domingo, fevereiro 20, 2005

O Verde, o Amarelo e os colloridos

Aconteceu novamente.
Não é de hoje que tentam de todas as formas nos roubar o que temos de mais precioso: Identidade brasileira.
Antes de torcerem o nariz para mais um ufanista alterado, escrevendo por impulso à primeira vertigem de indignação, adiem mais um pouco, até o próximo parágrafo.
O assunto é enfadonho e estranho ao temas do Goiabada, mas talvez seja uma boa hora de variar.
A confederação brasileira de voleibol apresentou as novas camisas das seleções nacionais para temporada 2005, feminino, rosa e masculino, preta.
O patrocinador principal, Banco do Brasil, chiou com toda razão.
Vamos deixar de lado as declarações oficiais publicadas nos grandes jornais pois isso é papel deles.
Aqui tratamos de opinião, que como sabem, cada um tem a sua - diz Millor: 'livre pensar é só pensar'.
Curioso foi a escolha dos dois malandros que vestiriam o 'manto sagrado' na bendita apresentação: Huck e Winitz (seja lá como se escreve esses nomes, dependendo dos humores da Lua e dos numerólogos).
Não por mera coincidência escolheram dois representantes desse país sem caráter, aqui sem sentido de injúria, mas com exclusiva intenção de demonstrar a total falta de referência com essa tal identidade nacional que me referi acima.
Pois, vejamos: Se existe um conjunto de elementos que formam o que podemos chamar de cultura brasileira, o casal de modelos Huky/Wintz ilustra justo o oposto.
O rosa e o preto, ao invés do Verde e amarelo, é a própria vergonha que essa elite 'nouveaux riches' tem de ser reconhecida imediatamente como, argh!, brasileiros.
O novoriquismo tem horror ao artesanal, ao rústico, ao modesto. Para essa horda o Brasil deve ser sempre associado à grandes e suntuosas festas com Dijêis belgas, amigos famosos, vestidos caríssimos, coleções de carros, ilhas particulares, tudo com milionários patrocinadores.
Orgulho, jamais de ser um mulato inzoneiro, sempre em simbolizar a elite globalizada, do Rolex, BMW, Fendi, Tomate seco e mussarela de búfala com rúcula, curso de degustação de vinho, cabelos lisos e silicone.
Afinal de contas, inzoneiro nem é elogio...
A elite brasileira, que já viajou para Europa todos anos, hoje prefere Miami ou, perdoai-vos, Cancun.
Já soube as letras do Chico Buarque de cor em tempos de menos luz e hoje canta, numa sala bem iluminada pelo decorador da vez, o refrão do mais novo sucesso do U2.
Sandálias Havaianas, apenas com o salário depositado em conta, assessoria de imprensa e pequenos desvarios em restaurantes que ainda retêm um pouco da classe que falta pr'essa turma que acha que tudo pode.
Somos bombardeados diariamente com os Big brothers e programas de variedades que minam a vontade do brasileiro de ser brasileiro, tudo orientado pelo grande Deus $$$, que dita as regras e detona o amor próprio que ainda restou depois duma ditadura que recusa-se a nos deixar - continua com o mesmo dono.
Globalizar é passar atestado de 'civilidade', como num discurso do Bush que, naturalmente, é odiado pelos recem chegados ao mundo maravilhoso da (des)informação -ponto garantido com os 'brothers' e as 'eco-girls'.
Um diretor de marketing que tem coragem de dizer não ao deslumbre, resistir ao sedutor charme do 'novo', é logo atacado pelos vassalos do poder esmagador da imprensa transnacional, acusado de reacionário, retrógrado, daí pra baixo- da mesma maneira que são subversivos os americanos que não apoiam a invasão covarde do Iraque.

Um comentário:

  1. Anônimo9:47 PM

    é, júlio, direto no ponto. duas pessoas que não tem nada a ver com o vôlei como modelos. e piores ainda são os comerciais "muderninhos", que simplesmente não passam nada da alma desse esporte. quem diria, mas nessa temos que aplaudir o banco do brasil por recusar que transformem os campeões olímpicos em time fashion. pena que a olympikus vai vender as camisas rosa e preta, sem o logo do banco. e desconfio que vai vender pacas. grande abraço, zé augusto
    ps- já que tocou no assunto, não suporto algumas aberrações como a camisa laranja do fluminense ou a creme do barcelona, mal gosto e desvirtuamento é pouco.
    ps2- turminha de sétima série, passei um pedaço do "trocando as bordas", a molecadinha entendeu o que é arte e escreveu um bocado bem.
    ps3 - tem livro novo do mia couto saindo no brasil, mais uma obra-prima da língua portuguesa

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