista que marcou uma geração. Valeu! Um abração para vocês.
Oi Júlio,
ResponderExcluirEncontrei o Nilton em Macae qdo minha mãe estava morando lá... Campeonato amador, disputa por estados, fui falar com ele sobre uma entrevista que ele tinha dado nas páginas vermelhas na Insidenow... Ele falando do Paulo Lima, que. Negocio dele era Av. Paulista... E tb falou que não saia mais do estado do Rio para fotografar tav de saco cheio de tdo e ainda chamou o Tiago camarão de camarão rosa que estava disputando o campeonato, figuração... Abs
Conheci os irmãos Barbosa e o excelente trabalho que eles faziam na revista Visual. Fico feliz em saber que eles são reconhecidos como os pioneiros da divulgação e profissionalização do surf no Brasil. Registro aqui o meu respeito a esses irmãos que tanto se sacrificaram para que muitos hoje colham os frutos do seu trabalho! Bravo Nilton e Nilson Barbosa, vocês fazem parte da historia desse esporte no Brasil.
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